Mark Foo

Mark Foo

O preço máximo. Foto: Reprodução.

Mundialmente Famoso.

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Luvas para a remada, pranchas e roupas coloridas, eram apenas a parte menos importante da estratégia de marketing pessoal de Mark Foo. Foto: Reprodução. 

Poucos surfistas na história do esporte souberam fazer seu marketing pessoal com tanta eficiência quanto Mark Foo. Meio chinês, meio americano, no currículo que distribuía para possíveis patrocinadores ele se apresentava como “lenda viva do surf, o mais destacado dos big riders”.

Em entrevistas ao mais variados veículos de comunicação e em artigos escritos de próprio punho para revistas especializadas, comumente fazia declarações polêmicas, chamando atenção para sua pessoa e o ato “heróico” de encarar mares gigantescos. Para a BBC de Londres, declarou que morrer surfando “seria uma maneira glamourosa de partir”. Em outra entrevista afirmou que “não é trágico morrer fazendo algo que você ama”, citando como exemplo os astronautas mortos na explosão da nave espacial Challenger. Talentoso na criação de frases de efeito, talvez a mais famosa entre as que produziu tenha sido aquela na qual dizia que “se você quer a sensação máxima tem que estar preparado para pagar o preço máximo”, o qual não poderia ser outro que não o de sacrificar a própria vida.

Mas se Foo impressionava os incautos com suas colocações bombásticas, parecendo realmente estar disposto a ir até as últimas conseqüências, aqueles que o conheciam mais proximamente sabiam que nem passava por sua cabeça a idéia de que iria um dia morrer surfando. Ele amava a vida e, altamente criativo e versátil, já havia provado ser capaz de inventar qualquer coisa para poder continuar próximo do mar. Entre suas múltiplas atividades, era dono de um albergue para surfistas perto de Waimea e produtor e repórter de uma programa de surf na TV a cabo. Como não havia obtido sucesso nas competições às quais se dedicou no começo de sua carreira, enxergou no surf de ondas grandes uma oportunidade para se destacar e assim obter os patrocínios que tanto almejava. Trabalhando em conjunto com os melhores fotógrafos da época, conseguia aparecer nas revistas com mais freqüência que muitos dos surfistas que se davam bem no Circuito Mundial.

O único problema é que toda esta avidez por aparecer, e se tornar mais valioso para os patrocinadores, nem sempre era vista com bons olhos. Muita gente acusava Foo de querer atrair atenção par si a qualquer custo, de ser um “vendido” em busca de fama surfando pelas razões erradas. Nada mais longe da verdade. Ele era sim um tremendo de um batalhador, correndo atrás de um sonho naquela época muito mais difícil de ser atingido do que hoje, o de poder viver decentemente com a grana recebida por sua performance nas ondas. E nessa busca por visibilidade, Foo teve seu primeiro grande momento quando, em 18 de janeiro de 1985, sob o olhar de centenas de pessoas reunidas na baía de Waimea, e no foco de dezenas de câmaras fotográficas e filmadoras, se viu diante de uma imensa parede de água com mais de 50 pés de altura que fechou a baía. Junto com mais dois surfistas e um bodyboarder, ele sobreviveu à explosão da onda gigantesca bem em cima de suas cabeças, mas, ao contrário deles, não perdeu a prancha. Foi então que, num ato de bravura – ou talvez de marketing – ele recusou o auxílio do helicóptero de resgate, que içou seus companheiros para a segurança da praia, para poucos minutos depois botar pra baixo em outra morra enorme. Sem conseguir completar o drop, Foo despencou 30 pés no vazio, se chocou violentamente com a água e tomou um tremendo de um caldo antes de regressar à superfície desesperado por um pouco de oxigênio. Dessa vez, com a prancha partida ao meio, ele aceitou a ajuda oferecida e, agarrado à cesta jogada do mesmo helicóptero que minutos antes ele havia ignorado, saiu do mar direto para a glória.

O incidente foi o assunto da temporada e rendeu inúmeras entrevistas para rádio e televisão, além de matérias extensas na principais revistas. Mark Foo havia chegado onde queria, era definitivamente famoso. O que ele não imaginava é que, quase uma década depois, com 36 anos de idade, tomando parte de outra sessão de surf histórica, ainda que de uma maneira trágica, sua fama atingiria um patamar muito mais alto.

