O Local Motion Guarujá Surf Pro recolocou o balneário paulista no calendário do Circuito Mundial de Surfe Profissional, mas uma coisa parece não ter mudado nestes 12 anos de ausência. Assim como foi entre 1990 e 1996, o campeonato foi vencido por uma surpresa.
O único estrangeiro classificado para o domingo decisivo acabou faturando seu primeiro título em uma etapa importante do WQS. Ninguém apostava numa vitória do californiano Shaun Ward, 25 anos, mas ele derrubou os três brasileiros que enfrentou no último dia nas boas ondas de 1 metro de altura da Praia de Pitangueiras. Deixou o catarinense Tomas Hermes nas quartas-de-final e o cearense André Silva na semi, antes de bater o carioca Simão Romão na grande final.
O título valeu um prêmio de US$ 12 mil e 2.000 pontos que levaram Shaun Ward da 77.a para a 30.a posição no WQS. Já o vice-campeão Simão Romão, 22 anos, ganhou US$ 6 mil e 1.750 pontos, subindo do 62.o para o 27.o lugar no ranking que classifica os 15 primeiros para a elite do ASP World Championship Tour.
No Local Motion Guarujá Surf Pro, apenas dois surfistas ingressaram neste grupo, o cearense Pablo Paulino e o australiano Shaun Gossmann. O WQS agora parte para a África do Sul, onde na terça-feira começa a tradicional etapa de Durban, que vai ter o brasileiro Jihad Kohdr defendendo o título.
No ano passado, Shaun Ward disputou 21 etapas do WQS, só fez duas finais, não ganhou nenhuma e terminou em centésimo lugar no ranking. Neste ano, o Local Motion Guarujá Surf Pro foi seu oitavo campeonato e ele já tinha vencido um pequeno, de nível 2 estrelas e apenas 500 pontos nos Estados Unidos. Já a vitória no Brasil foi a sua primeira em eventos importantes do WQS.
?Eu nunca tinha feito final em um 5 estrelas, estou muito feliz por ter vindo para cá, não imaginei que poderia vencer e confesso estar até surpreso com a vitória?, confessou Shaun Ward, que comemorou bastante seu melhor resultado na carreira.
Ele repetiu o feito de um outro norte-americano não tão conhecido que em 1993 também conquistou seu único título importante no Guarujá, Joey Jenkins. ?Tenho surfado todo dia, treinado todo dia, tudo para conseguir bons resultados e ele veio aqui, então estou muito feliz. Enfrentei adversários bem difíceis em todo o campeonato, mas competi sempre tranqüilo, sem pressão. As ondas aqui são bem parecidas com as de onde eu moro, Huntington Beach, então não senti dificuldade nenhuma para surfar aqui. Deu boas ondas durante toda a semana e agora só quero comemorar essa vitória, que é um marco na minha carreira?.
Na grande final do Local Motion Guarujá Surf Pro, o carioca Simão Romão largou na frente com uma nota 7,33 em sua segunda onda, mas faltou outra boa para poder somar no resultado e acabou computando uma 4,37. O norte-americano Shaun Ward não teve um bom início, mas apostou nas direitas da Praia das Pitangueiras para conquistar o título com notas 6,83 e 6,10 no placar encerrado em 12,93 x 11,70 pontos.
?Eu tava precisando de um bom resultado para levantar minha auto-estima. Estou malhando direto, treinando sem parar e não estava me dando bem nos campeonatos. Tentei entender o que estava acontecendo, o porquê disso, então resolvi desencanar, esquecer isso tudo e só surfar. Foi isso que fiz aqui?, contou Simão Romão, que elogiou a volta do Guarujá ao Circuito Mundial promovida pela Local Motion e pela Prefeitura Municipal do Guarujá.
