Jacque Silva saboreia vitória no WCT

Jacqueline Silva - Star Point, Moema (SP)

Jacqueline Silva exibe o sorriso de campeã do Roxy Pro: Asp World Tour / Tostee.
A catarinense Jacqueline Silva, 24, chegou ao Brasil na última terça-feira (16/3), acompanhada pelo seu técnico Bira Schauffert.

 

Antes de chegar em Santa Catarina, a atleta passou por São Paulo e foi até a loja Star Point, localizada em Moema, para mostrar o troféu de campeã ao empresário Dimitrius Nassirios, mais conhecido como Tucano, proprietário da rede de lojas e primeiro empresário que acreditou no potencial da atleta, quando ainda cuidava do marketing da Rip Curl em 96.

 

“Apostei na Jacqueline desde cedo e sempre fizemos um trabalho a longo prazo. Se ela parasse por aqui já seria uma grande conquista, mas ela ainda tem muito chão pela frente”, disse, orgulhoso, Tucano.

 

A vitória de Jacqueline no Roxy Pro é de  grande importância para o surf brasileiro, pois pela primeira vez, desde quando o circuito mundial foi criado, o Brasil começa a temporada na ponta do ranking do WCT.

 

Porém, a carreira vitoriosa de Jacque vai além. Para se ter uma idéia das barreiras quebradas pela atleta, ela já fez quatro finais em etapas do circuito mundial (WQS e WCT) no Hawaii, sendo que venceu três, conquista também inédita no surf nacional.

 

Depois do ótimo resultado na Austrália, o objetivo da atleta é defender a liderança do circuito mundial WCT. “Com esta vitória, ganhei mais confiança para disputar as outras etapas. Já que começamos tão bem, vamos ficar concentrados nisso”, comenta Jacque.

 

Jacque Silva exibe o troféu de campeã na loja Star Point, em Moema (SP). Foto: Nancy Geringer.
Neste ano, o foco da atleta está voltado para as etapas do WCT. “A próxima etapa importante do WQS acontece em junho em Durban, na África do Sul, com nível 4 estrelas. Até lá rolarão três etapas do WCT e com os resultados que obtiver nestas etapas, saberei se preciso correr o WQS para garantir minha classificação”, explica a atleta.

 

A vitória no Roxy Pro mostrou que a atleta e seu técnico fizeram a coisa certa ao optar por não disputar a primeira etapa do WQS em Margaret River. “Preferi escolher o equipamento adequado e treinar com calma para a abertura do WCT. Margaret River fica longe de Snapper Rocks e eu ainda teria que levar outro tipo de equipamento. Por isso, preferimos não participar deste evento”.

 

Após uma campanha regular em 2003, em que obteve a décima colocação no ranking do circuito, Jacque voltou do Hawaii determinada a voltar para o topo do ranking.

 

No arquipélago havaiano, a catarinense deu início a um trabalho de preparo físico fora da água e continuou treinando nos meses em que ficou de férias em Florianópolis. O condicionamento físico da atleta fez a diferença em seu desempenho na Austrália.

 

“Em Snapper Rocks a gente praticamente não sentava na prancha, só remava o tempo inteiro. Graças ao treino que vim realizando desde o Hawaii me senti muito bem”.

 

 

Os louros da carreira vitoriosa, Jacqueline divide com o técnico Bira, que há 15 anos a acompanha e não esconde o orgulho que tem de sua pupila.

 

“Ao longo de todo estes anos, subimos degrau por degrau. Este é o segredo para a consistência da carreira da Jacqueline. Ela começou disputando os campeonatos locais com os garotos, depois foi campeã no circuito catarinense, do brasileiro. Entrou para o circuito mundial e em seu primeiro ano foi considerada revelação. E assim ela vem caminhando, sempre evoluindo”, comenta Schauffert, que a acompanha em todas as etapas do WCT.

 

Jacqueline aproveitou a passagem por São Paulo para gravar matérias para os canais ESPN e Sportv. Foto: Nancy Geringer.

“Há uma expectativa grande. Ano passado não foi o ano, mas este pode ser. Estamos trabalhando há muito tempo e quando vemos os anos passando é que se percebe que um atleta campeão não é criado da noite para o dia”, afirma o técnico da atleta.

