Depois de me dedicar um mês e meio à procura de ondas fora da costa no Nordeste do Brasil, tive que cancelar o projeto por falta de infra-estrutura. Aconteceu de tudo.
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Muito vento e motores quebrados do barcão para 40 pessoas. Ele daria apoio ao jet ski e ao barco inflável pequeno, que servia de base para fotógrafo e cinegrafista, até que as duas horas de uma madrugada sem lua, o barqueiro deu de frente em um banco de areia.
Tivemos sorte. Ninguém se machucou ao tomar o tranco e ser projetado contra a estrutura do barco. Com o barco de lado, uma
onda nos pegou em cheio e quase desmontou a pesada embarcação
de madeira.
Na sequência encalhamos mais duas vezes e depois o motor do barco quebrou. Ficamos à deriva a 25 quilômetros da costa, enquanto o comandante vomitava e pedia socorro pelo rádio.
Mandei caminhonete, jet ski e equipamentos, tudo de caminhão cegonha para ter uma boa infra-estrutura. Investi tempo e dinheiro para localizar boas ondas em áreas tecnicamente perfeitas, mas tive que assumir o prejuízo e tocar a vida para frente.
Depois de dar muita risada com o Calunga saí de Natal (RN), quando recebi um email do Alexandre Haigaz e do Jorge Pacelli, dizendo que Jaws quebraria em quatro dias. Eu nem cheguei direito em São Paulo e peguei outro vôo para Maui, Hawaii.
Este ano operei o joelho e ainda sem estar 100% fui mais uma vez encarar o desafio dessa onda. “Nenhuma onda tem essa pressão e velocidade”, diziam Jorge Pacelli e Romeu Bruno ao nos pegarem no aeroporto, depois de 24 horas voando entre escalas.
Quando você embarca para pegar essas bombas, existe uma série de preocupações com sua integridade física. Para encarar esta onda é preciso ter mais que do que surf no pé. A preparação física e um treino super específico são necessários para aproveitar ao máximo o que essa onda pode oferecer, sem ficar adrenalizado como muitos surfistas ficam quando essa bomba estoura na bancada.
Às quatro horas da madrugada, depois de acordar ainda com o corpo dolorido em função dos efeitos do jet-leg e a diferença de fuso horário de oito horas entre Brasil e Hawaii, comecei a abrir o pulmão com técnicas de apnéia passadas pelo meu amigo Alexandre Haigaz “Dardak”, discípulo do Christian Dequeker, nosso professor.
Durante meia hora fizemos vários exercícios e eu nem imaginava o quanto seria importante este ?aquecimento?. Depois de sair com meu amigo Haroldo Ambrósio pelo portinho de Maliko, onde os jet skis entram na água, seguimos em direção ao pico de Jaws.
Fiquei filmando a performance da galera, principalmente dos brazucas, que a cada ano mostram mais intimidade e performance nessa onda, até que o Pacelli me chamou para começarmos a session. Jaws varia muito de tamanho, peguei três ondas intermediárias e aí veio a bomba.
Foi bizzarro o caldo que tomei em Jaws! Tudo filmado com minha câmera do capacete. O Hawaii estava sendo bombardeado por uma tempestade de vento, que chegou a 60 nós, quase 100 quilômetros por hora.
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Quando eu estava entrando em uma das grandes ondas do dia, depois de largar o cabo de reboque do jet ski, um pouco antes do ideal, o fortíssimo vento me segurou e eu não consegui passar a onda surfando. Tive que descer reto para não acontecer o pior e tomar a onda de lado, onde o lip cai na base.
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Resultado: a onda da série me acertou em cheio. Eu fui para o fundo, tomei uma super vaca e depois de apanhar muito, cheguei à superfície já meio roxinho de tanta apnéia. Olhei e logo vi que a outra onda de trás iria me pegar também.
Tomei a segunda onda bem na zona de impacto, com a água toda
branca, cheio de bolhas de ar. É como tentar nadar na espuma da cerveja, você vê o sol e o céu e não pode respirar.
Foi terrível esse segundo caldo. O batimento do coração era alto e a
onda não me largava. No preto da profundidade e com todas as piruetas sub-aquáticas você se sente um nada.
Enquanto isso acontecia, meu corpo era submetido às mais fortes pressões que o ser humano pode experimentar quando falamos em força do mar.
Eu pensava: calma Formigão, relaxa que vai dar tudo certo. Para encurtar a história, quando voltei à superfície, tomei outra onda na cabeça, três no total, até que o jet ski chegou para me resgatar. As imagens do vídeo ficaram inacreditáveis, tudo sem corte.
Depois saí comemorando comigo mesmo pela intensidade do acontecimento e por ter conseguido administrar a situação com calma. É como você encarar um vale-tudo, sabe que vai levar uns trancos mas agüenta toda a pressão física e psicológica, o verdadeiro Bad Boy style.
A receita básica é ficar o máximo possível na paz, não dá para lutar contra. Então é curtir essa loucura toda que o corpo, a mente e o espírito passam. Ainda tive que pegar minha prancha quebrada nas pedras, aí foi mais uma adrenalina.
Todas as imagens irão para o meu programa nos canais ESPN. Valorizando nossa importante parceria com o site Waves, coloco o vídeo sem cortes para vocês curtirem o que é uma vaca em Jaws.
E lembrem-se que depois de esquiar em verdadeiras marolas gigantes carregando uma prancha de 10 quilos, o corpo já entra em forte exercício, com alto batimento cardíaco. Nessa situação de altíssima pressão com explosão de água, a referência é bem diferente de simular o caldo na frente do monitor.
É por isso que eu digo: No XtremeTV, o nosso reality show é sem ócio nem novela. É a realidade dos fatos no momento esportivo.
Abraços e boa apnéia!
Formiga é patrocinado pela Bad Boy e conta com apoio da Ogio, Tick Deck e Gzerotec. Para assistir esta e outras aventuras deste atleta repórter acesse o site Planeta EXPN . O programa Xtreme TV vai ao ar de segunda a sexta às 14 horas, na ESPN Brasil.
Para obter mais informações, não deixe de conferir também o Blog do Formiga.