Louco por ondas grandes

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Eric Akiskalian no turbilhão de Teahupoo, Tahiti. Foto: Scott Winer.
O californiano Erick Akiskalian, 46 anos, local de Santa Bárbara, é um dos principais responsáveis pelo crescimento e profissionalismo alcançado pelo surf em ondas grandes, em especial o tow-in, nos últimos anos.

 

Proprietário do Towsurfer.com, maior site especializado em ondas grandes do mundo, e diretor da associação de surfistas de tow-in profissionais, Akiskalian vê um grande futuro para a modalidade e é fã dos atletas brasileiros.

 

?Os brasileiros são tão ou mais agressivos nessas ondas do que os maiores nomes do esporte no mundo?, afirma Akiskalian.

 

Eric e o parceiro Chuck Patterson durante session em Shark Park, Califórnia (EUA). Foto: Arquivo pessoal Erick Akiskalian.
Ele também é extremamente preocupado com o mau uso e o crescimento desenfreado de jet-skis nos outsides. ?Alguns surfistas sem noção ainda criarão muitos problemas. Regra número 1: surfista na remada, nada de tow-in?.

 

Em entrevista realizada por e-mail após uma sessão de altas ondas na América do Sul, ele crê que o surf em ondas grandes exige mais experiência do que jovialidade e não gosta de comparar as maiores ondas do mundo.

 

?Todas elas merecem respeito e podem tirar sua vida?, sentencia.

 


Como está a vida, Eric?

 

A vida está ótima. Minha família e amigos estão com saúde e eu tenho mais um filho homem a caminho. Pra completar pegamos ondas enormes na América do Sul no mês passado.

 

Como surgiu a idéia de batizar o site de Towsurfer?

 

A idéia veio um dia e achei excelente. Visualizei algo para o futuro da modalidade.

 

Quando e como você teve essa iniciativa?

 

Foi no ano de 2000, quando eu comecei a praticar o tow-in. É um ótimo caminho para promover o esporte e os atletas e também nossas expedições e aventuras.

 

No Towsurfer.com as pautas são exclusivamente sobre ondas grandes?

 

O website é basicamente um meio de promover a modalidade, swells, expedições ao redor do planeta. Nós gostamos de ter imagens de vídeo e fotos do que está rolando ao redor do mundo.

 

Cinco anos atrás você visualizava o crescimento que a modalidade teve?

 

Quando comecei a praticar o tow-in em 2000 eu visualizei meu sonho de surfar essas ondas e aprender com os melhores do mundo. O site tem me ajudado a conhecer pessoas incríveis que se tornaram grandes amigos e alguns se tornaram verdadeiros ?mentores?. Hoje eu vejo que anos atrás já tínhamos essa visão que o esporte iria explodir, porém todos nós estamos semeando o esporte para a próxima geração e existem milhares de pessoas interessadas em se tornar parte disso.

 

Qual é o maior objetivo dos atletas e pessoas que admiram a modalidade hoje?

 

Olhar e fazer com que esse esporte seja sério e praticado com segurança e ética. Esse é um esporte de vida e morte e deve ser tratado como tal o tempo todo. Claro que devemos nos divertir muito e vibrar também. Mas coisas ruins podem ocorrer em qualquer sessão dessas que fazemos. Até agora ninguém morreu praticando tow-in, mas um dia isso irá acontecer. Em todos os esportes extremos infelizmente alguém morre. É inevitável.

 

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O big rider desce a ladeira totalmente irregular de Shark Park. Foto: Arquivo pessoal Erick Akiskalian.
O tow-in abriu os olhos da grande mídia no Brasil e atraiu os olhos do grande público para a modalidade, promovendo o crescimento do surf em geral. Como é nos EUA?

 

A mídia aqui na América nos últimos quatro anos tem aberto os olhos para o tow-surf e eu espero que isso aumente ainda mais.

 

Você está envolvido com a Pro Tow Association. Quais os objetivos dessa associação?

