Gary Linden volta a shapear no Brasil

O shaper e big rider californiano Gary Linden

#O shaper e big rider californiano Gary Linden esteve no Brasil para a primeira de uma série de temporadas para shapear suas famosas pranchas Linden. Trazido pela marca Counter Culture, Linden participou também da sétima Surf & Beach Show 2000, realizada entre os dias 04 e 07 de julho, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo e do Surf & Beach Oxbow Legends, realizado nos dia 08 e 09 de julho, em Maresias, São Sebastião (SP). Linden, que já viveu no Brasil e conhece bem o mercado e o público brasileiro, está ansioso para trabalhar aqui novamente e deve voltar todo ano antes do verão e antes do inverno para preparar o quiver da galera. Nesta entrevista exclusiva para a Waves, Gary conta por onde andou nestes anos e o que está armando para o futuro. Uma das novidades é o Circuito Mundial de Ondas Grandes que está criando.

Como se sente no Brasil novamente?
Estou numa fase da minha vida que tenho mais tempo para viajar, finalmente, e estou muito feliz de estar aqui no Brasil. Cheguei hoje da África do Sul, onde eu estava havia um mês, para a realização da primeira etapa do Big Wave World Tour (Circuito Mundial de Ondas Grandes). Estou muito feliz de voltar e fazer pranchas no Brasil, esperei muito tempo para isso.

O que espera desta temporada, vai ficar quanto tempo?
Vou ficar mais ou menos um mês, quero relançar as pranchas Linden para poder vir duas vezes por ano, fazer uma série de pranchas. É uma oportunidade para quem conhece as pranchas Linden de ter uma prancha feita por mim.

Daqui você vai para onde?
Voltarei para Califórnia ou para África do Sul. Estou trabalhando muito nesse circuito de ondas grandes.

Como é esse circuito?
A minha idéia é formar um tour, juntando os eventos já existentes com esse sistema de pontuação para eleger um campeão no final do circuito. O critério será baseado no tamanho das ondas surfadas, então, ondas de até 10 pés é o tamanho mínimo, valendo 1000 pontos o primeiro lugar. Ondas de 15 pés, como aconteceu na África agora, valendo 1.500 pontos para o vencedor, ondas de 20 pés, como foi em Mavericks, valendo 2.000 pontos e acima de 25 pés, como foi em Todos os Santos, em 98, valendo 3.000 pontos para quem ganhar. Assim, as etapas rolariam em cada continente e os respectivos vencedores se enfrentariam para disputar o título mundial. Quero criar um sistema que dispense muita administração, muito investimento, regras, um sistema como já existe atualmente, mas que dê um título de campeão mundial para o melhor.

Seria então um formato mais simples se comparado ao circuito profissional?
É, nesse campeonato na África rolaram duas semi-finais e uma final de uma hora de duração, mas se no final dessa hora entrasse uma série, a gente deixava rolar para os competidores pegarem.

Rola muito mais camaradagem nesse tipo de evento até entre os atletas?
Eu quero ver os caras surfando, morando juntos numa casa durante um mês, esperando as ondas entrarem, 15 pés com sol, sem vento, é uma coisa que tem que ter paciência, tem que ficar tranqüilo.

E como foi o evento na África, onde rolou?
Foi em Cape Town, num pico chamado Dungeons, um lugar pouco surfado, a gente conhecia muito pouco sobre as condições do pico. Foi uma grande aventura, um sucesso. Depois de um mês entrou 15 pés, o sul-africano Shaun Holmes venceu com uma onda de 18 pés, pegou um tubo e levou um dez, foi espetacular, rendeu ótimas imagens.

Foram apenas competidores locais ou houve estrangeiros também?
Foram dez sul-africanos e dois caras de Mavericks, que foram convidados.

Você tem feito pranchas grandes para esse tipo de evento?
Sim, o Ian Armstrong, da África do Sul, usou minhas pranchas nesse evento. Eu me especializei nesse tipo de prancha. Eu faço todos tipos de pranchas, pranchão, gun, hyper, short-board. Eu posso surfar em todos os tipos, então eu me sinto bem fazendo qualquer uma.

Você costuma testar suas pranchas?
Sim, todas. Se não consigo surfar bem com uma prancha que fiz, não a vendo.

