Aos nove anos de idade, Ítalo Ferreira teve seu primeiro contato com o surf por intermédio de seus primos que já surfavam nas ondas do Pontal de Baia Formosa, (RN), sua terra natal. Empolgado com as performances de seus familiares, o garoto entrou de cabeça no surf, mas seu início, assim como vários outros surfistas da região, não foi fácil. “Meus pais não tinham condições de comprar pranchas, então eu pegava as dos meus primos escondidas”, relembra o potiguar, que algum tempo depois foi presenteado com a primeira prancha pela família.
Apadrinhado por Elinho, o primo que via grande futuro em Ítalo, o garoto decidiu entrar em seu primeiro campeonato em BF, e já chegou surpreendendo, sagrando-se campeão da categoria Iniciante. “Venci o Pontal Surf Club, lembro até hoje, inclusive tenho um cartaz na minha casa”. Dali para frente, o potiguar botou ainda mais fé em seu surf e investiu nas competições regionais, para agora, em 2015, já crescido e mais maduro, integrar a lista dos Tops 34 do World Surf League.
Nesta entrevista, você confere um pouco mais sobre o surfista, sua carreira, equipamentos, referências no esporte e a bateria dos sonhos do garoto de apenas 20 anos de idade que promete chegar com tudo em seu primeiro ano entre os melhores do mundo.
Como funciona sua troca de experiências com outros surfistas?
O Jadson André sempre me ajudou em todas as viagens. Já fizemos algumas trips juntos. Desde que entrei na equipe Oakley ele sempre me ajudou, me deu força, me mostrou o que é certo e errado, e o que eu deveria fazer para que as coisas dessem certo. Eu sempre segui seus conselhos.
Atualmente, além das competições, os atletas têm se preocupado bastante em gerar conteúdos de freesurf para a internet. Como você trabalha isso?
Sempre que eu estou surfando, gosto que filmem para depois eu poder analisar as imagens, ver o que estou errando, e claro, gosto de publicar esse material nas redes sociais para mostrar às pessoas. Acredito que divulgar meu trabalho é fundamental para a minha carreira e para a de qualquer outro surfista.
Hoje as redes sociais aumentaram bastante o contato do público com o atleta. Como você lida com as críticas dos fãs?
As redes sociais melhoraram o contato com os fãs. É muito bom receber as mensagens deles durante os campeonatos, me fortalece. Isso é bem legal, é claro que também existem os que criticam, que acham que não estão certas as suas decisões. Sempre haverá pessoas para criticar, falar mal, mas eu acredito que o trabalho está sendo bem feito.
Quem acompanha as competições de perto, vê que a maioria dos surfistas são amigos. Na hora da bateria, como vocês separam isso?
É muito difícil enfrentar um amigo na bateria, ainda mais homem-a-homem, que passa somente um. Quando são quatro competidores é melhor, porque até dá pra tentar ajudar o outro a passar em segundo, mas isso também é complicado. Eu lembro de uma vez que fui competir na praia da Pipa e competi contra um amigo meu. Ele estava em terceiro na bateria e eu deixei uma onda para ele. Na ocasião ele passou em segundo e foi para a final comigo, e quando chegou na decisão ele me venceu. A partir daquele dia eu decidi não deixar mais onda para ninguém, não dar mole para ninguém. Essa foi fod*.
Quais são seus passatempos quando não está surfando ou treinando?
Quando não estou na água ou treinando, gosto de andar de skate, skimboard com meus amigos, jogar bola, mas geralmente os caras “me quebram” quando, e isso é meio perigoso, pois eu tenho que competir e não posso me machucar. Bater uma bola com os amigos aos fins de semana sempre é muito bom.
Se você pudesse escolher uma bateria dos sonhos. Onde e contra quem seria?
Minha bateria dos sonhos seria em Trestles, Califórnia, com 1 metro, contra o Gabriel Medina.
Quais são os pontos fortes do seu surf?
Eu acredito que sejam os aéreos e as batidas de backside.
Como você concilia sua rotina de atleta com a badalação que o esporte proporciona?
Eu namoro, mas é aquilo, você vai ganhando os campeonatos e as meninas vão chegando junto. Aí é preciso ter foco. É tentador, mas eu consigo separar bem, não gosto muito de sair para festas. Sou um cara tranquilo, gosto de ficar em casa, treinar e manter meu foco.
Quais são suas referências dentro do surf?
Hoje é o Gabriel Medina. Ele é um dos caras mais sinistros da atualidade, mas também gosto bastante do Mick Fanning – são os melhores.
Como você trabalha seu equipamento? Você se aprofunda ou simplesmente pega a prancha e vê se funciona?
Eu tento me aprofundar um pouco nas minhas pranchas. Geralmente olho a medida das que me interessam e comparo à de outros caras como Jadson André, Adriano de Souza, e vejo como se encaixa no meu surf, mas elas acabam sendo diferentes, afinal eles têm um peso e eu outro. Eles são um pouco mais altos, eu sou mais baixo, então eu tive que acertar minhas medidas e agora eu acredito que estão certas. Meu shape não erra uma, todas elas são mágicas e com elas tenho conseguido bons resultados. Isso é fundamental para o meu trabalho.
Prancha mágica: 5’10 x 18 ¼ x 2 rabeta squash.
O que você seria se não fosse surfista?
É de se pensar. Sou de Baía Formosa (RN), então se eu não fosse surfista eu seria pescador.