Giant Killer mata baterias no Billabong Pro

Danilo Costa voltou a se dar bem nos tubos de Teahupoo

Danilo Costa se deu muito berm nos tubos de Teahupoo. Foto: ASP World Tour / Aaron Chang.

Este ano tem tudo para ser especial na vida  de Danilo Costa, 25 anos. Após três anos na boca do WCT, o paulista radicado no Rio Grande do Norte, conseguiu a tão sonhada vaga na elite do surf mundial.  

 

Até o Billabong Pro Teahupoo, Danilo ainda não tinha vencido nenhuma bateria do Circuito Mundial.  Mas foi no Tahiti, no evento de seu patrocinador, que Costa mostrou que não será um mero coadjuvante na constelação de estrelas do WCT.

 

Em uma de suas ondas preferidas, Teahupoo, o surfista teve uma atuação impecável  e despachou nomes como Mark Occhilupo, Damien Hobgood, Dean Morrison e Kalani Rob, arrancando elogios de todos que presenciaram o evento. Kelly Slater, para quem perdeu na semifinal, também não economizou elogios ao estreante no tour.

 

Confira a entrevista exclusiva com Danilo, direto do Tahiti,  sobre o evento na mais temida onda do Circuito Mundial.

 

Você já havia disputado outros campeonatos em Teahupoo?
Disputei todas as etapas do WQS que aconteceram nesse pico.

 

Neste ano você ainda não tinha vencido nenhuma bateria no WCT. Como foi quando começou a se dar bem no Billabong Pro, até chegar onde chegou?

Já vinha me preparando para este evento há algum tempo. Nós (Danilo e seu técnico Luis Henrique, o Pinga) sempre acreditamos que o Tahiti era um lugar onde poderia me dar bem, pois é minha onda favorita e todos os anos venho para cá. Depois da bateria com o Occy, vi que dava para conseguir um resultado expressivo.

Durante o evento os locutores te apelidaram de “Giant Killer”. O que achou desse apelido? Como foi ter passado com altas médias por nomes como Occy, Dean Morrison,
Damien Hobgood, Kalani Rob, enfim, caras que são praticamente idolatrados no Tour?
Foi alucinante! Pois todos eles sempre tiveram uma boa performance em Teahupoo, sempre com ótimas médias, excelentes performances e a mídia internacional os colocavam como favoritos. Eu procurei manter a calma e a tranqüilidade o tempo todo e, principalmente ter a paciência de esperar as ondas boas que me dariam a possibilidade de um bom score. Pois se não pegasse as boas, eles pegariam e com certeza fariam as notas necessárias. Foi demais! Realmente um sonho e a realização de um objetivo competir com eles e vencê-los, já que como você disse, são ótimos atletas.

Teahupoo é uma das ondas preferidas de Costa. Foto: ASP World Tour/Aaron Chang.

 

Você pegou dois ícones do surf mundial. Primeiro venceu o Occy e depois perdeu para o Kelly Slater, mas manteve o bom desempenho. O que representou disputar essas baterias com esses surfistas? Eles são ídolos para você?

Foi a realizaçâo de um sonho. Primeiro vencer o Occy, um cara que, na minha opinião, vem surfando melhor no tour este ano, ainda mais em Teahupoo, onde ele já havia vencido. Depois pegar o Slater, que é meu ídolo. Mesmo perdendo para ele, deu para eu sentir que se tivesse entrado a onda dava para fazer o 10, pois eu estava em sintonia com o mar. Antes da bateria, ele falou muitas coisas legais para mim, que eu estava surfando muito bem, que iríamos fazer uma bela bateria, que o surf brasileiro devia estar muito feliz pelo que eu estava fazendo em Teahupoo etc. E depois ele veio me parabenizar pela bateria e disse que a minha onda 9,4 era um 10, já que eu tinha pego um tubo animal. No final da bateria ele ficou me segurando para que eu não ficasse solto no outside. Pôxa, foi show! Realmente não tenho palavras para dizer a emoção que senti com tudo isto.

 

Teahupoo é uma onda que você gosta, não é? O que acha dessa onda? Você tem receio ou medo?

Ela é uma onda que conheço bem, pois esta é minha quinta ou sexta temporada aqui. Desde 97 venho todos os anos para surfá-la. Acho Teahupoo demais!
Tenho uma relação muito legal com este lugar, uma afinidade mesmo. Os locais são meus amigos e com certeza eu estaria aqui mesmo se não fosse correr o campeonato. Nós escolhemos o Tahiti para me aperfeiçoar em ondas grandes. O Hawaii é show também, mas é muito difícil de treinar, pois o crowd é complicado e você acaba surfando  poucas ondas de qualidade em Pipeline etc. Aqui não, fora dos eventos é só você e quatro ou cinco caras na água. Teahupoo me deu confiança e afinidade para surfar outras ondas com a mesma batida também.