?Quando eu soube que ia ter esse campeonato aqui nas Pitangueiras, não acreditei. Quando eu tinha uns 15, 16 anos, vinha muito para cá e tenho vários amigos aqui no Guarujá. Fui campeão brasileiro junior ali na Praia do Tombo, ficava na casa de um amigo, um mês, dois meses, largado mesmo surfando direto aqui nessa praia quase todo dia, então já vim para cá confiante em conseguir um bom resultado. Pena que faltou uma ondinha na final, mas o americano também mereceu a vitória, surfou muito bem o campeonato inteiro e chegou com méritos na final?, enalteceu o vice-campeão do Local Motion Guarujá Surf Pro.
Depois de bater a surpresa Tomas Hermes no primeiro confronto do domingo decisivo, o californiano Shaun Ward surfou a melhor onda do dia para derrotar o cearense André Silva na semifinal. Ele destruiu uma ótima esquerda com várias manobras jogando muita água para arrancar um 9,70 dos juízes e fechar o placar com uma boa vantagem de 16,37 x 13,73 pontos.
André Silva tinha deixado o catarinense Marco Polo nas quartas-de-final e dividiu o terceiro lugar no pódio do Local Motion Guarujá Surf Pro com Rodrigo Dornelles.
?Ele achou a melhor onda da bateria e não deu?, lamentou André Silva. ?O mar está até bom hoje, tem altas esquerdas, só que eu acabei sendo arrastado pela correnteza lá para o meio da praia, onde as ondas estão mais cheias. Tentei remar mais pro canto esquerdo, mas tava muito difícil e fiquei ali meio preso pegando ondas sem tanto potencial. Mas, foi bom o resultado, estou indo hoje a noite para a África do Sul disputar outra etapa mais confiante. Cheguei ao pódio aqui e isso sempre traz uma motivação a mais, sem falar nos pontos que somei aqui que me deram um levante no ranking?, falou André Silva, que saltou do 85.o para o 46.o lugar no WQS com os 1.700 pontos do terceiro lugar no Local Motion Guarujá Surf Pro.
Na outra semifinal, o experiente surfista do WCT Rodrigo Dornelles começou melhor com uma nota 7,33, mas Simão Romão assumiu a ponta com notas 8,00 e 6,83 seguidas.
O gaúcho tentou até o fim repetir a virada que conseguiu nos últimos segundos na quarta-de-final contra o paulista Davi do Carmo e até pegou uma onda para isso. No entanto, ela não era boa, fechou rápido e o placar terminou mesmo em 14,83 x 13,63 pontos, com Simão Romão seguindo para representar o Brasil na decisão do Local Motion Guarujá Surf Pro.
?Todo mundo surfa bem, não dá para dar mole pra ninguém. O Simão aproveitou bem a prioridade, eu escolhi uma onda ruim e nesse meu erro ele pegou a melhor da bateria, então parabéns para ele. Eu queria vencer o campeonato, mas o terceiro lugar foi um resultado legal, o meu melhor neste ano, então estou feliz?, falou Rodrigo Dornelles, que dividiu o terceiro lugar no pódio com o cearense André Silva, com cada um levando US$ 3.6 mil de prêmio e marcando 1.500 pontos no ranking do WQS 2008.
Já os catarinenses Marco Polo e Tomas Hermes, o cearense Adilton Mariano e o paulista Davi do Carmo, barrados nas quartas-de-final, terminaram empatados em quinto lugar no Local Motion Guarujá Surf Pro, que valeu US$ 2.5 mil e 1.300 pontos.
A passagem do WQS pelo Brasil nesta nova perna de junho da ASP South America foi positiva para os surfistas brasileiros. O paulista Hizunomê Bettero era o único na lista dos 15 que sobem para o WCT e ele agora vai para a África do Sul como novo líder do ranking.
Já o carioca Raoni Monteiro assumiu a quinta posição, o carioca Pedro Henrique subiu para o 12.o lugar e o cearense Pablo Paulino é o 13.o colocado na classificação geral das 18 etapas completadas no Guarujá.