Alexandre Martins

Mavericks com intimidade

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Alex Martins leva bandeira brasileira ao pódio do Mavericks Invitational 2013 em Half Moon Bay, Califórnia (EUA). Foto: Pedro Bala.

 

Único brasileiro no Mavericks Invitational, Alexandre “Blau” Martins fez bonito e terminou na quarta colocação. Ele chegou ser anunciado como vice-campeão, depois de um grotesco erro da organização.

 

Na hora de passar os vencedores para diretor de prova Jeff Clark fazer o anúncio, trocaram o nome dele com o de Zach Worhmouldt.


Depois do campeonato, o pernambucano que vive na Califórnia concedeu entrevista exclusiva ao site Waves.  

 

Fale um pouco sobre a sua participação no evento. 

O campeonato foi muito difícil, as condições estavam perfeitas, tinha sol, mar clean, o que é muito difícil e acontecer aqui em Mavericks. Mas a inconstância das ondas estava demais. Às vezes, a gente ficava ali no outside, um olhando para cara do outro achando que nunca viria uma onda.

 

Alexandre Martins surfa Mavericks com naturalidade. Foto: Frank Quirarte / Billabong XXL 2004.

O fator sorte pesou muito durante o campeonato. Por exemplo, eu, acho que estava com sorte, porque consegui pegar duas ondas em cada bateria que disputei. 

 

 

Às vezes ficava mais de trinta minutos sem entrar uma onda. Como vocês atletas lidavam com isso na hora da bateria?  

Eu só ficava pensando que se fosse meu dia, a onda viria para mim. Eu conheço muito bem o pico, o que me ajudou bastante. Algumas ondas que peguei mais no inside eu pude perceber que a galera estava muito no outside.

 

Fiquei um pouco mais para dentro para pegar algumas e ter pelo menos duas ondas surfadas por bateria. Às vezes, era bem frustrante porque não vinha onda nenhuma. Principalmente na minha semifinal.

 

Twiggy, por exemplo, um dos melhores surfistas em Maverck’s, praticamente nem pegou onda. Procurei fazer meu papel e surfar bem as poucas ondas que apareceram e, pelo jeito, deu certo. 

 

A galera vibrava muito nos barcos com suas ondas, como se você fosse um local. Como começou sua história com Mavericks? 

O carinho que todos têm por mim aqui é muito grande, o que é muito gratificante. Aqui é uma comunidade meio fechada, então aos poucos você vai conseguindo respeito e consideração de todos.

 

É muito difícil entrar nesse grupo. Eu vejo Marcos Monteiro, Gordo, entre outros brasileiros, eles vão ter que ralar muito para entrar nesse grupo, não é do dia para noite. Por exemplo, em Waimea, Jaws o pessoal nem fala de mim, porque eu não vou lá, não pertenço aquele grupo.

 

Mas aqui eu sou um cara que conheço todo mundo, sempre quando a onda quebra estou aqui. Não importa se está ruim ou bom, estou sempre no outside, isso faz a galera local ter um carinho por mim.

 

É a minha onda preferida, eu vivo para surfar essa onda. Surfo aqui há bastante tempo, mas na minha cabeça nunca passou que um dia eu iria poder participar de um evento aqui. Quando comecei a vir para Mavericks, pensava que só de eu pegar uma onda no rabo já seria maneiro.

 

De repente, eu estava fazendo parte do grupo, sendo convidado para o campeonato, fui alternate por muitos anos e  pude aproveitar quando a chance apareceu.

 

É muito difícil, caras como o Shane Dorian, Kelly Slater… eles já têm prioridade garantida. Shane Dorian, na minha opinião é o melhor surfista de ondas grandes do mundo. Tem que ralar muito para chegar aqui. Fazer uma final foi um sonho. 

 

Como você concilia seu trabalho com o surf? 

Eu nunca pensei em surfista profissional. Tenho minha oficina, onde eu conserto pranchas e tiro meu sustento. Surfo Mavericks por amor mesmo, porque gosto. Quando tem onda consigo surfar. Tenho uma mulher maravilhosa que me dá todo suporte necessário para fazer o que eu faço.

 

Levanto minha mão para o céu todos os dias e agradeço por tudo que tenho. Parece que estou vivendo um sonho. 

 

Como você vê a evolução dos surfistas nas ondas grandes?

Os surfistas estão puxando os limites cada vez mais. Acho que em Mavericks a galera ainda não puxou tudo que pode. Nos dias realmente grandes, algumas ondas das séries realmente vão passar em branco. Porque a onda é muito violenta, machuca, a água é muito gelada e tudo isso influencia muito. Tem que se preparar muito bem fisicamente para surfar essas ondas. 

 

E como você se prepara para surfar essas ondas?

Eu faço bastante yoga e este ano comecei a fazer uma preparação física com o cara que treina o Adam Meiling. Estou me preparando há muito tempo, não só física como mentalmente, o que é muito importante.

 

Quando fiquei sabendo que o campeonato iria rolar, sabia que fisicamente estava preparado. Então, comecei a trabalhar mentalmente. Estou procurando fazer meu dever de casa, para estar pronto quando chegar o dia. 

 

Como foi a noite anterior ao campeonato?

Eu realmente estava tranquilo. Procurei assistir alguns filmes totalmente fora do surf, para não ficar bitolado. Não queria ficar naquela pressão de surf, ficar olhando vídeos de campeonatos em Mavericks, nada disso. Busco ficar bem tranqüilo e fazer meu papel lá dentro. 

 

Para finalizar, deixe um recado para os seus fãs no Brasil. 

Quando sai do Brasil, meus amigos me chamavam de merrequeiro, que eu era o maior merrequeiro que tinha. O mar subia e eu ficava morrendo de medo (risos).  Meu recado é o seguinte: nunca desista dos seus sonhos, porque as coisas acontecem. Para mim, chegar numa final em Mavericks sempre foi um sonho e hoje eu consegui. Então, você nunca pode desistir, tem que lutar até o final.