O mês de janeiro está encerrando com chave de ouro esta temporada de El Niño de 2016. Tivemos dois swells gigantes e várias outras ondulações pesadas. O último foi no dia 27 de janeiro, quando recebemos a ondulação mais forte da temporada.
O swell entrou com força às 9 horas da manhã e subiu muito rápido, com séries fechando a baía das 11 horas em diante. Na parte da manhã, ainda estava um pouco mais amigável o famoso “paddle out” ou remada até o pico, mas depois do meio-dia o mar ficou quase que impenetrável, com muita gente sendo varrida para o temido shore break enquanto tentava remar para o outside.
Entrei no mar às 9:30h e acabei remando pra fora da baía numa boa hora, mas dois garotos brasileiros de no máximo 16 anos cada um entraram e ficaram tomando na cabeça por umas três séries contínuas. Os garotos foram guerreiros e passaram, mas quando chegaram lá fora veio a primeira série que ameaçou fechar a baía e pediram arrego aos salva-vidas, que os levaram de volta para a praia de jet-ski. Por falar em salva-vidas, a equipe de Waimea está de parabéns! Os caras são muito feras no comando do resgate, sempre com atenção nos surfistas e dando assistência a quem precisa.
Eu também cheguei lá fora com muita ansiedade e medo. Havia uma corrente jogando para baixo do pico, isso assustava muito. Várias pessoas na água falando em sair porque o comentário era de que ia ficar pior. As séries vinham de oeste muito cavadas e grossas, pois a ondulação teve uma energia de 20 segundos ao redor dos 18 pés. Isso é muita onda!
Acabei ficando e as condições foram melhorando. Consegui também me auto controlar fazendo exercícios de respiração enquanto esperava por séries. Isso me ajudou muito a focar no posicionamento e oxigenar antes de remar nas ondas. Foram várias séries enormes durante todo o dia e o mar não estava fácil. Peguei boas ondas e tomei bons caldos. Saí do mar de cabeça feita. A cena mais impressionante do dia foi quando saí do mar e encontrei Kelly Slater, Ross Williams, Mason Ho, Daniel Skaf e mais alguns tentando entrar no mar e sendo varridos para o shore break com a baía fechando bem em cima deles. Ninguém conseguiu varar e a galera tomou várias ondas na cabeça. Ross Williams teve o leash quebrado e Kelly Slater foi cuspido do mar e teve de percorrer o famoso “caminho da vergonha” até o canto de Waimea. Eles decidiram não cair mais.
A vida está voltando ao normal agora e parece que a série de ondulações gigantes vai parar por um tempo. Esperamos que volte logo!
Ricardo Taveira é surfista, mergulhador profissional, instrutor de apnéia e proprietário da Hawaii Eco Divers & Surf Adventures, empresa de mergulho, surf e ecoturismo no North Shore de Oahu.
Gary Miyata é fotógrafo profissional de surf e surfista aposentado da geração dos Waikiki Beach Boys. Já quase aos 60 anos a sua paixão é fotografar surf, principalmente quando Waimea está quebrando. Para conhecer mais o trabalho de Gary, visite o site www.garymscreations.com.
Leonardo Dale é fotógrafo profissional de moda e paisagens do Hawaii. Sua especialidade é transformar modelos em sereias e produzar fotos aquáticas. Seu trabalho pode ser visto também no site http://www.leonardodale.com/.