O maior tsunami de água no chope de Slater, não foi a vitória de Buchan na França. Pelo contrário, em Hossegor o campeonato foi bem emocionante, sempre a matemática fazia parte das baterias e dos resultados para os que ainda tinham alguma (micro) esperança em dificultar a vida do inevitável homem dos nove títulos mundiais.
A suposta contusão de Mick Fanning e a ausência com cara de protesto dos irmãos Irons para a etapa espanhola, me faz crer que não somos só nós brasileiros que não sabemos perder. Parecia mesmo que essa quantidade de ausências de peso era uma tentativa de tirar um pouco do brilho do nono, deixar o caminho até mais livre para que, no frio de Mundaka, longe de calorosos fãs (como são os brasileiros), com inúmeros convidados de nível mais fraco para o evento, que Kelly sentisse que chegou a hora do adeus, não sentir mais graça no vencer, achar mesmo que chegou a hora de pendurar os leashes e deixar o circuito mais homogêneo o ano que vem.
Realmente, se tirarmos Slater da ponta do ranking, a situação fica toda embolada, disputada e chegaríamos às duas últimas etapas com mais emoção. Contudo, o brilho de ser o vice não contenta a maioria.
Mas a vida não é feita de suposições e o cara veio mesmo para derrubar todos os recordes do surf competição. Tornar-se, cada vez mais, um dos maiores ícones do esporte de todos os tempos e deixar todos com as reações mais estupefatas, sejam seus admiradores incondicionais, sejam seus adversários nove vezes mais frustrados.
O início do campeonato no beach-break de Sopelana realmente deu sono. Ondas gordas e mexidas onde, nem nossos atletas peritos nessas condições, se encontraram no mar. Mas mesmo nas fases seguintes, quando Mundaka acordou com tubos e manobras em alta velocidade, o clima esteve longe de ser empolgante. Slater avançou facilmente às oitavas de final e sagrou-se campeão. Fechava-se ali a porta do circuito e começaram as especulações já para o próximo ano.
Claro que nós brasileiros ficamos na expectativa de receber o Rei em nossa etapa. Mas ele já avisou que é pouquíssimo provável que venha. Em todas suas entrevistas ele disse que precisa descansar, que prometeu para a namorada e para a família um tempo junto a eles. O assédio dos fãs, da imprensa e as ondas pouco empolgantes do Brasil é tudo o que ele não precisa agora. Infelizmente.
E agora aquele papo do décimo título, dos 10 milhões de dólares que ele receberá caso alcance essa marca, etc. Esse tipo de zunzunzum tira ainda mais a graça na luta pelo vice campeonato, mas faz parte do marketing em cima do mito. Uma parte gosta, outra detesta.
A atuação dos brasileiros, seja em Sopelana, seja em Mundaka, foi praticamente igual às etapas anteriores, ou seja, Mineiro garimpando posições na ponta. Heitor Alves as posições intermediárias. E o resto do pelotão quase pedindo pra sair pela portas dos fundos.
Até se Mineiro levantasse esse caneco eu viria aqui dizer que ?foi, mas não foi legal?. Todo mundo meio nem aí, climinha de diversão, tapinhas nas costas. Slater surfando ondas de dois metros com pranchinha 5 11… Não sei se é assim que os torcedores querem ver algum brasileiro ganhando no estilo ?café-com-leite?.
Agora todas as atenções se voltam para as etapas aqui no Brasil, WQS e WCT vão chegar com força total agora em outubro e novembro.
É certo que com esse título antecipado muitos atletas arrumarão desculpas para não vir, muitos que vierem será em busca de um relax, da farra, das mocinhas de biquíni pequeno, etc.
Em compensação no WQS é a reta final e o bicho vai pegar, são três grandes campeonatos e muitos pontos em disputa. Ainda dá pra vários atletas buscar a classificação para o Dream Tour do ano que vem.
Para os que conseguirem, também já é bom ir torcendo para que Slater abandone o tour, pois, no ritmo que foi esse ano: cruzou com o Rei Careca, é humilhação na arena.
Muito morninho o texto? É o reflexo do circuito