 

Confira abaixo a entrevista exclusiva com a atleta em que ela fala sobre seus planos para este ano e a vitória na abertura do WCT 2004.


Passada a euforia da conquista do Roxy Pro, como é a sensação de estar na liderança do circuito mundial?

 

Além do alívio de estar no topo do ranking, com esta vitória ganho mais confiança para as próximas etapas. Foi muito bom vencer este campeonato justamente porque optei em não disputar a primeira etapa do WQS em Margaret River. O lugar é longe e eu teria que usar pranchas diferentes das que usei em Snapper Rocks. A vitória mostrou que fizemos a escolha certa e comecei da melhor maneira possível.

 

Você pretende disputar somente o WCT neste ano?

 

Até agora, o WCT feminino tem sete etapas confirmadas – duas a mais do que no ano passado. E ainda há duas para serem confirmadas. A próxima etapa importante do WQS acontece em junho em Durban, na África do Sul, com nível 4 estrelas. Até lá rolarão três etapas do WCT e com os resultados que obtiver nestas etapas, saberei se preciso correr algumas do WQS para garantir minha classificação. O WQS é mais obrigação e o meu foco agora está no WCT.

 

 

Jacqueline Silva e seu técnico Bira Schauffert começaram o ano com o pé direito no circuito mundial. Foto: Nancy Geringer.
O fato de este ano o tour contar com maior número de etapas aumenta suas chances de garantir o título?

 

A expectativa de ter sete campeonatos é muito boa, pois há mais etapas para serem descartadas se for preciso. Em 2002, ano em que fui vice-campeã, rolaram apenas cinco etapas. Se tivesse mais uma e eu chegasse à semifinal seria a campeã mundial.

 

Após esta conquista, você sente algum tipo de pressão, de ter que se dar bem sempre?

 

Nenhuma. Fui para a Austrália sem nenhum tipo de pressão. Nas próximas etapas vou com a mesma mentalidade de dar o melhor de mim e me dar bem.


Quem eram as favoritas no Roxy Pro?

 

Snapper Rocks é um point break com direitas perfeitas, o que acaba não deixando nenhuma atleta como favorita, pois as condições são iguais para todas. Mas, a mídia estava mais em cima das atletas patrocinadas pela Roxy, principalmente as locais.

 

 Comente sua trajetória no evento. Você perdeu na primeira bateria e logo depois virou o jogo na repescagem. Como se deu  sua recuperação?

 

Snapper Rocks é um pico que tem muita gente na água, o crowd chega a ser absurdo. Só consegui testar a prancha na primeira bateria e percebi que não era a mais indicada para aquele tipo de mar. O Bira também percebeu e algumas pessoas vieram comentar que o meu surf não estava fluindo com aquela prancha. Na bateria seguinte, com outra prancha, meu surf mudou completamente. Sabia que com ela, se viesse alguma onda boa, ela não me deixaria na mão. Fui ganhando confiança a cada bateria, pois passei surfando bem, competindo bem e pegando boas ondas.

 

 

Quando você sentiu que tinha chances de levar a competição?

 

É difícil dizer, pois naquelas condições todas eram favoritas. Mas, uma coisa curiosa que aconteceu foi o seguinte: alguns dias antes do evento começar, estava no free surf, quando de repente encontrei um cavalo-marinho. Peguei-o na mão, fiquei observando-o e comentei com uma garota, repórter da revista australiana Surfing Girl. Na hora ela disse que o cavalo-marinho ia me dar sorte e que serviria como um amuleto. No outro dia, estava surfando e de repente tinha um monte de borboletas em volta de mim e muitos golfinhos passando por baixo, pelos lados. Eu me senti muito bem, em total harmonia com a natureza e o cavalo-marinho realmente serviu como amuleto.

 

Jacqueline Silva brinda a vitória no Roxy Pro. Foto: Asp World Tour / Tostee.

Como sua vitória repercutiu na Austrália?

 

Repercutiu muito bem. Dei entrevistas para jornal, tv. Logo que sai da água, dei uma entrevista e fomos para a premiação. Depois da entrega dos prêmios, fiquei mais de uma hora sendo entrevistada e distribuindo autógrafos, tirando fotos. Também fui contra-capa e capa de vários jornais australianos com fotos de página inteira. Este é um campeonato muito importante de se ganhar pela repercussão na mídia.