 

Ela foi fundada no dia 6 de março de 2003 com a responsabilidade de ajudar o crescimento e desenvolvimento do esporte nos quesitos segurança, técnica, informação e produtos, além de eventos e educação.

E vira uma vaca que o deixou vários segundos embaixo da água. Foto: Arquivo pessoal Erick Akiskalian.

Nossos maiores objetivos são documentar a modalidade. A associação de surfistas de tow-in profissionais tem que unir os patrocinadores, eventos e mídia em um único objetivo que é profissionalizar o segmento. Queremos expandir nosso suporte e prover acessos certificados para o tow-in, apresentando as normas de segurança e apoio para novas associações locais.

 

Você acha que teremos um circuito mundial de tow-in? Quais as maiores dificuldades para que isso aconteça?

 

Essa é uma pergunta bem complexa. Para tudo necessitamos de dinheiro e esforço. Nós precisamos do esforço de outras pessoas que sintam vontade de ajudar nesse projeto. Hoje nós não temos os fundos necessários para realizar do jeito correto. Eu não quero ter um evento somente para tê-lo. Eu quero grandes companhias por trás com grandes verbas, assim os competidores seriam bem pagos para arriscar suas vidas por um bom espetáculo.

 

O que você tem a dizer sobre atletas que surfam ondas de 20 pés e acham que são big riders?

 

Qualquer um que já andou dentro de uma onda de 60 a 80 pés de face pode se considerar um surfista de ondas grandes. Qualquer um que tomar um caldo desses pode se tornar um. Um verdadeiro big wave rider na realidade pode remar em uma onda de 30 a 40 pés de face. Tow-in e remada são dois esportes diferentes. Para remar em uma onda dessas você precisa de mais habilidade e determinação do que no tow-in. Na realidade temos muitos surfistas profissionais de tow-in hoje que ficam no rabo da onda porque não tiveram contato com o surf de remada em ondas gigantes. Isso tem o lado positivo, porque assim eles estarão sempre manobrando no rabo, fora de perigo. Nós não podemos falar para essas pessoas que elas não deviam estar fazendo tow-in nessas condições, a própria natureza dará o recado ou integrará esses atletas.

 

Nós temos muitos problemas aqui no Brasil com pessoas que se dizem surfistas de tow-in surfando ondas de 12 pés de face e passando com seus jet-skis no meio de surfistas na remada em fundos de areia. Isso é um problema mundial?

 

Esse é um problema mundial. Regra número 1: nunca pratique tow-in quando houver surfistas na remada. Se você quiser praticar em um fundo de areia vá a algum lugar longe dos surfistas. Essas pessoas sem noção irão causar muitos problemas ainda.

 

Quais são os melhores surfistas de tow-in do Brasil na sua opinião e como você os compara com os maiores nomes do resto do mundo?

 

Os brasileiros são surfistas insanos.Você, Pato, Carlos Burle, Eraldo Gueiros e Rodrigo Resende são os amigos mais loucos e surfam as maiores ondas do planeta tão ou mais agressivamente que a maioria dos grandes nomes mundiais. Eu lembro muito bem no maior Jaws visto em 2005, vocês indo mais para dentro da onda e arrepiando junto com Laird, Kalama, Archie, Dan e mais alguns.

 

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Eric empurra o filho para suas primeiras investidas sobre uma prancha: herança genética? Foto: Arquivo pessoal Erick Akiskalian.
Como você vê a exploração de novos picos como Shark Park, na Califórnia, e outros na Austrália revelados pelo tow-in?

 

A exploração é a melhor parte do esporte. Para mim e meus parceiros a melhor parte é esse sentimento de descoberta de novos picos. A vida é uma jornada e são muitas as recompensas. Você deve procurar e principalmente dividir essas descobertas com bons sentimentos.

 

Como foi a expedição a Shark Park?

 

Todos surfaram ondas incríveis naquela sessão. Eu surfei uma bem grande, mas acabei caindo e tomei um caldo incrível e quando subi ainda tomei mais cinco ondas.

