Evolução do shape

Lelot sintonizado com os tops

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Fanning analisa as pranchas de Lelot um dia antes de sagrar-se campeão mundial. Foto: Arquivo Pessoal.

O shaper brasileiro Henry Lelot está sempre presente à etapa brasileira do WCT para encontrar os melhores surfistas do mundo, como os amigos Occy e Andy Irons, além de constatar as novidades que vêm sendo utilizadas em suas pranchas.

 

Em conversa com meu companheiro de profissão Avelino Bastos, a respeito da Sociedade Brasileira de Shapers, que vem promovendo a união entre os fabricantes de pranchas do nosso país, chegamos a comentar que as pranchas, de uma maneira geral, pouco haviam mudado e que não nos parecia haver nenhuma novidade técnica. Realmente foi essa também a minha primeira impressão.

 

Durante o evento tive a oportunidade de conversar com alguns tops e conferir detalhadamente suas pranchas. Entre eles, meu amigo Occy, CJ, Fred Patachia, Jeremy Flores e também Mick Fanning, com quem tive uma conversa exclusiva no hotel durante mais de 30 minutos, um

dia antes de ele sagrar-se campeão mundial.

O campeãomundial  encomenda uma prancha para testar no próximo ano. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Com todos tive a oportunidade de conversar a respeito do trabalho social realizado pela ONG O´Surfe (Organização Surf do Brasil), que realiza um trabalho de formação de novos talentos para o esporte, com comunidades de baixa renda de todo o Brasil, especialmente os provenientes das favelas do Rio de Janeiro.

 

Um trabalho premiado, com o qual capacitamos dezenas de jovens nos últimos anos em várias atividades ligadas ao surf, além do treinamento para competições. Todos, sem exceção, parabenizaram o trabalho e ofereceram pranchas e objetos pessoais autografados com algumas palavras de motivação para os garotos, e isso foi muito bacana.

 

Também tive a oportunidade de mostrar meu trabalho, explicar melhor como funciona o método Computer Design System, que pode revolucionar a arte do shape no mundo todo, por proporcionar um maior grau de personalização, proporcionalidade e precisão nos shapes. Mais uma vez, a receptividade foi muito boa, ao ponto de o novo campeão encomendar uma prancha para testar no próximo ano. 
 

Realmente, pouco mudou nas pranchas em relação ao ano passado, mas um pequeno detalhe eu acabei constatando ao comparar as medições de um ano para o outro, em análise feita já em minha oficina na volta ao Rio de Janeiro. Trata-se de uma diminuição mínima na curvatura de rocker, especialmente no ponto 1R (cerca de 12 polegadas de distância a partir da ponta da rabeta).

 

Com a curvatura menos acentuada nesse ponto, a prancha teoricamente ganha pegada, isso é, ela garante mais explosão, permitindo ao surfista afundar o pé e jogar mais água nas manobras, uma vez que ela se projeta com mais impulsão da base para o lip.

 

Esse detalhe também aumenta a velocidade média da prancha e facilita ao surfista passar as seções rápidas da onda, sem movimentos desnecessários, garantindo uma linha de surf limpa como exige atualmente o critério.

 

Trata-se de um pequeno detalhe, algo em torno de 1/16? (pouco mais de 1 milímetro), que faz, porém, grande diferença na água, sobretudo tratando-se de atletas de ponta, cuja sensibilidade é muito maior do que a do surfista comum, em função do alto grau de habilidade. 

 

Li recentemente, em um dos guias de pranchas publicados na mídia impressa neste fim de ano, que o tipo de fundo mais utilizado ainda é o single concave to double entre as quilhas. Porém, desde o ano passado não mais tenho visto esse fundo nas pranchas dos top 45, com exceção das maroleiras, que requerem maior agilidade nas trocas de bordas, em função da menor distância entre a base e o lip.

 

Tenho constatado, também, que a maioria deles prefere utilizar a prancha do dia-a-dia para qualquer condição de mar.

 

Todas as pranchas que conferi neste ano tinham o mesmo vee concave bottom que constatei como novidade no ano passado. Esse fundo, a meu ver, se adapta melhor aos atuais critérios de julgamento por combinar a eficácia do single concave na projeção da prancha, com a reconhecida capacidade de derrapagem sob controle do fundo flat.

 

O double concave não vem sendo aplicado nesse mix para garantir uma linha de surf com mais drive e menos troca de bordas entre as manobras, sobretudo em função da distância entre a base e o lip ser maior do que no caso de ondas pequenas.

 

Bom, por ora é isso, pessoal. Para o início do ano, estou preparando uma série de matérias sobre treinamento esportivo voltado para o alto rendimento nas competições, contando com o auxílio de profissionais experientes que atuam comigo no treinamento de atletas amadores e profissionais.

 

Boas ondas e boas festas a todos!

 

Para obter mais informações, entre em contato pelos telefones (0xx21) 2490 6412 ou 9848 9880.