Fluir comemora duas décadas de sucesso

Capa da revista em primeira-mão

Equipe da revista Fluir. Foto: Nancy Geringer.
Com uma superfesta na Hípica Santo Amaro, a revista Fluir comemorou na última quinta-feira os 20 anos de existência da publicação, um marco na história do surfe brasileiro.

 

A revista nasceu do sonho de um grupo de jovens surfistas com idade variando entre 22 e 25 anos na década de 80: Cláudio Martins de Andrade, os irmãos Romeu e Alexandre Andreatta, Bruno Alves e Fernando Mesquita.

 

Romeu foi o responsável pela idéia de criar a revista. Ele voltou de uma viagem ao Peru, onde viu um jornal de surf e sugeriu que os amigos se unissem e para lançar uma revista.

 

Naquela época, a Brasil Surf, primeira revista de esportes radicais do país, deixara de ser publicada e a Visual Esportivo, que viria a ser concorrente da Fluir na época, acabava de entrar no mercado.

 

Claudjones trabalhava com publicidade no jornal de classificados Primeira Mão e passou a notar que grande parte das propagandas anunciadas na revista Visual Esportivo era de marcas de surfwear, principalmente de São Paulo. Para dar uma idéia, em 83 cerca de 60% dos anunciantes da revista eram marcas paulistas.

 

Por outro lado, o fotógrafo Bruno Alves já possuía um razoável banco de imagens, graças às viagens pelo Brasil e para várias regiões do planeta como Hawaii e Austrália. 

 

Alexandre, conhecido com “Xan”, tornou-se responsável pelo conteúdo editorial, enquanto Mesquita cuidava da arte. Romeu assumiu a parte administrativa e comercial. Claudio ficou com a publicidade, onde continua até hoje.

 

Alves foi o responsável pela criação do nome Fluir. O fotógrafo leu um livro de meditação e parou na frase: “Fluir para o além”.

 

Inicialmente, a revista cobria bicicross, vôo livre e skate. Por isso, decidiram que o nome seria “Fluir, Terra, Mar e Ar”. Depois, ficou apenas Fluir, um produto da Editora Terra, Mar e Ar.  

 

 

Revista Fluir número um. Foto: Reprodução.
O primeiro número chegou às bancas em setembro de 1983, com tiragem de 25 mil exemplares e apenas nove mil foram comercializados. A segunda edição saiu dois meses depois, em dezembro, e chegou a dar prejuízo para os sócios.

 

Em 84, São Paulo estava no comando do esporte. Com isso, os anunciantes paulistas começaram a apoiar cada vez mais a publicação.

 

Já na edição 6, outubro de 84, Fluir passou a concorrente Visual Esportivo em tiragem e número de anunciantes, tornando-se líder de mercado, posição conquistada até os dias atuais.

 

A seguir, confira entrevista exclusiva com Adrian Kojin, diretor de redação da Fluir, responsável pelo bom momento da publicação e que ele fala das principais mudanças nas próximas edições.


Quais mudanças serão implantadas a partir da edição comemorativa de 20 anos da Fluir?

 

Eu prefiro não adiantar muito, pois quero que as pessoas vejam. É algo a se conferir. Basicamente, o que fizemos foi mudar o projeto editoral acrescentando algumas colunas e repaginamos outras já existentes. Fizemos uma pesquisa com os leitores para saber o que estavam achando. A resposta foi superpositiva, pois mostrou que estão bem satisfeitos com a revista. Então, a pergunta colocada é: por quê mexer em time que está ganhando?

 

O que a gente pretende é nos adiantarmos à vontade dos leitores, surpreendê-los e deixá-los ainda mais contentes. Como a revista é focada no público jovem, predominantemente na faixa de 15 a 24 anos, a gente sabe que o gosto deste público muda constantemente, sempre antenados com as novidades.

 

Procuramos modernizar a revista. O logotipo também mudou. Folheando a revista, dá para notar que o projeto mudou bastante, não foi uma mera adaptação em cima do projeto anterior, o que já fazíamos anualmente. Ela continua tendo bom gosto, privilegiando imagens. São mudanças que nos colocam em sintonia com o novo milênio.

 

Todas essas mudanças foram desenvolvidas pela redação?

 

Inicialmente, a gente pensou em trabalhar com um escritório de design fora da revista. Mas, analisamos e percebemos que nós conhecíamos os problemas e as necessidades. A gente é quem faz a revista, a responsabilidade é nossa. Profissionalmente, foi um desafio que todos gostaram de encarar.

