A proximidade com a cidade de São Paulo e a qualidade das ondas, fazem do Guarujá o destino preferido de muitos surfistas da capital paulista.
Conhecida como “Pérola do Atlântico” por suas belezas naturais, o município sofre com o crescimento desenfreado da população e o aumento da criminalidade.
Segundo os últimos dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, o município registrou 1.857 furtos e 1.813 roubos neste ano.
Se comparado ao mesmo período do ano passado, o número de furtos, quando não há ameaça à vítima, é menor (1.958 a 1.857). Já o índice de roubos, quando há o uso de violência ou de ameaça, aumentou quase 50% (1.221 a 1.813).
O fotógrafo Anselmo “Cachorrão” Venansi, colaborador do Waves, foi mais uma das vítimas de roubo na cidade. No último final de semana (7 e 8/11), Cachorrão sofreu um assalto na saída do túnel da região da Vila Zilda, que liga o bairro à praia da Enseada.
Cachorrão estava parado no carro em um farol na saída do túnel com três amigas quando ocorreu o crime. “Estava no banco de passageiro e quando percebi já havia três moleques com a arma na minha cara. Levaram várias coisas de valor. Foi a primeira vez que tive um revólver apontado para mim. A sensação de impotência é muito ruim”, relata o fotógrafo.
Depois do roubo, Cachorrão acionou a polícia e entrou em uma viatura para tentar identificar os bandidos, que fugiram em direção à comunidade dos Morrinhos. “Entramos na viatura e subimos a favela. O que vi foi um clima muito hostil, de guerra mesmo. Muitos garotos com radinho na mão gesticulavam para a gente não subir mais. O medo de levar um tiro era tão grande que nem com a polícia conseguimos avançar”, conta Cachorrão.
O surfista Daniel Machado da Silva, 26, usuário do Waves, também sofreu com a criminalidade no último final de semana. Ele teve o carro roubado enquanto surfava na praia de Pernambuco.
“Saí de São Paulo e fui surfar no Guarujá. Como ainda estava cedo, fiz uma última queda em Pernambuco. Trinta minutos depois, quando pisei o pé na areia, percebi que meu carro havia sido levado com todos meus documentos, roupas, aliança de noivado e outros objetos”, afirma Daniel.
Ele reclama do atendimento que recebeu na polícia. “Fui atendido com uma ironia absurda. Os policiais alegaram que os furtos eram rotinas e, se eu tivesse sorte, o carro apareceria faltando alguns pedaços. Lamentável o que acontece nesta cidade, boa de surf e horrível de segurança”, conclui.
Clóvis Rossi, delegado titular do Guarujá, afirma que roubos a surfistas são mesmo frequentes no município. “Temos muitos casos de furto a surfistas que largam as chaves no pneu ou na areia. Os ladrões vêem um surfista e já ficam espertos para ver onde ele vai largar as chaves. A maioria rouba rádio, objetos e rodas e abandona o veículo em seguida”, diz Rossi.
Ele afirma que estão sendo tomadas medidas para impedir este tipo de ocorrência. “Há cinco meses pegamos uma quadrilha que agia desta forma e os casos diminuíram. Agora, voltaram”, afirma o delegado.
Para José Kalil, promotor de justiça que há sete anos reside no Guarujá, o aumento dos assaltos pode estar relacionado ao crescimento desorganizado da cidade. “São muitas pessoas que se instalam irregularmente e o município não tem condições de suportar. Não há ocupação para todo mundo e muitas pessoas ficam por aí sem fazer nada”, explica Kalil.
“Já houve época pior. Hoje a polícia está mais organizada e se instala nos pontos mais críticos da cidade. É preciso estar sempre esperto. Quando for surfar, pare o carro em um estacionamento. Às vezes compensa gastar um pouco mais e ter garantia de segurança”, aconselha.
Anselmo Cachorrão também acredita que a melhor solução por enquanto é ficar atento. “Não ande de vidros abertos e evite pegar o caminho pelo túnel. Vá pelo centro. Fica um pouco mais longe, mas é seguro”, alerta Cachorrão.