Filho de peixe

Ian Gouveia, aluno aplicado

Ian Gouveia, Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE)

 

Ian Gouveia reforça equipe brasileira no Mundial Sub-18 que rola na França. Foto: Ader Oliveira.

“What´s your name?”. “My name is Kelly…”.

 

Robert Kelly Slater riu com a resposta da garota para a sua pergunta naquele primeiro dia como campeão mundial, em 1992, no Rio de Janeiro.

 

Marcos Uchoa já era um jornalista da Globo conhecido naquele ano. Filho de um ex-exilado político, ele morou em muitos países e virou poliglota por necessidade e fluente por dedicação. E foi ele, naquele sábado, quem entrou ao vivo no “Esporte Espetacular”, entrevistando o paraibano Fábio Gouveia, vencedor da etapa anterior, no Japão, e favorito ao título da etapa brasileira no dia seguinte.

 

“Fabinho, você está aqui, mas a sua esposa Elka não veio, pois está em casa aguardando o nascimento do segundo filho de vocês. Que mensagem você manda para ela e para o Brasil neste momento?” “Muié, segura as pontas aí que eu tô chegando!!!”.

 

Ian registrado pelo pai na Cacimba do Padre (PE). Foto: Fábio Gouveia.

Uchoa, ao vivo, e muitos não contiveram a alegria que o estilo Fabinho de ser provoca dentro e fora do mar. Na prova, muita gente também ficou alegre com sua performance – subiu ao pódio em terceiro, quando a vitória de Damian Hardman evitou que Fábio Gouveia fosse mais do que quinto no ranking de 1992, ano finalizado com vitória de Slater em Pipeline, enquanto Fabinho ia até as quartas-de-final no Hawaii depois de vencer goofies como Jeff Booth e Rob Machado.

 

Domingo à noite, Fabinho já voltara do Rio para Recife. Para o irmão Guga, sobrou a missão de receber por ele o Now Trip Poll, no Olimpizza, frente a uma platéia de brazucas e aussies, a exemplo de Tom Carroll, Damian Hardman e Matt Hoy, vice de Fabinho quando ele venceu a primeira de suas quatro etapas do WCT, o Hang Loose Pro Contest, em Pitangueiras, Guarujá (SP).

 

Foi mais um feito pioneiro em um esporte que tinha nele o nosso único campeão mundial da International Surfing Association (ISA), o mesmo que o norte-americano Tom Curren conquistara dez anos antes de vir, em 1992, pela primeira ao Brasil, ano em que o tricampeão mundial já era o pai de Lee Ann Curren e ano em que Fabinho viu nascer o segundo de seus três filhos, Ian Roichman Gouveia, ainda 15 e mirim, já o atual vice-líder brasileiro júnior.

 

“Painho, eu perdi para um menino lá da Paraíba”. Foi assim, em 2006, que modestamente Ian Gouveia relatou a sua boa performance iniciante para o pai, ao chegar em casa na ilha de Florianópolis (SC).

 

Ele vinha da abertura pernambucana do Maresia Brasileiro de 2006, realizado justamente na Baía de Maracaípe, onde começou a surfar, pois, quando moravam em Candeias, Jaboatão, o surf já era prazer com risco de vida e proibido na grande Recife.


A impossibilidade de um surf diário para todos que fosse conciliado com estudos para os filhos, foi decisiva para Fabinho se mudar de Recife para Floripa, e foi lá, vencendo a abertura do SuperSurf 2005, que o Fia mostrou que a palavra vencedor não se apagou do seu dicionário.

 

Fabinho garantiu os pontos decisivos para o título da temporada ao ser vice na etapa baiana, em uma bateria franca contra o também paraibano Jano Belo, na Costa do Sauípe, Bahia.

 

“Caracoles! Nem estava sabendo. Vi a bateria ontem, porém não havia vídeo, nem áudio, em meu computer, só as notas. Valeu pela notícia. Agora a ficha caiu, o pirraio está mesmo no surf”.

 

Foi assim que Fábio Gouveia reagiu, direto de Durban, África do Sul, à notícia de que Ian Gouveia garantira sua vaga no Mundial Júnior de 2008.

 

A prova este ano vai rolar na França. A vaga de Ian, por uma decisão técnica, foi remanejada para a sub-16, no Brasil chamada Mirim, palavra tupi que se traduz pequeno.

 

E lá vai o pequeno Ian ser mais um Gouveia no surf mundial, o segundo deles na história da ISA, sobrinho do ex-campeão português Guga Gouveia, desde já na torcida e desde muito vivendo o surf e trabalhando com ele em Portugal.

 

Foi na França que Napoleão Bonaparte certa vez disse “talento sem oportunidade não é nada”. Para muitos surfistas de talento, hoje a oportunidade de uma carreira iniciada na idade certa é real, graças ao positivo crescimento do surf através dos positivamente envolvidos com o esporte, que lucram com isso.

 

Havendo uma boa base e um grande exemplo em casa, melhor ainda, e isso o mirim Ian tem da forma ideal, todo o mundo sabe.

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