Depois de Túnel do tempo reciclado e Retratos da bagunça, o colunista Fabinho Gouveia traz novas relíquias de seu arquivo fotográfico.
Foto 1 De tempos em tempos checo minhas fotos antigas para me divertir. Época de máquinas Kodak simples, fotos de baixa qualidade, mas de grande valor, tal como a da galera reunida no Kuilima, North Shore, Hawaii, na temporada de 89. Ali, em minha segunda temporada, alguns da última e mais nova geração dos Brazilian Nuts – Murillo Brandi, Jorge Pacelli, Anésio e Taiu.
Bom, se eram considerados mesmo os Nuts eu não sei, mas que os caras botavam pra baixo e vinham despencando de tudo quanto era jeito, isso eles vinham. Já o da prancha menor, com o logotipo da Hotstick é o carioca Rodolfo Lima. Com uma linha de surf muito bonita, se destacava tambem nos tubos.
Marinheiro de “segunda” viagem, minha maior prancha era uma 7’4, feita por Milton Willis, da Willis Brothers. Rodolfo e Taiu tambem aparecem com pranchas pequenas, no entanto tinham suas grandes. Já os demais não largavam suas gunzeiras, sendo a do Murilo, uma 10 pés single fin, shapeada por ele mesmo. E que, segundo ele, era a mágica.
Tudo era muito cômico pra mim, pois eles queriam a toda hora me levar para os bigs Waimea, Pipe, Sunset etc.
Falavam que eu tinha de adquirir um “gunzeirão” e eu sempre dizia: “Vocês estão loucos, nunca irei entrar em um mar que precisa de uma prancha destas! Nunca terei uma prancha dessas!
A real é que viria a adquirir uma prancha grande e passei a descer umas ondas maiorzinhas – nunca as gigantes. Mas o fato que era muito positiva a vibe que essa turma com mais vivência passava pra nós, caras como Teco, Piu, Ribas, entre tantos outros brasileiros mais novos que começavam a frequentar as ilhas na época.
Foto 2 Ano de 89, carro lotado de pranchas e tralhas. Não lembro a marca, talvez um Dahatsu, Suzuki, sei lá… Na ocasião estava mudando de residência no Hawaii, saído da house dos Brazilians Nuts. Havíamos alugado um estudio, eu, Teco e Piu Pereira – sempre essa trinca.
Com apenas 19 anos, tanto eu quanto o Piu (Teco tinha 18), não conseguíamos alugar carro em locadoras tradicionais. O que sobravam era só a bagaceira. Pra se ter uma ideia, o nome da locadora em que conseguíamos alugar lá em Waikiki chamava-se “Rent a Bomb”.
E algumas vezes ficamos na roubada, com radiador fervendo ou pneu estourado. E só pra salientar, não havia estepe.
Foto 3 Esta é a primeira vez em que participei de um evento em piscina de ondas no Japão, à convite da ASP. Ao meu lado, o legend australiano Glen Winton, conhecido também na época como MR “X”.
Diz a lenda que Glen divide com nosso tambem legend Ricardo Bocão a criação das quatro quilhas. Essa piscina, acho que chamava Sports World, não era muito boa, a onda vinha contínua e quebrava de uma só vez.
Martin Potter foi o vencedor e fiquei em segundo. Teco e Mike Parsons foram os terceiros. Na ocasião, havia surfado com uma prancha de isopor. Era minha prancha mágica, da marca francesa Project. Rezava a lenda que elas flutuavam mais devido à densidade da água. De fato, ela andava bem, pois também era larga e grossa.
Fotos 4 e 5 Aqui me encontro no pódio da Ocean Dome, onde fui bicampeão em piscinas no Japão. Kelly Slater (new sensation), Sunny Garcia (surfando pra caramba) e Damien Hardman (quase se aposentando, mas surfando pra caramba na marola), dividiram o pódio no ano de 94.
Essa piscina era realmente boa, umas três manobras em uma parede de certa forma até longa. Na ocasião da foto de surf, durante o treino, eu estava surfando com uma prancha shapeada por mim (5’11).
No entanto, era estreita, fruto do começo da era Slater, e competi com uma Xanadú 5’10, larga e grossa, que era a minha exelente. Ali eu vi que tanto fazia ter uma prancha de isopor/epoxy ou de poliuretato/polyester, contanto que essa também tivesse boas dimenssões.
Esta piscina evoluiu e, no ano seguinte, quebrava um bom tubo. Achava que aquilo seria o futuro do surf, surf nas Olimpíadas. Não apareceu uma piscina muito melhor até hoje e me parece que a Ocean Dome, que ficava na ilha de Myazaki, fechou suas ondas. Vamos ver no que dará o projeto da piscina do “careca” Slater.
Foto 6 Havíamos sido convidados para um belo jantar tipicamente japonês durante um dos eventos OiOi Marui Pro. O primeiro da esquerda é o legend fotógrafo Manabu Nomoto. Ele foi o primeiro profissional que vi usar o controle remoto para trabalhar da beira da praia com uma câmera board.
As fotos clicadas em um dia de surf na região de Makaha no inverno havaiano de 93 estamparam capas de revistas de surf brasileiras comigo e com Teco Padaratz. Ao lado dele, a reporter Youki, da Fine Magazine, incrementada revista japonesa que dava muito espaço ao surf na época.
Piu Pereira não sabia se segurava o atum ou se olhava para o clic. Esse não sei como era tão magrinho, pois comia muito! Ao lado dele, nossa amiga Jody Holmes, caçula da familia legend australiana Holmes, hoje casada com um havaiano e residente nas ilhas.
Teco Padaratz, sorridente ao meu lado, durante minha primeira degustação da culinária daquele país. Na ocasião, estranhei e confesso que passei mal. No entanto hoje sou aficcionado pelas iguarias.
Foto 7 Hang Loose 90, Canto do Maluf, Guarujá. Nunca vi tanta gente em um evento de surf no Brasil. Não fui às duas últimas edições do WT no Rio, então não sei como estes estavam de público. Venci aquele evento, o crowd foi uma grande parcela na minha escalada ao pódio.
Foto 8 Na baía de Yallingup, Margaret River, fica a onda de North Point. O ex-top surfer Dave Macaulay e Taj Burrow moravam próximo aos picos. Neste dia, o mar estava simplesmente clássico. No entanto, dias como estes não são raros por lá. Porque será que tem tanto surfista bom na Austrália?
Que venham muitos swells como este para nossa costa neste outono e inverno! See’ya!