Rip Curl Pro

Guerreiro potiguar

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Jadson André chega embalado a Peniche depois de dois resultados brilhantes. Foto: © ASP / Cestari
 

Líder do WQS e cada vez mais maduro como pessoa e como surfista, Jadson André vive um momento especial em sua carreira. Aos 24 anos, o atleta revelado em Natal (RN) disputa a penúltima etapa do WCT em Peniche, Portugal, embalado por dois brilhantes resultados.

Em Hossegor, França, Jadson conquistou o vice-campeonato na batalha vencida pelo havaiano John John Florence. Na sequência, foi a Cascais, Portugal, defender o título da etapa Prime do WQS. Sedento por vitórias, o potiguar não vacilou e manteve o reinado no pico.

Atualmente em vigésimo lugar no ranking do WCT, Jadson passa a caçar outros objetivos nesta reta final do Tour. Ele quer terminar o ano no mínimo entre os Top 16.

Nesta entrevista exclusiva, o atleta fala sobre as dificuldades na temporada, seus objetivos, a ascensão do conterrâneo Italo Ferreira no WQS, e termina entrevista mostrando toda a sua garra e determinação: “Só vou sossegar quando alcançar o meu maior objetivo de todos, que é ser campeão do mundo”.

Pelos comentários aí em Portugal, quando acha que quando deve rolar o evento?

Eu acredito que o campeonato vai terminar na segunda ou na quarta-feira. Há chance de rolar umas baterias amanhã (sábado), e quem sabe até umas do round 3. Mas eu acho muito difícil, talvez só o round 2 e olhe lá.

Torce para que o evento seja todo em Supertubos ou gostaria de competir em outro pico?

Eu quero muito que o evento todo role em Supertubos e com condições clássicas. Eu acredito que na próxima semana, de segunda até quarta, as ondas vão estar incríveis.

Você teve um ano muito difícil, mas vem arrebentando na Europa. Sente que algo melhorou em seu surf, em sua cabeça, ou as ondas daí ajudam no teu desempenho?

Eu vinha tendo e ainda estou tendo um ano difícil. O meu seeding é muito baixo e eu venho competindo contra os Top 5 e 10 em todos os eventos. Ganhei a maioria das primeiras baterias do round 1, mas não estava conseguindo passar do round 3. Se as pessoas olharem o histórico deste ano, eu ganhei muitas baterias no round 1 dos top seedings, mas o round 3 estava acabando comigo. Eu sentia que estava surfando bem e muito confiante, mas é não fácil ganhar dos Tops! Eu sabia que só tinha que continuar focado e trabalhando muito. E é exatamente o que estou fazendo agora, é o que eu vinha fazendo no começo do ano. Eu acho que o que mudou foi que a minha vontade de 100% passou a ser 1000%. Eu só penso agora em ganhar baterias. Também tirei tudo o que me deixava fora de foco. Dei uma mudada na minha vida pessoal, etc. E agora eu só penso em ganhar baterias. Desde Trestles eu durmo e acordo pensando em competir e ganhar baterias. Coincidência ou não, as coisas começaram a mudar, e os resultados a aparecer. E vou continuar fazendo exatamente as mesmas coisas que venho fazendo desde Trestles e espero que continue neste ritmo. Aprendi que não existe meio termo. Ou você faz ou não faz. E agora eu estou aqui pra fazer, viver só a minha profissão. E também eu coloquei muita pressão em cima de mim, coisa que não funciona comigo. Daí tirei todos os problemas da minha vida e passei a relaxar e surfar feliz.

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Potiguar quer terminar o ano no mínimo entre os Top 16. Foto: © ASP / Kirstin
 

Antes de começar a temporada, qual era o teu objetivo? Existia algum plano ou foi deixando as coisas acontecerem?

