Frank Zappa ressuscitado em vários lançamentos

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A imensa discografia de Frank Zappa em CD começa a sair no Brasil. Depois de “Ship Arriving Too Late To Save A Drowning Witch” (1982), lançado pela Sony em 96, chegou a vez de a Eldorado Discos desempacotar um acordo com a gravadora norte-americana Rykodisc e desovar “Grand Wazoo” (1972),”Zoot Allures” (1976), “Sheik Yerbouti” (1979) e “Cheap Thrills” (1998).

E não é só isso. Desde setembro saem quatro novos lançamentos por mês e a previsão é lançar 32 CDs até março do ano que vem.
Morto por causa de um câncer na próstata em 93, aos 50 anos, Zappa foi um dos poucos contemporâneos dos Beatles, Rolling Stones e outros grandes nomes dos anos 60 a construir carreira sempre inovando e jamais se acomodando a estilos e rótulos.
É difícil categorizar sua música, pois ele sincronizava-se à energia do rock, ao horizontalismo da vanguarda, ao ecletismo do jazz e ao lirismo dos clássicos.

“Grand Wazoo” compõe, ao lado dos álbuns “Hot Rats” e “Waka Jawaka” , os pilares jazzísticos desenvolvidos ao longo da carreira de Zappa: modernos arranjos para big bands em melodias afinadas com o jazz mas direcionadas de maneira que você nunca sabe o que pode acontecer.

“Grand Wazoo” não chega a ser literalmente inclassificável, mas nem por isso se trata de um trabalho de difícil assimilação por quem curte sua face mais roqueira.Suas longas faixas percorrem misteriosos percursos musicalmente opostos, como jazz e música erudita, com destaque para a faixa “Eat That Question”, em que o piano elétrico de George Duke marca uma das mais empolgantes introduções da música zappiana, para a entrada de um arregaçante solo de guitarra de Zappa – que sinaliza sintonia com outro importante álbum da mesma época, “Birds Of Fire”, da Mahavishnu Orchestra, do extraordinário guitarrista John Mclaughlin.

Por outro lado, “Zoot Allures” não apresenta igual elaboração e acabamento, mas traz vários hits pra lá de underground, já que ele jamais foi um sucesso de rádio. Da punk “Wind Up Workin? In A Gas Station” à new wave “Disco Boy”, nada escapa ao faro atento às novas tendências de então. Mas é em “The Torture Never Stops” que a genialidade de Zappa toca mais alto.

Nesta faixa o homem toca, além da guitarra, baixo e teclado, e faz um vocal histérico e histórico sobre uma base de blues psicodélico, com aquele estilo quase rap de narrar que o tornou famoso, para contar a história de um presidiário que convive com “ratos, lixo e vômito no chão”.

“Sheik Yerbouti” também vai por essa linha punk, new wave e tudo mais que você possa imaginar, com a diferença que é ao vivo, e, detalhe, apenas material então inédito. “I?m So Cute” é punk até a crina do moicano mais tomado; “City Of Tiny Lites” é uma porrada viajante de progressive-jazz-rock; “Yo? Mama” traz um solo de guitarra com dissonâncias certamente inexploradas por qualquer um que não possua o rótulo de gênio e por aí vai.

Já “Cheap Thrills” é o menos importante dos lançamentos. Menos pela música, claro, sempre atraente em se tratando de Frank Zappa. Só que este é um item nem tanto apreciado e recomendado por conta do formato do CD, pois reúne basicamente faixas da coleção “You Can?t Do That On Stage Anymore”, composta de seis CDs duplos com gravações ao vivo. Ou seja, é coletânea de coletânea. “Zomby Woof” e “The Torture Never Stops (na versão original com Captain Beefheart nos vocais), são duas das faixas mais destacadas.

Se você é um fanático por Zappa, essa é a grande oportunidade de ampliar seu quiver de material dessa figura controvertida, incompreendida e pouco divulgada pela mídia em geral. Para quem não conhece, o conselho é dropar tranqüilo. É só ficar ligado porque vai bombar série de tudo quanto é lado e você corre o risco de ficar desorientado com tanta informação musical maluca ganhando nexo em seu cérebro inquieto.

Lançamentos até março de 99Setembro: “One Size Fits All”, “Apostrophe”, “Hot Rats” e “Does Humor Belong In Music?”
Outubro: “Joe?s Garage”, “Broadway The Hardway”, “Bongo Fury” e “Over-nite Sensation”
Novembro: “Waka Jawaka”, “Zappa In New York”, “Chunga?s Revenge” e “Studio Tan”
Dezembro: “Them Or Us”, “Thing-Fish”, “The Man From Utopia” e “Weasels Ripped My Flesh”
Janeiro: “Burnt Weeny Sandwich”, “Uncle Meat”, “Lumpy Gravy” e “We?re Only In It For The Money”
Fevereiro: “Absolutely Free”, “You Can?t Do That On Stage Anymore Vol. I”, “Cruising With Ruben & The Jets” e “Freak Out!”
Março: “Sleep Dirt”, “Tinseltown Rebellion”, “You Can?t Do That On Stage Anymore Vol. II” e “You Are What You Is”

Mais informações: www.zappa.com .

Sepultura – “Against”
(Roadrunner Records)

Saiu enfim o tão esperado CD do Sepultura depois da saída de Max Cavalera. Não chega a ser o lado b de “Roots”, o disco anterior, cheio de referências à temas brasileiros, mas não deixa de trazer balanço tropical no meio da porradaria indiscriminada. E também não vamos ficar aqui alimentando polêmicas e comparações com o Soulfly, a nova banda de Max, afinal, o que importa é a música.
O novo vocalista, o rasta Gerrick Green, segurou bem a barra de substituir Max, mas quem arrebenta mesmo é o guitarrista Andreas Kisser, cada vez mais criativo, com riffs curtos e rebeldia até a última corda, com explosões de delays desfigurados pela velocidade impressionante da bateria do surfista Igor Cavalera.
Os malucos contam com as participações de Gordo, do Ratos de Porão, na faixa “Reza”; Jason Newsted, baixista do Metallica, na faixa “Hatred Aside”, e o percussionista japonês Kodo em “Kamaitachi”.
Quem é fanático por paranoise não vai se arrepender quando ouvir no talo. Recomendado para ouvir a caminho de mar overhead. Assim você vai se adrenalizando pelo caminho.

Beastie Boys – “Hello, Nasty”
(Emi-Odeon)

Menos cabeça que “Check Your Head” e “ill Comunication”, “Hello, Nasty” flerta com o pop mas nem por isso se rende a ele. Pelo contrário, o Beastie Boys segue como ícone branco da cultura hip-hop, respeitado pelos manos pretos e idolatrado por um crowd que inclui surfistas, skatistas, snowboarders e até mesmo roqueiros pretensamente intelectualizados.
“Intergalactic” já vem sendo bastante tocada nas rádios e o clip é um dos mais exibidos na MTV. É pop à beça, mas muito legal, bem como as faixas “Eletrify”, “Body Movin”, apenas para citar duas das 22 que recheiam o CD.
A grana gasta neste disco é um investimento garantido em horas e horas de viagem que não chega a ser intergalática, mas que te afasta com certeza de todos os seus problemas terráqueos.

Loja recomendada:
BOOMERANG
Rua Augusta, 2.203 / Loja 14
Tel/fax: (011) 853-0924