 

 

Capa da revista comemorativa dos 20 anos em primeira-mão. Foto: Reprodução.
O que você pode adiantar sobre as mudanças?

 

Uma das novidades é o cartoon. Vamos ter um ensaio com garotas, que não havia e é um pedido dos leitores. Lógico que não vai ter nudez, será uma garota de praia, aquela menina que pode estar ao seu lado, te acompanhar numa surf trip. Ela virá da praia e vamos selecionar com a ajuda dos fotógrafos. Tudo sempre com bom gosto. Há muito tempo relutamos contra a idéia de colocar mais meninas na revista, mas faz parte do universo… Quem vai à praia, vai para pegar onda e para ver a mulherada. E a gente também adora mulher, não temos nada contra isso.

Teco Padaratz também estréia uma coluna. Com a entrada dele, temos um time de colunistas que considero difícil de ser batido, que já conta com Ricardo Bocão e Fred d’Orey. 

 

Teco já tem uma trajetória consagrada como atleta e agora entra no ramo empresarial, promovendo o maior campeonato de surf já realizado no Brasil, além de ser membro do conselho da ASP e ter acesso a uma série de informações restritas. Acredito que o maior beneficiado será o leitor, que estará bem mais informado sobre uma série de assuntos que só o Teco tem conhecimento.

 

A coluna ‘Clube dos Nove’ permanece?

 

Ela já deixou de existir. Isso aconteceu no momento em que os tops brasileiros do WCT sentiram dificuldade para assinar um texto conjunto, que teria de emitir a opinião de todo mundo, quando nem sempre havia concordância de opinião de nove pessoas.

 

Estava complicado executarem e o estopim foi uma coluna redigida pelo Teco e os outros assinaram. Mas, não saiu de acordo com o que o Fabinho (Gouveia) queria dizer sobre o material das pranchas brasileiras. Ambos não concordavam naquele assunto e isso acabou encerrando a coluna.

 

Mas isso não tem nada a ver com o Teco ter a coluna dele. A gente poderia continuar com o ‘Clube dos Nove’, mas a prática acabou revelando-se bem mais complicada do que a teoria. Na corrida do dia-a-dia, eles não conseguiam fazer uma coluna que representasse a opinião dos nove atletas. Foi muito bom enquanto durou, a gente adorou dar essa força, mas os próprios atletas viram que não tinha mais condições de prosseguir.

 

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Capa da edição especial de aniversário de 19 anos da Fluir, que questiona: o Brasil é o país do surf?. Foto: Reprodução.
E como está a expectativa da galera da revista em relação às novidades?

 

A Fluir tem sido líder de mercado praticamente desde quando foi lançada. A gente quer preparar a revista para ficar mais 20, 40 anos liderando esse mercado e dando sustentação como o principal meio de comunicação impresso deste segmento. A gente está se adiantando à vontade do leitor, da concorrência, oferecendo algo mais aos leitores.

 

Vinte anos é uma data muito especial, qualquer outra empresa há 20 anos no mercado, com a solidez da Fluir, tem que comemorar.  Nosso presente aos leitores e para nós mesmos é fazer uma revista ainda mais bacana. A gente espera cumprir isso e quem vai julgar é o leitor.

 

 Como ficou o resultado final da edição comemorativa?

 

A gente ainda não viu a revista toda pronta. Até onde colocamos a mão, ficamos muito satisfeitos. Todos da equipe deram um pouco a mais, e olha que é bastante. Todos tiveram um prazer extra, um envolvimento enorme. O legal é que aqui todo mundo trabalha com prazer.

 

Nosso editor de arte, Ernani Mesquita, está implantando um novo projeto gráfico. Logicamente a revista foi como um filho. E ele se envolveu totalmente. Na fotografia, vamos dar mais espaço, teremos mais páginas duplas. Isso é algo que fez o editor de fotografia, Luciano Ferrero, envolver-se ainda mais, procurando as melhores imagens.

 

É um trabalho que motiva a equipe, foi superpositivo. Essa revista é especial por vários motivos. Nenhuma revista de aniversário vem com tantas páginas. Serão mais de 170, e ainda coincidiu de contarmos com matérias muito especiais, como a da primeira sessão em Ilha dos Lobos.

 

Em nenhum outro veículo saiu com a qualidade que daremos na revista. Para completar, rolou uma outra sessão, em que conseguimos a foto da maior onda já surfada no Brasil, do Alemão de Maresias, e que os leitores só encontrarão na Fluir.