 

Danilo Costa despachou grandes nomes do surf mundial. Foto: ASP World Tour/Aaron Chang.

Você já passou algum sufoco em Teahupoo?
Todos nós passamos. Pois você tem que estar muito concentrado e atento aqui, já que qualquer vacilo pode te deixar numa situação crítica. Já tomei uns caldos e me cortei, mas graças a Deus eu sai bem de todas elas.

 

Esse excelente resultado mudou algo em relação ao seu objetivo neste ano no Tour? Você está mais otimista em relação ao ranking final do circuito?
Em relação ao plano e a estratégia não, pois Teahupoo estava dentro dos eventos que tenho mais chances de conseguir um bom resultado. Talvez não tanto quanto este, mas as ondas tubulares para a esquerda estão dentro dos planos para me dar bem. É lógico que este resultado melhora as perpectivas de um resultado melhor no final do tour. Ele aumenta minha auto-confiança e faz com que os juízes me olhem de outra maneira a partir de agora. Mostra que agora tenho mais do que nunca que continuar humilde e focado em meus objetivos, seguindo a estratégia que elaboramos no início do ano.

 

O que representa essa conquista em sua carreira?
Além de aumentar minha auto-confiança, fortifica meu nome no cenário internacional do surf, que é um dos meus objetivos, já que sou sou patrocinado por marcas internacionais e sempre tive como foco e prioridade minha carreira internacional. Quero levar a bandeira de nosso país a todos os cantos e representa-la dignamente.

 

Aquele tubo 9.47, você acha que poderia ter sido um 10?

Acredito que sim, pois foi o tubo mais deep que peguei e já tinha tirado outros 9,0 no campeonato. Mas tudo bem. O que importa é que tive uma performance forte e consistente em todas as baterias após a repescagem.

 

Qual é o segredo para dominar essa onda e conseguir notas tão boas?
Ter fé em Deus, concentração, confiança, paciência, boas pranchas, bom preparo físico e psicológico. Acreditar em um plano e deixar os bons fluídos dominarem seus pensamentos e, principalmente se divertir.

 

Como foi a repercussão desse seu resultado aí mesmo, durante o evento?
Foi muito boa! Pois a cada bateria eu deixava de ser uma surpresa, pois todos viam que os resultados não estavam aparecendo por acaso. Inclusive, em um dos dias quando falei com o Pinga, ele comentou a respeito da matéria do Hagan Kelley (colaborador da Surfing que desmereceu a vitória de Danilo sobre Occy), só aí entendi porque ele tinha chegado em mim do nada pedindo desculpas. A repercurssão foi ótima em relação aos juízes que puderam me ver surfando ondas de verdade; entre os atletas do tour que ainda não botavam fé e, principalmente por ser um evento de um dos meus
patrocinadores, que estavam todos no barco e viram tudo. Foi muito bom!

O terceiro lugar no Billabong Pro deu mais auto-confiança ao atleta. Foto: ASP World Tour/Aaron Chang.

 

Quais são seus planos agora?

Os planos continuam os mesmos. Vou fazer umas fotos aqui no Tahiti para Fluir com o Sebastian Rojas, depois vou direto para Fiji, Maldivas e Japão. Volto ao Brasil no final de junho para preparar meu quiver e elaborar a estratégia e planos para a segunda parte do circuito, além de fazer um trabalho físico para as etapas de ondas pequenas. Também vou aproveitar e correr a etapa do SuperSurf em Ubatuba.

 

Dá para dizer que esse foi o campeonato da sua vida?
Foi a coisa mais especial que já aconteceu comigo, não tem como explicar o que senti na hora, foi muito forte.

 

A quem você dedica essa conquista?

Gostaria de dedicar essa vitória ao meu pai e agradecer aos meus patrocinadores:  Billabong, Oakley e Tent Beach Surf Shop. Ao projeto Marazul, ao Ricardo Martins pelos foguetes e ao meu técnico e manager Pinga, que me ajudou a nunca desistir de meus objetivos e acreditar que é possível. E a Deus que me enviou aqueles tubos!
Também gostaria de agradecer a todos que torceram por mim, que mandaram boas
vibrações, pois com certeza foram elas que me deram luz e mostraram o caminho para eu sair dos tubos. Durante as baterias, o Brad Gerlach (um dos locutores do evento), ficava lendo as mensagens da galera do Brasil. Realmente vocês foram e são demais! Nós brasileiros somos diferentes e não tem essa não! Também quero dizer que continuarei minha batalha junto com a equipe brasileira com muita garra e humildade para encher vocês do orgulho que tanto merecem. Valeu!

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