Qual foi a última vez em que esteve no Brasil?
Foi em março, para o Red Bull Longboard, fui o diretor de provas. Tenho vindo mais ou menos uma vez por ano nos últimos dez anos.

Quando você morou no Brasil?
Morei nos anos 70, durante alguns anos.

E qual foi a época que a Linden Surfboards estourou aqui?
Foi mais ou menos nos anos 80, junto com o resto do mundo. De 81 a 89, sendo o auge de 85 as 87, mais ou menos.

E o que aconteceu, por que parou?
nome Linden nunca foi meu. Foi registrado por outras pessoas, vendido várias vezes, então foi difícil para eu fazer alguma coisa no Brasil. Todas as propagandas, patrocínios e pranchas que levavam meu nome não eram feitas por mim, nunca recebi dinheiro de royalties, várias pranchas com meu nome foram feitas aqui sem que eu tivesse recebido por isso. Eu tentei trabalhar com as pessoas, mas como eu não tinha controle, acabei desistindo. Depois de tanto tempo investindo aqui, nos atletas, falando bem do Brasil lá fora, me senti abusado. Mas aí o Jackson, da HD, devolveu meu nome no ano passado, agora meu nome é meu, finalmente.

E você continuou shapeando desde então?
Continuei, mas você não ganha muito dinheiro fazendo pranchas, você trabalha muito e o lucro não é alto, não dá para ir crescendo, crescendo… você investe em propaganda, no nome da marca e percebe que pode trabalhar menos e ganhar o mesmo. Eu gosto de viajar, de competição, então estou tentando equilibrar minha vida entre a sala de shape e o circuito que estou criando.

E o que você está usando nas pranchas atualmente, o que terá de novidade para os brasileiros?
Nas pranchinhas estou usando as rabetas um pouco mais largas, com mais concave, mais duplo concave, e no deck estou tirando quase meia polegada, deixando o concave mais acentuado e as bordas mais cheias (box), deixando a prancha com mais balanço e mais flexível. Essa prancha voa muito, tá andando bem. Em termos de longboard, estou fazendo mais o estilo clássico, que está sendo mais usado agora na Califórnia. As pessoas não querem mais um long performance, se não vai pra pranchinha. Se você quer andar nas merrecas, procura um estilo clássico, vai andar no bico, se divertir mais. Precisa de uma prancha mais revestida, mais forte, de cores bonitas. Fora isso, faço de tudo. Tem um modelo chamado piranha, que quando não tem onda mas você não quer um long, ela é mais larga, possui bico mais largo, rabeta mais larga, anda legal, não é tão radical.

Você tem acompanhado o trabalho dos shapers brasileiros?
Tenho sim. O volume de bons shapers aqui é muito grande. Tem o Ricardo Martins, que se vê muito lá fora, o Beto Santos, o Vítor Vasconcelos que eu trabalhei e é bom. Tem muita gente que eu não conheço, mas quando vejo as pranchas daqui gosto da maioria. Acho que estão entre as melhores do mundo.

E em relação aos materiais utilizados, estamos muito atrás dos EUA ou outras potências do surf?
Não. Acho que os blocos talvez não sejam tão fortes, mas têm a vantagem de ser bem leves, bons para competição. Dá pra fazer uma prancha tão boa ou melhor do que qualquer lugar do mundo.

Eu soube que você fez uma aposta com o Shaun Tomson há muito tempo atrás que o Brasil teria um campeão mundial até o ano 2000. O que você acha que está faltando para isso acontecer?
Acho que falta um cara como o Neco Padaratz manter o surf que ele mostrou no Gotcha Pro, no Tahiti. Foi a única vez que o vi, mas ele mostrou aquele gás que precisa para ser um campeão do mundo. Agora, os outros estão chegando, o Kelly Slater foi um fenômeno, foi muito difícil competir com ele, mas agora não é impossível, no ano passado o Occy ganhou porque houve etapas em ondas muito boas, tubulares. Mas agora qualquer um pode ganhar, Taj Burrow, não sei… pode ser tanto um brasileiro quanto um australiano, um americano, até um sul-africano. O que conta é o sistema que treina o surfista profissional, que é muito forte nos EUA, na Austrália, no Brasil… O que eu acho que é importante é um sistema de treinamento e formação de técnicos para os pros, mas o Brasil tem tudo para ganhar. Na minha opinião, a próxima safra de campeões deve vir do Brasil ou da Austrália…

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