 

Emoção e adrenalina em algum lugar do Chile, na costa sul-americana. Foto: Rob Keith / Towsurfer.com.
Em duas delas fiquei o tempo todo embaixo d?água, a galera ficou bem preocupada porque eu não aparecia na superfície e não me achavam naquele pico totalmente novo. Bom, foi bem traumatizante, mas mesmo assim eu voltei para o fundo e continuei surfando o dia todo. Todos os surfistas pegaram ondas incríveis e elevaram o nível de performance de todos os presentes.

 

Você acha que podemos comparar um grande swell em Teahupoo com ondas como
Jaws, Mavericks ou Shark Park?

 

Tudo que posso dizer é que Teahupoo é um tubo monstro e é difícil de compará-la com qualquer outra onda. A realidade é que todos esses picos são letais e podem tirar sua vida. Todos eles merecem o máximo de respeito e dedicação. Outra coisa importante é que eles é que mandam e estão no controle de tudo, não podemos nunca nos esquecer desse importante detalhe. Shark Park é a mais parecida com Teahupoo eu acho que serão surfados tubos insanos nesse pico nas próximas temporadas.

 

O que você pensa do foilboard?

 

Eu não posso falar muito, não me desperta interesse. Parece divertido, mas os towsurfers não querem mais uma modalidade para se preocupar. Estou esperando para ver o que o Laird irá fazer com a modalidade.

 

Rosaldo Cavalcanti fez, na minha opinião, o maior evento de ondas grandes já visto até hoje. Por que a Billabong não faz um evento como o dele? Você pensa que é em respeito ao Eddie Aikau ou porque o Laird não quer outro evento em Jaws?

 

Eu acredito que logo mais nós veremos um evento daquele nível em Jaws. Irá acontecer na hora certa.

 

A que você atribui a ausência do crowd este ano em Jaws?

 

Esse não foi um dos melhores anos para Jaws. Eu acho que quando tivermos ondas de 60 pés de face em Jaws o crowd será grande sim. Eu estava lá com meu parceiro Chuck Patterson no maior swell que rolou em fevereiro, quando rolava o evento de tow-in no North Shore, e tinha boas ondas, mas muito vento. Carlos Burle e Eraldo Gueiros e mais alguns times estavam na água.

 

É muito difícil para os melhores surfistas de tow-in possuir jet-skis em todos esses lugares de ondas grandes. Infelizmente as grandes empresas fora do surf ainda não tratam os surfistas de ondas grandes com o devido valor, afinal arriscamos nossas vidas e o impacto das imagens é impressionante. No Brasil não existem ondas realmente grandes, mas como isso funciona nos EUA?

 

Essa é outra pergunta difícil de responder. Eu penso que agora, nós surfistas de ondas grandes e amigos devemos nos ajudar e dividir nossos equipamentos aqui e ali. Eu tenho jet-skis na Califórnia, Washington e Hawaii. Sempre estou ajudando meus amigos e tenho colegas com jet-skis no Tahiti, Chile, Austrália e México. Então, vamos todos nos ajudar e surfar grandes ondas e nos divertir. Eu penso que os grandes patrocinadores irão aparecer, mas não para a minha geração. Agora estamos armando um futuro melhor para a próxima geração. Eu faço tudo isso por amor à modalidade e pelo prazer de ter feito parte dessa criação. Meu filho de seis anos também quer ser um surfista de ondas grandes!

 

Deixe um recado para os internautas brasileiros.

 

A vida é curta e temos muitas experiências e escolhas. Façam boas escolhas para vocês, suas famílias e amigos. Seja gentil com outras pessoas e siga seus sonhos. Mesmo que você seja um surfista de ondas grandes ou um doutor faça o melhor e estude muito. Obrigado meus amigos ao redor do mundo pelos dias de felicidade e suporte. Amo vocês todos! Sou apenas um camarada vivendo o grande sonho de ajudar a evoluir a modalidade.