Eu tenho três objetivos este ano. O primeiro é o Top 10, o segundo é Top 16, e o último que se passava na minha cabeça era me manter na elite. Eu acredito muito mesmo no meu potencial e acho que se você não acreditar em você mesmo, em um esporte tão individual e competitivo como o surf, lutando contra os 34 melhores surfistas do planeta, é melhor nem entrar, porque você vai ser engolido. Eu recebi, e ainda recebo, muitas mensagens de apoio este ano. E uma delas que me marcou muito foi de um cara que me mandou uma história que é um pouco longa, mas eu li toda e vou resumir: quando você tem um objetivo você tem que querer muito aquilo, acima de qualquer coisa. E depois do evento no Brasil, a única coisa que eu queria era passar aquele round 3 mais do que qualquer coisa na minha vida. Consegui e vou continuar neste meu foco e fazendo exatamente as mesmas coisas.

O que faltou para ter melhores resultados nas etapas anteriores?

Eu vinha perdendo baterias surfando bem. Porém, as coisas não estavam encaixando. E como falei, eu não estava completamente focado em mim mesmo. Então eu resolvi (antes tarde do que nunca) focar 1000% antes que fosse tarde demais. E eu preciso muito trocar meu seeding, alcançar uma colocação melhor para não competir contra os top seedings muito cedo. É diferente pegar estes caras no round 5 do que no round 3. No quinto round você já tem um 9º garantido.

O que está achando dessa nova gestão da ASP? O que melhorou pra você no Circuito?

Eu acredito que a ASP nunca esteve tão boa, pelo menos com a gente. Eles estão proporcionando coisas incríveis. Só tenho a agradecer a todos da ASP e espero que o nosso esporte continue crescendo assim.

Gabriel Medina está muito perto de conquistar o título. Quando vocês enfrentam algum rival dele nessa reta final, a vontade de ajudá-lo influencia na água?

Eu acredito muito que Medina vai conseguir este ano. Estamos todos na torcida por ele. Pra falar a real, eu não sei dizer! Independente de quem a gente pegar, vamos dar a vida para vencer. E se for um dos que estão na briga pelo título, e ganharmos dele, será um gostinho diferente. Eu tirei Joel na França e ficou mais difícil pra ele. Foi bom, sim, para o Medina, mas foi muito melhor pra mim mesmo.

Você pode ganhar um conterrâneo e companheiro de equipe na próxima temporada, Italo Ferreira. Como é ter essa parceria no Tour?

Muita gente no circuito deu risada de quando eu disse que Italo é um dos melhores surfistas do mundo. E tem um dos cinco melhores backsides do mundo. Eu disse que ele iria entrar este ano ainda e riram da minha cara (muitos risos). Eu acredito, sim, que ele ainda vai entrar este ano e vai ser demais se ele conseguir. Eu estou torcendo muito que dê tudo certo. Eu sempre vi a sua evolução, e ele ainda acima de tudo vai evoluir muito mais. Daqui a uns quatro anos ele será Top 5, Top 10, se continuar na mesma pegada.

Você já está garantido pelo WQS. Essa reta final está mais tranquila pra você ou o objetivo agora é manter a vaga pelo WCT?

Eu já alcancei o meu último objetivo. Porém, ainda quero muito ter dois bons ou excelentes resultados até acabar o WCT. Querendo ou não, te passa uma certa tranquilidade. Mas não me deixa satisfeito só estar na elite. Eu venho trabalhando muito, com muito foco e seriedade, abrindo mão de muitas coisas mesmo para alcançar os meus objetivos. E só vou sossegar quando alcançar o meu maior de todos, que é ser campeão do mundo. Não será nada fácil, nunca nada foi fácil, mas eu sei o que tem que fazer e vou trabalhar muito mais, focar muito mais para alcançar. Em nenhum momento quero parecer arrogante nesta resposta, só quero mostrar que eu estou aqui para bater de frente e querer ser o melhor, e não um cara que está aí para completar a tabela das baterias.