A revolução para tirar aquela madeira que sempre esteve no meio da prancha, ganhou força. Neste verão, muitas pranchas irão ao mar sem longarina.
A longarina, que surgiu para que as pranchas de espuma não se partissem ao meio tão facilmente, funcionando como espinha dorsal, tornou-se quase exoesqueleto quando foi deslocada para todo o perímetro das Firewires.
A mudança levou mais de meio século. Ficou interessante e funcional, especialmente nos pés de Taj Burrow. ??Justo nesse momento, as pranchas estavam cada vez mais leves e a flexibilidade começou a ser mais sentida, especialmente com a entrada de outros materiais, em especial o EPS.
A comparação entre o “isopor” e o poliuretano mostrou que a flexibilidade, explorada sem muito alarde pelo shaper brasileiro *Sheena, na virada do século, seria cada vez mais parte da equação.
Propulsão de mola
A prancha, a grosso modo, pode funcionar como uma mola. Quando você a pressiona durante uma curva, ela enverga e, conforme sua flexibilidade, volta à forma normal com mais ou menos velocidade. É esse tempo de resposta que nos traz aquele sentimento de que a prancha tem vida. É isso que, sabendo usar, gera mais velocidade a cada curva ou “pump” (aquela acelerada ou mata-barata, respeitando estilo).
Lembra daquela prancha alucinante (de PU) que, com o tempo, foi ficando ruim? Pois é, ao envelhecerem, as pranchas de poliuretano com glass de resina poliéster vão se enrijecendo, ficam menos flexíveis, começam a morrer. Talvez funcionem em mares maiores, porque com mais pressão das forças em ação, a menor flexibilidade delas se torne compatível. E é nesse ponto que as coisas ganham outros parâmetros. Tamanho e energia das ondas. Sim, as pranchas sem longarina servirão muito bem ao surfe nacional. Nossas ondas, infelizmente, não são grandes e nem muito poderosas, na maior parte do tempo. Nossos beach breaks pedem pranchas de resposta rápida, sensíveis.
Faixa-preta
A fibra de carbono começou a aparecer em algumas partes da prancha, prometendo dar mais rigidez nos pontos aplicados, deixando outros pontos da prancha mais flexíveis, como bico e rabeta, além do efeito diferente quanto à torção longitudinal (isso também conta). Kelly Slater tem feito o marketing da “faixa-preta”. Mas a história está só começando. Com novos materiais, espumas de diferentes densidades e novas maneiras de construção fazendo o papel da antes dominante longarina, há uma infinidade de possibilidades. Claro, há muita gente carbonizando a construção sem a mínima ideia do que isso irá realmente gerar.
As pranchas da Power Light, de construção peculiar, com madeira como parte do glass, foram um sucesso na The Board Trader Show, onde a vencedora do prêmio Melhor Prancha de Performance tem justamente esse conceito “flex”, gerado por suas faixas de carbono com disposição diferente (Carbon Wrap), aplicável à qualquer modelo da Lost.
Segundo o próprio shaper Matt Biolos, essas pranchas não devem ser o carro chefe de vendas da marca no Brasil, por serem mais caras e funcionarem melhor em mares específicos. Mas, vale lembrar: lógica, mercado e surfe nem sempre se encontram. Acreditem, será o verão com menos longarinas da história.
*Sheena faleceu em outubro de 2001 depois de sofrer um acidente de kitesurf, sua última paixão. Durante 12 anos ele abriu as portas e foi um dos shapers mais conceituados do North Shore, conquistando respeito e admiração da comunidade local também por suas performances em Banzai Pipeline. Sheena fez pranchas para tops brasileiros como Neco Padaratz, e gringos, como o havaiano Andy Irons e introduziu novas tecnologias no mercado, como as pranchas Surflight.