No dia 23 de dezembro de 1994, Foo desembarcou às 5h20 da manhã no aeroporto Internacional de São Francisco, na Califórnia, em companhia de seu ex-desafeto Ken Bradshaw. Eles vinham do Hawaii com o propósito de surfar Mavericks; no caso de Foo, pela primeira vez. Quando chegaram a Half Moon Bay, onde quebra a poderosa e gelada onda, viram que o swell não havia entrado com o tamanho previsto. Assim mesmo foram direto para a água, um pouco decepcionados, mas muito dispostos a aproveitar ao máximo as verdes paredes de 12 a 15 pés, com algumas chegando aos 18, que entravam alinhadas, penteadas por uma leve brisa terral e emolduradas por um céu sem nuvens, com seu azul infinito iluminado pelo sol. Em suma, condições perfeitas para um dia que tinha tudo para ser perfeito. Mike Parsons e Brock Little também estavam fazendo sua estréia em Mavericks e, junto com eles no outside, um grupo de locais dividia as séries não muito constantes que entravam. Como os dias anteriores haviam bombado forte, os assíduos estavam de cabeça feita e sem a preocupação de ficar disputando as melhores ondas, o que de certa maneira liberou o line up para os forasteiros fazerem o que quisessem, inclusive cometer erros. Sem conhecer muito bem o pico e instigados por uma competitividade instintiva, Brock, Parsons, Bradshaw e Foo se posicionaram muito pra dentro do pico e não conseguiam completar a maioria das ondas que dropavam. Após uma meia hora de calmaria, entrou a série que iria ser lembrada para sempre, não por seu tamanho, mas por suas conseqüências. Foo e Ken remaram na primeira onda, que tinha uns 15 pés. Como Ken estava muito no inside, acabou puxando o bico e Foo foi sozinho, para cair antes mesmo de chegar à base e desaparecer envolto pela espuma. Na onda seguinte vieram juntos Parsons e Little, resultando numa vaca dupla. Passaram três ondas menores sem ninguém e então a maior e mais longa da série, surfada com segurança por Ken.

Enquanto isso, Parsons e Little enfrentavam um sufoco nas pedras expostas bem em frente à seção da onda que tentaram dropar. Ambos com as cordinhas presas na bancada, tomando na cabeça sem poder chegar à superfície. Finalmente a cordinha de Parsons se abriu sozinha e a de Little se rompeu, permitindo que eles escapassem em direção ao canal, com Parsons regressando a seu barco de apoio e Little ao outside. Mas espera aí… E Mark Foo, onde estava esse tempo todo? Com tanta gente observando do barranco – estima-se que umas 200 pessoas – e seus amigos dentro d’água, o mistério que permanece até hoje é como ninguém viu o corpo de Foo sendo levado pela corrente, boiando inconsciente, com a cabeça enfiada na água, ao lado do pedaço de sua prancha quebrada que havia ficado preso à cordinha. Foi só após uma hora desde que Foo dropara a fatídica onda que Evan Slater, respeitado big rider, na época editor da revista Surfer e atualmente da Surfing, a bordo da lancha Deeper Blue com Parsons, já regressando para a marina, o avistou. Mas ai já era tarde demais. A autopsia atestaria que o coração de Foo parou de bater embaixo d’água, resultado de um “sufocamento por submersão”, provavelmente preso a uma pedra por sua cordinha sem poder voltar à superfície.

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Mark Foo surfou muitos picos ao redor do planeta, mas sua ligação com Waimea era mais profunda. Foto: Reprodução. 

Como pode um dos maiores big riders da história morrer afogado numa onda com meros 15 pés de altura? Má sorte, acaso, destino… Cada um pode fazer sua própria suposição. O que é inegável é que Mark Foo morreu fazendo o que amava e de uma maneira tragicamente irônica, conquistando com isso uma fama mundial com a qual nem em seus sonhos mais desvairados ele havia sonhado ser possível. “Herói das ondas grandes”, “Guerreiro caído”, “A última onda”, foram apenas três dos títulos num verdadeiro maremoto de matérias que varreu a grande imprensa. Os jornais e revistas mais importantes do planeta abririam espaço para contar a incrível vida, e morte, de Mark Foo:  The New York Times, Los Angeles Times, San Francisco Chronicle, Independent, Sydney Morning Herald, Time Magazine, Sports Illustrated, Outside, Rolling Stone, Spin, Paris Match… Na televisão, a NBC, a MTV, os programas “Dateline” e “Movieline”, entre outros, também ecoaram os feitos do surfista que havia pagado o preço máximo na busca da sensação máxima. Uma semana após sua morte, com suas cinzas já espalhadas no outside de Waimea, em uma cerimônia com mais de 700 participantes, dois de seus melhores amigos, o parceiro de surf em ondas grandes, Ken Bradshaw, e o renomado shaper Dennis Pang, se sentaram sob a sombra de uma árvore na praia que Foo mais amava para lembrar seu jeito de ser. “Foo está apenas rindo, ele não poderia ter feito melhor”, disse Pang, com o que Ken concordou integralmente: “Mark dropou toneladas de ondas grandes, surfou no mundo todo, conseguiu ser famoso e partiu de uma maneira grandiosa. E agora ele será lembrado para sempre. Ele simplesmente adoraria isso”. 

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