 

Qual o tamanho da onda do Alemão?

 

Usamos a face da onda como método de medição. Sobrepusemos o tamanho da prancha ou a altura do surfista. No caso, a onda tem seis vezes o tamanho do Alemão. Se ele tiver cinco pés na posição em que foi fotografado, a onda teria 30 pés de face. Sabemos que esse tipo de medida é muito difícil para ser aceito em ondas brasileiras. Mas, é o mesmo critério usado nos campeonatos de onda grande, como o XXL.

 

Para valorizar o feito do surfista, temos que medir a face de uma maneira correta para uma estimativa. Não chega a ser ainda uma medida científica. Por enquanto, é o mais próximo do que podemos chegar. Também temos um mix de matérias que dá a cara do surf brasileiro no momento, como uma reportagem muito legal da nova geração: Adriano Mineirinho, Jean da Silva e Tiago Camarão nas Maldivas, três garotões curtindo esse lugar paradisíaco. Além disso, trazemos nossas tradicionais coberturas de campeonatos.

 

Capa da edição de junho. Foto: Reprodução.
Vai diminuir o espaço destinado às coberturas de competições?

 

Percebemos que o leitor quer competição, mas dentro de um espaço que não domine a revista. Ele quer informação e algumas fotos. Somos umas das revistas do mundo que mais dá destaque às competições e cobertura de WCT. Mas este espaço nunca é maior que as matérias principais da revista, pois elas sim são exclusivas. Por causa do tempo, não conseguimos dar matérias de competições quentes, mas quanto melhor um brasileiro vai na competição, mais espaço terá. A cobertura também depende das ondas. Teahupoo, por exemplo, dá um espaço grande. Se um brasileiro ganhar lá, o espaço será maior ainda. Já uma cobertura de campeonato no Japão acaba sendo pequena. Se um gringo ganhar, fica menor. Temos que trabalhar mais nas matérias exclusivas.

 

Há quanto tempo você está ligado à revista?

 

Há dez anos. Comecei como editor-assistente, depois fui demitido por não concordar com muitas coisas que eram feitas na época e que hoje, por sinal, estou implantando… Era uma outra editora, outra diretoria. Há sete anos voltei e fui efetivado. Aí, fui editor, editor-chefe e há três anos sou diretor de redação.

 

A quem você atribui o sucesso da revista?

 

Não temos uma estrutura muito grande na redação. Já vi pessoas entrarem aqui e ficarem espantadas, porque pensavam que era muito maior. Temos pessoas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Aí está a força da revista. Temos uma equipe de colaboradores que cobre todas as praias do mundo, ou o maior número possível de praias.

 

Hoje, podemos requisitar matérias em qualquer parte do mundo. Este é um trabalho que temos feito há bastante tempo. A força da revista está em trabalhar com uma equipe coesa. E uma das coisas importantes é que a revista distribui renda, pois tem gente que vive diretamente e indiretamente da revista. Uma coisa que não podíamos imaginar há 20 anos.

 

A Fluir é uma das empresas do mercado de maior duração. Ela está aí há 20 anos. Conseguimos atravessar todos altos e baixos do surf e da economia. E o sucesso vem de valorizarmos a equipe, estarmos com as pessoas certas e os objetivos claros. Com a revista de 20 anos, estamos bem contentes, terminamos um trabalho de vários anos e queremos olhar para mais 20. Não podemos parar.

 

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Estande da Fluir na Surf & Beach Show 2003. Foto: Marco Antonio Guimarães.
Quais mudanças foram feitas depois de sua entrada?

 

Nestes sete anos tivemos algumas mudanças significativas, como na parte de colunistas. Fred (d’Orey) entrou, conseguimos formar uma equipe internacional de fotógrafos, que elevou muito a qualidade de fotografia. Isso se dá ao fato de termos fotógrafos internacionais colaborando, além dos nossos, o que aumenta essa concorrência saudável dentro da revista.

 

Em nosso exército, os fotógrafos estão no batalhão da frente, aqueles que tomam os primeiros tiros. 

 

Arriscam o equipamento e a vida deles e estão longe da família. Editorialmente, percebo que de sete anos para cá o surf cresceu tanto que só cobrir o dia-a-dia do esporte já preenche uma revista.

 

Falta espaço para outras coisas, como viagens espetaculares e campeonatos. A gente procura dar espaço aos nossos projetos, correndo atrás de ondas que ninguém tem, valorizando a nova geração com perfis, sempre atualizando o projeto gráfico.

