Espêice Fia

Legados do Waimea 5000

Picuruta Salazar entre o pai e Randy Rarick no Waimea 5000, praia do Arpoador, 1980

Picuruta Salazar entre o pai e Randy Rarick durante o Waimea 5000, praia do Arpoador, 1980. Foto: Arquivo Pessoal Picuruta Salazar.

Esta semana, enquanto folheava uma reportagem sobre Nelson Machado em uma revista de surf, a viagem começou. 

Para quem não sabe (e nem eu sabia o sobrenome), Nelson Machado foi quem deu o pontapé inicial para o surf mundial estar presente no Brasil através das competições.

Arpoador, palco do primeiro evento em 1976, o Waimea 5000. Em reportagem saudosista e esclarecedora, o autor Kevin Assunção fez Nelson tirar do fundo do baú histórias muito boas.

Imagino o quanto foi difícil emplacar naquela época um evento mundial. Esporte ainda muitíssimo marginalizado pela sociedade, fez a dificuldade para se arrumar co-patrocinadores para o evento que, segundo Nelson, acabou precisando secar o pote, botando a premiação do próprio bolso.

Quando comecei a pegar onda, ainda deu pra ver algumas revistas Brasil Surf antigas com fotos da última edição do evento, em 1982. Ainda não entendia direito, mas acho que já sabia do que se tratava.

Por problemas de saúde, Nelson não realizou mais o evento e o buraco só foi preenchido em 86 (quando a extinta IPS já havia dado lugar a ASP) com o  primeiro Hang Loose Pro Contest.

Até então excelentes resultados de brasileiros. Vitórias de Pepê Lopes e Daniel Friedmann. Vice-campeonatos de Roberto Valério, Valdir Vargas, Ismael Miranda e um terceiro do Cauli Rodrigues. Quatro anos sem uma etapa no Brasil e o surf em plena evolução! Nosso país seguia anos atrás de Estados unidos e Austrália e acho que esssa brecha deve ter deixado um vazio enorme.

Vazio esse que durante o Hang Loose voltou a ser preenchido com a bela campanha de Sergio Noronha, que ainda como amador fez muita gente acreditar que os brasileiros poderiam ir sim muito bem no surf mundial.

Eu mesmo me espelhei bastante no Noronha, pois não consegui estar presente no Hang Loose e aquilo pra mim passou a ser um sonho a seguir, ou seja, ter uma carreira no surf com bons resultados.

Anos se passaram, acho que o também carioca Renato Phebo foi o primeiro brasileiro a correr o circuito mundial todo, de cabo a rabo, com o patrocínio da British Airways. Outras gerações vieram. Eu, Teco, Piu Pereira, Victor Ribas, Peterson Rosa, Renan Rocha, Guilherme Herdy, Jojó de Olivença, Neco Padaratz e muitos outros seguiram os passos. Hoje temos aí Mineirinho e Gabriel Medina puxando o pelotão.

Desde que iniciamos naquela nova era de brasileiros no tour, escutávamos que um dia iríamos ser campeões mundiais. Parecia estar próximo, devido aos bons resultados, mas a cada ano esse próximo parecia ficar longe.

Talvez a geração anterior a esta, que está fazendo o tal ataque Brazilian Storm, tenha tido resultados abaixo de seus surf, no entanto está contudo e vejo que este tal título de campeão esteja mais próximo do que nunca.

Mas talvez este próximo ainda dure uns quatro anos. Será? Bom, em termos de evolução, pode ter sido a brecha deixada pelo Waimea 5000 e preenchida pelo Hang Loose. O surf brasileiro evoluiu muito!

Os estrangeiros também continuam a evoluir. Mas acredito na garra dos brasileiros e mais cedo ou mais tarde, esse danado desse título virá.

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