Leandro Guilheiro troca tatame pelas ondas

Almir Salazar e Leandro Guilheiro

Almir Salazar dá umas dicas a Leandro Guilheiro. Foto: Ivan Storti / FMA Notícias.

Ele foi o primeiro brasileiro a garantir uma medalha nos Jogos Olímpicos de Atenas. Faturou o bronze no judô.

 

Agora, passada toda a comemoração, o santista Leandro Guilheiro se prepara para uma nova etapa na vida.

 

O atleta ficará afastado dos treinos e campeonatos por cerca de quatro meses, porque será submetido, na próxima terça-feira (21/9), a duas cirurgias simultâneas, uma na mão esquerda e outra no quadril.

 

Já de folga, ele aproveitou para mudar um pouco de esporte, trocando o tatame pelas ondas por uma tarde.

Guilheiro levou a medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas. Foto: Ivan Storti / FMA Notícias.

 

Tendo como professores duas lendas do surf brasileiro, os irmãos Picuruta e Almir Salazar, o judoca vestiu uma lycra e foi aprender a pegar ondas de pranchão em Santos, na praia do José Menino, junto ao Quebra-Mar.

 

?Eu nunca tive tempo. Estava sempre treinando ou estudando (atualmente cursa o 1º ano de Direito na Unimonte) e quando tinha folga, aproveitava para dormir?, disse, rindo, o judoca de 21 anos.

 

?Eu sempre tive muita curiosidade e antes de ir para Atenas eu comecei a ler a biografia do Kelly Slater. Mesmo quem não é do surf o conhece”, continua.

Leandro Guilheiro recebe os cumprimentos de Picuruta Salazar. Foto: Ivan Storti / FMA Notícias.

 

“Queria saber o segredo de um hexacampeão mundial, aprender mais e usar no judô. Vi que como outros grandes campeões, ele é bem competitivo, não desiste. E isso acabou me incentivando a aprender mais sobre o surf?, revelou o atleta, que também foi campeão mundial júnior.

 

Ele entrou no mar descontraído. ?No judô você cai pra caramba quando está treinando. Aprende caindo. Então, cair da prancha no mar não é problema?, disse.

 

E bastaram três tentativas (sempre acompanhadas de perto por Almir e Picuruta) para o judoca ficar em pé na prancha e deslizar na onda. Mas foram várias quedas também.

Guilheiro, Almir e Picuruta são entrevistados pela repórter da Sportv. Foto: Ivan Storti / FMA Notícias.

 

?Foi legal, pura diversão. Imagino como deve ser, se eu soubesse mesmo. Em alguns fundamentos os dois esportes são parecidos. No judô é preciso agilidade, como aqui?, explicou.

 

?Quando eu tiver tempo livre, com certeza vou tentar surfar mais, até porque eu adoro o contato com a natureza e no surf você está junto de tudo, bem diferente do judô, onde sempre estamos fechados numa sala?, acrescentou empolgado.

 

Os ?professores? aprovaram o aluno aplicado. ?Ele é um campeão. É mais fácil aprender. Logo na 3ª onda ele pegou uma onda. Tem agilidade e é só seguir umas aulas que pega o jeito?, comentou Almir (AntiQueda), 46 anos, único tetracampeão paulista profissional na história e atual líder do Okdok Paulista de Surf na categoria master.

 

Picuruta, 43 anos, surfista com mais títulos no Brasil e atual líder do ranking brasileiro de longboard profissional, também ressaltou as qualidades de Leandro. ?É um orgulho ter um atleta que batalhou tanto por uma medalha aprendendo nosso esporte. Outros destaques já estiveram aqui, como o Robinho e o Diego. Ele deu um ippon nas ondas. Só o contato com a natureza que teve já valeu?, ressaltou o surfista, patrocinado por Unimonte, Red Bull, Da Hui, Surftrip, New Advance, VI e Reef.