 

Podemos nem sempre ter acertado, mas também nunca ficamos satisfeitos com a revista. Esse talvez seja um segredo de um trabalho bem sucedido.

 

Como você reage em relação às críticas, como no caso do Carlos Burle (quando foi divulgado que o atleta teria pego a maior onda da história e a Fluir questionou o feito)?

 

Temos uma cobrança de uma parte de leitores, que eu diria ser até uma minoria mais barulhenta, pela fato de a revista ser mais patriota em determinadas situações. O que é ser patriota para eles? É não criticar o surfista brasileiro, não colocar em dúvida o feito dele.

 

Para mim, isso não é patriotismo. Porque se você está escondendo uma realidade e se ela não é boa, não se ajuda o país, o surfista nem o mercado. Você tem que apontar a realidade para que a crítica construtiva sirva de incentivo para que aquilo seja melhorado.

 

Sempre somos obrigados, pela profissão de jornalista, a falar o que a gente viu e presenciou. E isso não vai agradar o surfista, patrocinador ou os fãs. Sei que vamos receber críticas no sentido de não sermos patriotas.

 

Mas, sabemos que uma grande maioria dos leitores prefere que sejamos realistas. A revista é patriota, sim. Já fizemos pesquisas para comparar quantas fotos de brasileiros e de gringos foram publicadas e o resultado mostrou que cerca de 80% das fotos publicadas durante o ano são de brasileiros.

 

Geralmente, os gringos que saem são caras como Kelly Slater, o campeão mundial, o vencedor da etapa, pessoas que deveriam estar em qualquer cobertura jornalística.

 

No caso específico do Burle, houve uma divisão de leitores que apoiaram e outros que foram contra. Eu não estava indo contra o Burle, apenas levantei o fato de que não existe um método científico de medição e também não havia um recorde previamente determinado para ser batido. Só que nesse processo dei uma opinião minha, de que a onda do Burle era menor do que a do Mike Parsons no ano anterior.

 

Eu e o Burle nos entendemos perfeitamente. Lógico, que ele preferia que eu tivesse confirmado o fato e ele acreditava realmente que a onda dele era a maior. Mais para frente foi estimado o tamanho e a onda do Burle deu 2 pés acima que a onda do Parsons. 

 

E ainda foi considerada uma parte da onda que na foto não fica clara. Agora, 2 pés numa onda daquele tamanho pode ser considerado empate técnico, não dá para determinar.

 

Acredito que a polêmica foi boa, pois colocou em discussão o método de medição e valorizou a onda do Burle, porque ela foi confirmada por um painel de especialistas. E isso não tinha sido feito antes.

 

Não se pode bater um recorde sem haver um anterior. Antes é preciso estabelecer um recorde, para depois ser batido. Patriotismo é apontar as qualidades e defeitos do país e ver o que é melhor. Vamos elogiar na hora de elogiar e criticar na hora de criticar. E é isso que os leitores esperam da revista.

 

Como você vê a importância para o mercado surfwear da principal publicação do esporte comemorar 20 anos?

 

Isso dá uma dimensão da força do mercado. Diferente do que acontece em outros esportes, no surf a mídia impressa continua a mais importante. Quando surgiu a revista nunca se imaginava a proporção que o surf tomaria na televisão e internet.

 

Se a Fluir está comemorando 20 anos, é sinal de que o mercado está forte, pois é uma parceria. É uma prova da força de como o mercado cresceu e evoluiu. É um motivo de orgulho para todo mercado, pois mostra sua solidez.

 

Como você se sente estando a frente de uma revista com 20 anos de história?

 

Sem dúvida é realização profissional. Quando cursei a faculdade de jornalismo nunca imaginei que trabalharia numa revista de surf. É gostoso olhar para trás e ver a trajetória, me sinto realizado.

 

Mas, é sempre importante destacar que a revista é feita por uma equipe. Fico feliz por estar trabalhando numa equipe com pessoas tão legais. Outra coisa bacana na minha história com a Fluir, é de que quando vim para a revista eu tinha 30 anos, até então, minha única preocupação era pegar onda, viver o mais próximo possível do mar.

 

A revista me permitiu numa época da minha vida, em que eu precisava ter uma renda fixa, cuidar da família, que eu continuasse muito próximo do surf. Consigo imaginar poucos trabalhos em que eu teria essa satisfação. Por isso eu agradeço ainda mais por estar justamente nesse momento dessa revista, comemorando 20 anos.

 

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