Guerreiro motivado

Jihad vira página

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Jihad Khodr está motivado para retornar às competições. Foto: Binho.

Fora da elite mundial e sem patrocínio, o paranaense Jihad Khodr luta para voltar a brilhar nas competições.


Motivado e em total harmonia com si mesmo, o atleta morador de Matinhos conta com total apoio do irmão Omar nessa batalha.


Na última semana, a dupla esteve reunida com o conselho executivo e a diretoria da Associação Brasileira de Surf Profissional (Abrasp) para discutir sobre a punição sofrida pelo atleta em 2007, quando Jihad se recusou a fazer o exame antidoping na etapa final do circuito brasileiro.

 

Depois de ficar dois anos afastado dos eventos promovidos pela Abrasp, o paranaense decidiu pedir desculpas a toda a diretoria da entidade e retirar a liminar na justiça contra a

Paranaense abre mão da disputa pelo título brasileiro de 2007 e do carro Space Fox. Foto: Aleko Stergiou.

decisão tomada pela Abrasp, que retirou os pontos de Jihad e anunciou o paulista Renato Galvão como campeão brasileiro de 2007.


Em entrevista concedida ao Waves, Jihad revela que já está tomando providências para retirar a ação e admite que errou ao evitar o exame antidoping.


Assim que tomar as medidas necessárias, o paranaense ainda cumprirá um mês de suspensão pela Abrasp, para depois disputar as provas da divisão de acesso em busca do  retorno à elite.

 

Portanto, Renato Galvão fica com seu segundo título brasileiro e leva o carro Space Fox oferecido ao campeão daquela temporada.


Qual a diferença entre o Jihad de antes e o Jihad de hoje?

O Jihad de antes surfava por surfar. Sem amor, sem total dedicação e só com vontade. Arrebentava no surf mas era muito inconsequente. Hoje tenho alegria, tenho paixão por surfar, acordo todo dia 6 da manhã mesmo nos dias sem ondas, treino musculação e condicionamento físico todos os dias em Matinhos. O Jihad de hoje é mais responsavel e, se Deus quiser, vai brilhar muito e vou tentar com todas as forças voltar à elite. Quando entrei no World Tour, não conhecia muitas ondas do circuito, mas depois de dois anos consegui um pouco de experiência, e hoje, unida à vontade e amor ao surf, sinto que sou melhor pessoa e melhor surfista.

Você passou por muitas situações difíceis em sua carreira, principalmente quando chegou ao auge. O sucesso subiu à cabeça?

Mais difícil que chegar ao topo é se manter nele, mas acho que não tinha toda a estrutura psicológica para isso. Quando acontecia alguma coisa ruim, isso me afetava tambem dentro da água. A respeito se o sucesso subiu à cabeça, um pouco sim. É normal com todos que chegam, você se deslumbra com tudo que acontece. Hoje, com certeza lidaria muito melhor em todas as situações, positivas e adversas.

Acha que faltou apoio das empresas que investiam em você quando passou por esses momentos críticos?

Acho que poderiam ter uma participação maior nesses momentos. Sempre dei retorno para as marcas que trabalhei, tanto na midia quanto em resultados. Mas mesmo assim agradeço a todos que investiram em mim.

O empresário Rodrigo Tusca acompanhou sua carreira durante grande parte do tempo. Como é sua relação com ele atualmente? Quais os erros e acertos dele durante o trabalho que desenvolveram juntos?

Acho que o que rolou com Tusca já é passado. Prefiro não comentar.

O que mudou depois que seu irmão passou a cuidar de sua carreira?

Omar tem total controle da minha carreira, ele cuida de tudo. Ele aprendeu muito rápido o trabalho de manager e é muito organizado com as coisas e isso me deixa na tranquilidade para apenas surfar. E além do mais é meu irmão, né? Confio 100% nele.

Peterson Rosa te dava muita força no início da carreira. Você ainda tem um bom relacionamento com ele?