 

Cirurgias – Depois da nova experiência esportiva, Leandro agora se prepara para as cirurgias. Na mão, ele tem uma fratura no escafóide, causada durante um treino ano passado por um lutador mais pesado que caiu sobre o seu braço. No quadril, tem uma contusão no ?lábio acetabular?, desde 2001, que lhe causava dor constante. ?Fraturei minha mão no ano passado, mas não tive como parar para operar, porque perderia as seletivas para Atenas. E esse era o objetivo de minha vida. Estava machucado, mas a determinação foi maior?, disse. ?Agora mesmo no surf, sentia dores quando me apoiava na prancha, ao remar?, comparou.

 

?Vou aproveitar para fazer as duas cirurgias de uma vez. Vou ficar afastado por uns quatro meses. A fisioterapia vai ser fundamental, mas tenho certeza de que vou voltar 100%, melhor ainda?, destacou, mostrando confiança. Tanto nas seletivas quanto nos Jogos de Atenas, Leandro competiu com dores e sem a força total da pegada. As cirurgias serão coordenadas pelo médico Wagner Castropil, ex-judoca olímpico (Barcelona/92).

 

?A mão será operada pelo Doutor Pisteli e o quadril pelo doutor Henrique Cabrita. Eu confio muito no trabalho deles. Se depender de mim vou voltar melhor?, disse. ?Quando você quer, consegue atingir seus objetivos e tenho convicção que vai dar tudo certo. Ainda tenho muito o que fazer. Quando estou no Dojo, sei que estou mais próximo de Deus e sei que a minha medalha olímpica tem um propósito, o de colocar pessoas no caminho certo?, refletiu.

 

?Várias crianças já começaram no esporte, incentivadas pela minha conquista e por isso quero continuar?, contou. ?Eu lutei com a mão quebrada e essa parada já estava programada antes da Olimpíada. O objetivo é continuar na seleção brasileira e disputar mundiais, o Pan de 2007 e o objetivo principal, Pequim em 2008?, acrescentou Leandro, que deve estar de volta aos tatames em fevereiro ou março.

 

Nascido em Suzano e morando em Santos há 10 anos, Leandro começou a praticar judô bem cedo, aos cinco anos de idade. ?Comecei porque meus colegas foram fazer aula.

Falo sempre que não escolhi o judô, o judô me escolheu?, afirma. ?Minha mãe achava que eu não iria gostar. Nem o quimono ela queria comprar. Mas quando viu que eu me adaptei e gostei, deu toda a força?, recordou, lembrando da mãe, Regina, sua grande incentivadora.

 

?Ela sempre me acompanhou em treinos e competições. Mas nunca me cobrou resultados. Como tudo na vida, ela só quer que eu faça direito aquilo que me proponho a fazer e me esforce para isso?, descreveu. ?Minha mãe é um dos motivos que me fizeram chegar aonde já cheguei?, elogiou.

 

Logo o judoca passou a treinar na Associação Paulo Duarte. Lá ele conheceu o técnico Ivo Nascimento, que o levou para a Associação Rogério Sampaio. Hoje, Ivo e Rogério são seus treinadores. Apesar de jovem, Leandro já possui uma coleção de títulos. Além da medalha olímpica e do mundial júnior, foi campeão pan-americano júnior, também em 2002; medalha de bronze (por equipe) no Grand Prix Nacional 2003, tricampeão brasileiro, vice-campeão Brasileiro Sênior (2002) e dez vezes campeão paulista.

 

Futuro – Como a carreira de atleta é curta, Leandro Guilheiro já pensa no futuro. Ele cursa o 1º ano da Faculdade de Direito, no Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte). E diz que nos estudos também está em boa fase. ?A diretoria e os professores estão sendo muito compreensivos comigo. Minha vida no esporte uma hora vai terminar, não dá para ficar totalmente dependente dele. Por isso temos que estar preparados?, esclareceu. Mas este é um objetivo ainda distante. Antes, virão mundiais, os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, e a olimpíada de Pequim, em 2008.

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