 

E entre as atletas do WCT… O que elas acharam de sua vitória?

 

Muitas não estavam mais lá. As que ainda estavam ficaram contentes, algumas vieram me cumprimentar. Mas, não temos muita afinidade. A Rochelle Ballard, por exemplo, é uma atleta com quem não tenho muita sintonia, ela nunca troca idéia, só passa e cumprimenta.

 

 Você disse em diversas entrevistas que gosta muito das ondas de Snapper Rocks.

 

Snapper Rocks é uma onda muito longa, que facilita a realização de diversas manobras. Num determinado momento da onda, tínhamos que sair porque os juizes não conseguiam mais enxergar. Aí, a onda continuava e a galera que ficava bem nesse pico aproveitava para dropar e ir embora. Eu me adapto muito bem a point break. A etapa do Billabong Pro Maui, realizada em Honolua Bay, no Hawaii, em que venci e fui vice-campeã mundial, apresentava as mesmas condições, só que com três vezes mais tamanho. Meus melhores resultados são nesse tipo de onda. As ondas são todas iguais e se você erra, tem como corrigir na onda seguinte, melhorando o repertório, a variação de manobras.

 

A atleta arrebentou na final do evento. Foto: ASP World Tour / Tostee.
Seus planos para este ano mudaram após a conquista deste campeonato?

 

A gente sempre começa na expectativa de se dar bem e conquistar o título mundial. Fiz um preparo físico legal depois que voltei do Hawaii e isso foi muito importante para conquistar esta vitória, pois lá a gente praticamente não sentava na prancha. Ficava o tempo todo só remando. O que mudou é o meu compromisso com o WQS porque o meu foco agora é total no WCT. Tenho que me preocupar em afinar as pranchas, saber quais devo usar nos tipos de mares em que vou competir. E também treinar em ondas parecidas com as dos campeonatos, pois agora disputo dois eventos em esquerdas (Fiji e Teahupoo). Defender esta liderança é meu maior objetivo. Já que começamos tão bem, ficaremos concentrados nisso.

 

Neste ano a etapa de Haleiwa soma pontos para o WCT, ao contrário do ano passado, que valia para o WQS. Isto te favorece de alguma maneira?

 

Este é um dos lugares em que já ganhei. Se precisar de um bom resultado lá, vou estar bem mais confiante. Porém, meu objetivo é chegar no Hawaii mais tranqüila. Mas, se tiver que disputar o título lá, também estarei confiante.

 

Você falou de preparo físico… Como mantém o rip fora da água?

 

Em 97 comecei a fazer yôga, natação e musculação. Mas, chegou num momento que comecei a sentir várias dores nas costas. Aí, parei no final de 99. Nos dois anos seguintes fiquei parada, sem fazer nada. Depois comecei novamente. Mas, para que este tipo de trabalho dê certo é preciso ter continuidade. Nesta última temporada havaiana, começamos a treinar um pouco por lá. Aí, quando cheguei no Brasil continuei com esse trabalho, e complementei com corridas na praia acompanhadas pela minha irmã, indo para a academia e me senti mais preparada para o circuito. Quero intercalar este trabalho com o tour para estar bem e vou aproveitar o tempo que estiver em casa para treinar.

 

Enquanto Jacque disputa competições pelo mundo afora, a família torce pela tela do computador. Foto: Arquivo pessoal.
A Tita voltou para o WCT neste ano. Ter uma companheira no Tour te motiva?

 

É muito legal ter ela competindo junto. Mas, como ela está sem patrocínio, só nos encontramos nos campeonatos.

 

 Seu técnico Bira Schauffert vai te acompanhar em todo circuito?

 

Ele vai comigo para todas as etapas do WCT. É importante tê-lo ao lado para me ajudar em todos os momentos, filmar as baterias, escolher qual equipamento vou usar.

 

Você é a anfitriã do Festival de Surf Feminino, que está previsto para rolar em setembro em Florianópolis?

 

O fato de ter uma etapa do WCT no Brasil pode mudar muita coisa no surf feminino no país. É muito importante porque Floripa nunca recebeu uma etapa do circuito mundial e é uma cidade que respira surf, tem muitas meninas que pegam onda.

 

 


Clique aqui e confira a galeria de fotos da passagem de Jacqueline Silva por São Paulo.

 

 

 

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