É um cara que me ajudou e sempre serei grato. Ele me levou pela primeira vez ao Hawaii e fizemos várias barcas juntos, além de ser um grande surfista que ficou anos no tour, tricampeão brasileiro e meu conterrâneo.

Por tudo o que passou, qual o conselho que daria aos surfistas mais jovens?

Foquem em seus objetivos, sejam humildes e se preparem para abrir mão de muitas coisas para conseguir “seu lugar ao sol”. Procurem ter pessoas de bem ao redor de vocês. Esse é meu recado.

Por que você perdeu os últimos patrocínios (Quiksilver e HB)? O que eles alegaram a você?

Com a Quiksilver pesou a questão da ação contra a Abrasp, quando fui imaturo e muito mal assessorado na época. No caso da HB, o que me alegaram foi que não teriam verba para manter um atleta do meu nível, já que custa uma grana. São viagens, hospedagens, inscrições, alimentação etc.

Você esteve reunido com a diretoria e o conselho da Abrasp no Rio. O que ficou decidido?

Nos reunimos e decidimos, eu e meu irmão, que não havia por que continuar com essa ação. Nunca partiu de mim mover uma ação contra a entidade que rege o surf nacional e na qual só tenho amigos, mas como disse antes, era imaturo e muito mal assessorado. O que ficou decidido ao término da reunião foi que me desculpei a todos do conselho e ao Marcelo Andrade, cumpri minha punição e vou lutar para conseguir uma vaga no Brasil Surf Pro. Para isso tentarei correr etapas do Brasil Tour quando não coincidirem com importantes etapas do WQS e conseguir os pontos necessários para isso. Eu já havia conversando com o Marcelo numa etapa do WQS que rolou em 2008 no Arpoador e só faltava essa reunião para selarmos as pazes. Esse circo todo foi armado por pessoas que queriam se promover nas minhas costas, eu fui o principal prejudicado nessa história. Sei que errei também e por isso quis retirar a ação. Peço desculpas a todos pelos transtornos causados por essa atitude impensada. Se tivesse na época a cabeça que tenho hoje, isso tudo jamais teria acontecido.

Pretende começar uma nova vida a partir de agora?

Já comecei. Apesar dos resultados de 2009 não terem sido os que eu pretendia, no lado pessoal eu me encontrei. Tudo é um conjunto, o Jihad de antes não tinha fé, não tinha amor… Hoje sei que sou uma pessoa muito melhor e espero colher em breve os bons frutos que estou plantando. Hoje posso dizer sem medo que sou um atleta profissional.

Ainda acha que é injusto perder um título que conquistou na água, e, consequentemente, o prêmio?

Antes até pensava dessa forma, mas hoje vejo que fugi da regra e mereci a punição, não só no surf, mas a vida é feita de regras e aprendi que tenho que ser responsavel pelos meus atos.

Como ficou sua relação com Renato Galvão depois do episódio? Acha que ele está certo em brigar pelo título?

Cara, no começo a relação ficou meio esquisita, por minha culpa. Por não saber lidar com toda essa situação de perder o titulo e ficar com ele. No final de 2009, no Hawaii, estávamos nós dois na água e conversamos pra caramba e acabamos com qualquer divergência que toda aquela situação acabou causando. Renato é um cara que só subiu no meu conceito, é um cara de caráter, digno de ficar com o caneco. Um exemplo dentro e fora da água.

Para finalizar, deixe um recado para os empresários e internautas. Por que eles ainda podem apostar no Jihad?

O Jihad de 2010 é uma versão bem melhorada do Jihad de antes. No surf, com a experiência adquirida em dois anos de World Tour, e na vida aprendi muito com tudo que passei, coisas boas e ruins. Hoje sei distinguir o certo do errado. Gostaria de agradecer a todas as pessoas que me apoiaram e que torcem por mim. Para os empresários, quero dizer que o Jihad está pronto para fazer o que mais gosta e sabe nessa vida, que é surfar. Podem apostar em mim, vocês verão um Jihad dedicado, cumprindo com seus compromissos, com sede de vitórias e surfando como nunca! Um abraço e Deus abençoe a todos.