Swell no Sul

Grilo passeia em secret

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Todo fissurado por surf busca sempre alguma fonte de inspiração. Seja em um novo filme, em uma revista ou até acompanhando um campeonato pela internet.

De todas as maneiras, sempre paramos na imagem de um grande aéreo, da rabetada sinistra, uma onda enorme de tow in e tudo de mais moderno no mundo do surf. Mas não podemos esquecer as raízes, a origem pura e verdadeira do esporte.

Estou lendo um livro sobre o Eddie Aikau há alguns dias, coincidentemente a temporada havaiana, que não para de bombar, abençoou a todos que amam o surf com o evento que não acontecia há alguns anos: o The Quiksilver in Memory of Eddie Aikau.

Para quem não viu ao vivo pela internet, pode conferir no Waves a matéria que realmente me emocionou. Altas ondas, com performances incríveis. Não tem como instigar a dropar umas ondas grandes.

No último domingo (13/12), com a previsão de um grande swell aqui no Sul, nossa preparação começou no sábado. Gunzeira, cordinha, quilha e aquela acordada antes do amanhecer. Depois foi só checar o pico e confirmar: está grande.

Seguimos para o pico mais próximo e, apesar do vento forte que deixou a galera dormindo até mais tarde na manhã fria de domingo, boas ondas quebravam. Havia algum tempo que não dava um swell com este tamanho e peso.

Entrei na água com as imagens da temporada havaiana na cabeça. Na terceira onda, depois de uma rasgada, a direita encaroçou e não pensei duas vezes. Joguei para dentro, caiu uma placa larga e passei pelo salão, mas ela esmagou e morri dentro do tubo. Depois do caldo, ao deitar na prancha, percebi que ela havia quebrado ao meio. Saí da água e fiquei apenas observando as ondas que ficavam cada vez maiores.

Mas não deixei que a prancha quebrada abalasse meu dia. Como trabalho com treinamento de atletas, procuro sempre aprender algo com minhas vivências.

Meu atleta de treino do dia foi Sebastian Ribeiro, 16, que está com um certo apetite por ondas maiores. Seguimos então a outro pico, que poderia ter uma boa condição. No caminho encontramos o Gui Ferreira que estava caindo lá e falou que não estava muito bom. Mesmo assim resolvemos conferir.

Chegando lá, havia um camarada na remada e uma dupla de tow in. O mar estava meio torto, demorava para entrar a série, mas tinham algumas paredes com tamanho e era isso que nos interessava. Seguindo pelo costão, encontramos o fotógrafo Ken Robert Sosa, que deu pilha para não boiarmos muito lá fora que havia boas paredes mais para o inside.
   
Logo que entramos veio a primeira série. Eu e o Sebastian surfamos uma onda juntos. Na segunda, tomei um caldo longo e na volta uma série volumosa da cabeça.

O mar subiu e a caída foi ficando bem emocionante. Como é bom estar ali, abraçado no oceano e sentir todo seu poder e energia. Ninguém deu aéreo nem rabetada, fizemos bons drops e algumas curvas, não eram ondas grandes comparadas às de Waimea, mas encontramos a sintonia com o verdadeiro espírito do surf.