Essa é uma daquelas histórias que merecem ser contadas com os mínimos detalhes.
No final do mês de agosto, fui para Nias com meu amigo Bruno Pitanga. Nossa viagem teria a duração de 11 dias, mas como vimos que o swell chegaria justamente nos últimos dias de viagem, mudamos nossas passagens. Estendi minha passagem para mais três dias, pois tinha que voltar para Austrália ajudar minha esposa Ana, que com a ajuda de Maira, esposa de Bruno, ficou cuidando de nosso filho Josh, de apenas 5 meses.
Parecia tempo suficiente para pegar altas ondas, embora tivesse um segundo swell marcado justamente para o dia do meu voo de volta. Realmente foram três dias de altas ondas, mas o dia em que saí de Nias, quebrou um dos melhores mares da última década. Fiquei muito feliz de ter pego um tubo animal bem cedo nesse dia, mas no dia seguinte ao chegar em casa e ver as fotos no Facebook, fiquei muito triste pensando que tinha perdido um dos melhores dias de surf da vida. Daí em diante, fiquei obcecado pela ideia de ter que voltar e pegar os tubos da vida. A ideia era encomendar pranchas boas, me preparar fisicamente e voltar em 2014, mas sem motivo algum, checava a previsão das ondas em Nias diariamente.
No dia 2 de outubro, vi alguns posts no Facebook a respeito de um swell enorme que chegaria na Indonésia entre os dia 8 e 9, com o título de maior swell da temporada e possivelmente um dos maiores da história. Meu grande parceiro Tito Cezar, que não pôde ir na primeira trip, ficou louco e comprou a passagem para o dia 10, botando aquela pilha. O problema é que a vida não anda fácil aqui no outro lado do mundo e ainda mais com um filho recém-nascido. Ana trabalha quatro dias na semana, bem cedo, e eu fico encarregado de cuidar do Josh até a hora dele entrar na creche. O problema era que se eu viajasse, quem iria fazer essa função? Foi quando tivemos a ideia genial (risos) de encenar uma contusão, para ela conseguir um atestado médico pelo curto período da viagem, para que eu pudesse correr atrás da onda dos sonhos.
Foi bem complicado para organizar tudo e acabei comprando a passagem na véspera da viagem para o dia 8, pois até o último minuto ainda tinha dúvidas em relação à direção do vento, que segundo os sites diziam, seria um problema em alguns lugares.
Passagem comprada e não tinha mais como desistir. O swell estava marcando 8 a 12 pés em Nias e em alguns momentos 9 a 14. Ainda tinha a dura missão de dormir no aeroporto de Medan esperando o voo pra Nias bem cedo. Confesso que estava bastante nervoso, adrenalizado, sabia que ia chegar lá e já estaria bombando. Na bagagem só tinha duas pranchas, uma 6´4 Xanadu e uma 6´6 Eric Arakawa, que consegui emprestada no último minuto. Ao chegar na vila, percebi que o mar já estava grande, entre 6 a 8 pés e ganhando pressão. Na minha primeira sessão, consegui pegar um tubo alucinante filmado de dentro e fora da água. Logo depois parti a prancha num drop insano, e por muito pouco não fui triturado pelo lip, apenas consegui jogar pra dentro, mas estava muito atrasado. Me restou a prancha 6´6 e não podia cometer mais nenhum erro. Nesse primeiro dia o mar ganhou pressão, mas a brisa de maral aumentou e estragou o mar pelo resto do dia.
No dia seguinte, 10 de outubro, era o dia que o swell marcava como maior dia nos sites. Bem cedo o mar parecia estranho, mas no decorrer do dia foi acertando e ficando bem pesado. Logo pela manhã não consegui me encontrar muito e acabei partindo a 6´6 numa onda relativamente pequena. Saí do mar desanimado, mas logo que cheguei na praia, o local e fotógrafo Paul, me falou que tinha uma 6´7 que ficaria boa para mim. Sem hesitar, peguei a prancha e caí na agua. A prancha ficou realmente muito boa, apesar de ser bem velha. Na parte da tarde o mar simplesmente acertou e ganhou força, muitas ondas passaram quebrando sozinhas, pois todos dentro da água estavam tensos. Caras como Marti Paradisis, Mikala Jones, Jerônimo Vargas, Skeet Derham e outros nomes, estavam no outside tentando pegar algumas daquelas monstras. Sem exceção, todos eles em algum momento puxaram o bico. Inúmeras ondas eram insurfáveis na remada, mas não por causa do tamanho, mas pelo volume de água que entrava na baía, com uma força e velocidade assustadora. Aos poucos todos foram se soltando e quando cada um pegou um tubo animal, todos faziam o mesmo comentário, “vou sair, já foi suficiente!”. Eu também já tinha pego um tubo muito bom e um razoável numa intermediária quando resolvi sair do mar. Ao chegar na praia e olhar para o mar com ondas de 6 a 10 pés, vento terral e 5 ou 6 cabeças lá fora no fim de tarde, pensei comigo mesmo, “o que estou fazendo?” Alguma coisa me dizia para voltar lá pra fora, que ainda não tinha pegado o tubo da trip. Corri até a pousada para ver se Tito tinha chegado e fiquei sabendo que ele tinha acabado de entrar na água. Fui mais rápido ainda com a companhia de um brother para instigar mais. E o resultado vocês podem conferir no último tubo do vídeo. Esse tubo realmente ficou marcado na minha memória. No momento em que dropei não fazia idéia que a onda seria tão oca e grossa. Depois desse tubo saí da água amarradão e fui tomar uma cerveja com os caras, que estavam todos de cabeça feita e comentaram dessa onda no mezzanino da pousada do Rash.
Os dias seguintes quebraram perfeitos com 4 a 6 pés e séries maiores. E como não podia faltar, no fim da trip passei uma roubada. Devido a chuva, meu voo de Nias foi cancelado e como era o último voo, só voaríamos no dia seguinte bem cedo. Como minha conexão para Austrália saía de Kuala Lumpur, também bem cedo, acabei perdendo meu voo. No fim deu tudo certo, voei de Medan para Singapura e fiz uma conexão para Gold Coast. Prejuízo de 500 dólares, mas valeu a pena depois de tanta adrenalina nos tubos de Lagundri Bay.
Fonte: SurfBahia