Lisergia Clássica é um filme que retrata a pureza do surf, tendo como destaque grandes nomes do Longboard brasileiro e mundial. Idealizado pelo longboarder Jaime Viudes e com fotografia de Paulo Camargo, apresenta uma filosofia poética através das performances de surfistas atuais e depoimentos de lendas do esporte, que encaram o surf pelo simples prazer de surfar.
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A riqueza de informações e de imagens clássicas faz com que o filme ultrapasse as expectativas de quem espera um vídeo de surf normal, transformando-o num documentário sobre o lirismo do esporte.
Após passagem pela Califórnia em maio, onde aconteceram as primeiras gravações, estávamos bastante focados em produzir um forte conteúdo nacional.
Tentamos algumas investidas a cada swell que encostava, mas nenhum nos convenceu de que estaria à altura das nossas ambições.
Acordei agoniado na última terça-feira de agosto. Analisando os sites de previsões das ondas, vi que uma consistente ondulação encostaria na região de Chicama em dois dias, com duração de uma semana.
Decidi que teríamos que chegar lá junto com as ondas e liguei para o Paulo Camargo, que topou imediatamente. Disparei emails convidando alguns dos melhores longboarders do Brasil.
Tive respostas positivas do Danilo Mullinha e do Alex Leco, que conseguiram se agilizar a tempo para nos acompanhar.
Optamos por uma rota mais longa, porém mais em conta, fazendo escala em Bogotá, Colômbia.
Na hora de recolher o equipamento em Lima, capital peruana, nossas bagagens não apareceram na esteira, causando uma frustração geral, pois estávamos empolgados com a possibilidade de pegar os 8 pés de onda que apontavam em Chicama no primeiro dia do swell.
Após um longo trâmite burocrático, colocando pressão no pessoal da companhia aérea, não tivemos outra alternativa a não ser embarcar para Huanchaco e esperar pelas pranchas no primeiro vôo do dia seguinte.
Aproveitamos para rever os amigos locais, pois há três anos frequentamos o balneário para o campeonato mundial de longboard. Jantamos com dona Ana, proprietária do restaurante My Friend e muito amiga dos longboarders brasileiros.
Acordamos com ondas de até 10 pés e muita correnteza na praia de El Elio. Imaginei Chicama épico e liguei para a companhia aérea, quando fui informado que as pranchas só chegariam no vôo das 14:00 hr. Às 13:00 já estávamos no aeroporto de Huanchaco agoniados.
Com as pranchas nas mãos, corremos para Chicama. A máquina estava funcionando e fomos agraciados com um fim de tarde psicodélico. Deu tempo para três ondas cada, antes de anoitecer. Tratando de Chicama foi suficiente.
No dia seguinte contratamos os serviços de barco do nosso amigo Zorro, pilotado pelo seu fiel escudeiro, o carismático Chicho. À tarde o mar ficou melhor ainda e só naquele primeiro dia já tínhamos garantido um excelente material de água.
Naquela altura estavam todos certos de que o investimento e a correria desde o Brasil valeram a pena. O dia seguinte foi ainda melhor. As ondas estavam um pouco menores, mas todos surfaram mais soltos.
No terceiro dia, a manhã ainda rendeu bastante, mas com o mar acalmando durante a tarde era hora de seguir para Pacasmayo.
Mullinha e Leco não conheciam El Faro. Aliás, essa era a primeira vez que o Alex Leco surfava fora do Brasil. Conforme Chicama ia ficando para trás, eu dizia que preferia Pacasmayo e eles desconfiavam.
O primeiro surf em El Faro foi épico. Ondas de 2 metros e muita velocidade deram base para minha comparação entre Chicama e Pacasmayo.
À tarde fizemos um surf lisérgico, quando estávamos apenas os três no pico com ondas massudas e séries sobrando. Um final de tarde alaranjado deu o tom ideal para sustentar o nome do filme.
Era a metade da viagem e eu já estava mais do que satisfeito com as ondas gravadas. Ainda investimos em Poemape. Mesmo com ondas fortes, Leco e Danilo resolveram descansar e caí sozinho.
Por conhecer bem o lugar, pilhei Paulo Camargo para voltarmos de tarde para dar uma atenção maior na fotografia do filme, pois o lugar representa a verdadeira essência da região.
Passamos uma tarde poética, gravando as características de tudo que envolve o local. Foi um prato cheio para o Paulinho, que ficou extasiado para produzir a fotografia do filme, um dos nossos principais objetivos. Leco e eu aproveitamos os últimos raios de luz para mais umas ondas.
Tínhamos mais dois dias e meio no Peru e resolvemos voltar a Huanchaco, pois queríamos gravar mais conteúdo cultural. Fiz questão de levar os caras aos sítios arqueológicos de Chan Chan, uma civilização pré-Inca que habitou a região.
Passamos por museus, no centro histórico de Trujillo, a segunda maior cidade peruana, e ainda fomos tentar pegar ondas com os cabalitos de totora. Esse foi um dos episódios mais pitorescos da viagem, onde demos boas risadas.
Cenas que poderão ser vistas em breve no teaser da viagem. Ainda pegamos umas marolas clássicas em Huanchaco e curtimos uma noite agradável do mais puro rock’n´roll no My Friend, regada a pratos típicos e algumas cervejas.
Diversão, camaradagem, visuais incríveis e muita onda perfeita foram ingredientes para uma trip inesquecível. Uma semana que pareceu um mês, tamanha a intensidade que foi vivida.
O sentimento de poder viajar na companhia de quem leva o surf na alma é indescritível. Impressionante como pode aproximar as pessoas. O fato de ter sido a primeira viagem do Leco foi um presente para todos.
Cada pessoa que passou pelo nosso caminho, de diferentes nacionalidades, deixou algo precioso, mas principalmente levou o que cada um de nós tinha de melhor naquele momento, que era estar lá pelo simples prazer de surfar.
A alegria foi maior por estarmos fazendo aquilo com a oportunidade de registrar tudo, deixando um legado de amor ao surf e de amizade.
Fico ansioso por ver esse filme pronto, mas algumas vezes tenho vontade que ele não acabe nunca, a fim de que esses momentos se perpetuem.