Mineirinho: campeão mundial made in Brazil

Adriano Mineirinho

Adriano de Souza, o Mineirinho, durante o mundial Pro Junior na Austrália. Foto: ASP World Tour/Robertson.

Adriano de Souza,  local do Guarujá (SP) , é apontado há anos como um dos maiores fenômenos do surfe brasileiro. Porém, se restava alguma dúvida entre alguns poucos incrédulos, ele a liquidou com um show de surfe para faturar o título de campeão mundial Pro Júnior de 2003, realizado no início de janeiro na Austrália.

 

A tradicional competição sancionada pela ASP (Association of Surfing Professionals) para atletas até 20 anos,  aponta tendências e revela futuras estrelas do surfe mundial.

 

Foi assim com alguns dos ex-campeões deste circuito, como o havaiano Andy Irons, campeão em 1998 e atual bicampeão mundial do WCT; além do australiano Joel Parkinson, campeão em 99 e 2001, atual quinto colocado no ranking mundial.

 

Só que Mineirinho vai além: tem apenas 16 anos e mais quatro temporadas pela frente para repetir a dose no Pro Júnior. Ele também entra para a história ao se tornar o mais jovem atleta a conquistar esse título.

 

Apesar da pouca idade, Mineirinho impressiona pelo surf ultramoderno, pela calma e pela frieza durante as competições. Foi o que se viu na África do Sul, quando ficou em terceiro no ISA World Surfing Games, e nos Estados Unidos, onde foi apelidado por “The Brazilian Rocket”, pela velocidade nas ondas durante o East Coast Surfing Championship, maior evento realizado no Oceano Atlântico.

 

O brasileiro não deixou dúvidas sobre sua supremacia diante dos adversários em North Narrabeen. Foto: ASP World Tour/Robertson.

Mineirinho disputou três categorias e chegou em todas as finais. Ganhou a Júnior, foi terceiro colocado na Pro/Junior e vice na Profissional, derrotado apenas pelo experiente norte-americano Dino Andino.

 

Os jornais locais publicaram artigos para dizer que ele é a melhor revelação do surfe mundial depois do surgimento do mito Kelly Slater.

 

Exagero ou não, Adriano segue tranqüilo sua trajetória de vitórias rumo à elite do surfe mundial. A presença dele no WCT é só questão de tempo. Aí, quem sabe o Brasil não pode sonhar com um campeão, afinal, ele está sendo preparado para vencer, com carreira planejada em detalhes pelo manager e técnico Luis Henrique, o “Pinga”.

 

Ainda na Austrália, onde passa as próximas sete semanas surfando e estudando inglês, ele falou com exclusividade com o Waves.Terra sobre a vitória em North Narrabeen e contou os planos para o futuro.

 


Você chegou à final invicto. Como foi se adaptar às ondas de North Narrabeen? Já tinha surfado lá antes? Comente sua trajetória na competição.

 

Eu nunca havia surfado ali, mas já tinha algumas informações sobre as ondas, pois antes de ir para algum evento sempre conversamos sobre as condições do mar e as opções de posicionamento que posso ter. Já sabia que as esquerdas predominavam, por conseqüência seria nelas que eu conseguiria as maiores notas. Já na minha primeira queda, senti que estava bem e minha prancha estava excelente, fazendo com que eu conseguisse surfar com velocidade e pressão!

 

Mineirinho é carregado pela torcida brazuca logo após a histórica vitória. Foto: ASP World Tour/Robertson.
Além do fato de ter conquistado o título mundial, você também entra para a história sendo o mais novo campeão Pro Júnior da história da ASP. Qual a importância deste título para sua carreira?

 

Sem dúvida este título é muito importante para minha carreira, pois ele fortalece muito minha imagem internacionalmente. E, como meu patrocínio é de uma marca internacional, me fortalece ainda mais dentro do time. Desde cedo, eu e o Pinga traçamos um plano e uma meta. E esta vitória com certeza nos ajudará muito a alcançá-la. Nosso objetivo é uma carreira internacional e isso inclui o WCT. O caminho é longo, mas estou trabalhando para chegar lá.

 

Como você vê o fato de ter conquistado este título aos 16 anos, sendo que poderá disputar este evento ainda por mais quatro anos? Quando você sentiu que a vitória estava em suas mãos?

 

Eu fui para o evento com o objetivo de me dar bem, fazer um bom papel. Isto significa tentar a vitória. O fato de eu ter apenas 16 anos e a possibilidade de disputar mais quatro anos este evento deram uma certa tranqüilidade. O Pinga sempre me passava isso para me deixar calmo, jogando a pressão nos outros. Com certeza eu vou tentar vencer este evento mais uma vez. Sei que não será fácil, pois todos que disputam têm totais possibilidades de vencer, mas vamos atrás com tranqüilidade, humildade e muito trabalho.

 

Na final, o brasileiro deu um show para faturar o inédito título na sua carreira. Foto: ASP World Tour/Robertson.

Agora, a pressão é inversa, eu já tenho o título e por isto posso ir com calma novamente. Eu senti que podia vencer o evento em minha primeira bateria, quando consegui surfar muito bem, aliando velocidade e pressão a um bom posicionamento no pico. Era muito importante pegar a boa, faria a diferença. Mas, foi na semifinal, contra o Sean Moody, que senti a vitória próxima, muito perto, pois estava com a prioridade. Peguei uma boa onda, mas caí e o cara ficou com a prioridade no final da bateria, precisando de pouco e não entrou mais onda nenhuma. Foi aí que vi que, além de estar me dando bem, as coisas estavam fluindo a meu favor e eu tinha de aproveitar. Analisei a bateria, fui para final decidido a definir logo o jogo e graças a Deus consegui pegar boas ondas e ir me distanciando dele.

 

Qual foi sua estratégia para garantir a vitória? Você tinha alguma carta na manga?

 

Minha estratégia foi sempre procurar me posicionar bem no pico e trabalhar bem a prioridade, para que quando viesse a boa, ela fosse minha. E praticar um surfe veloz, com força, moderno e com precisão, o que significa não cair. A carta na manga era o aéreo, mas as condições, pelo menos para mim, não eram adequadas.

 

Em Maresias, durante a segunda etapa Billabong Pro Júnior 2003, que acabou ganhando com muito surfe no pé. Foto: Nancy Geringer.
Quais atletas você destacaria no evento?

 

Eu achei o nível muito alto! Os brasileiros arrebentaram, todos quebraram e mostraram muito surfe desde o começo, chamando muito a atenção de todos, pois sempre se destacavam no crowd. Tanto que o Shaun Cansdell falou que sabia que o perigo era verde e amarelo. Os havaianos (Kekoa, Sean, Daniel e outros) também estão em um nível altíssimo! Eu gosto do americano Dane Reynolds. Mesmo tendo perdido logo, acho que ele vai ser um cara que vai dar uma dura no tour. E, por fim, os australianos, que chegaram em peso às quartas-de-final. Realmente, os caras estão vindo com muita força, como de costume.

 

Antes mesmo de ter conquistado este título, você já era apontado como uma das maiores esperanças brasileiras na busca por um título mundial no WCT. Acha que com a conquista deste evento, a pressão vai aumentar? Como você lida com isso?
 
É claro que vai rolar alguma pressão! Mas o trabalho que nós estamos desenvolvendo já leva em conta que esta pressão alguma hora vai pintar, por isso, além de conversar muito com o Pinga e com minha família, faço já há algum tempo um trabalho dentro do projeto Mar Azul, onde além de ter acompanhamento médico eu tenho também físico, psicológico e aulas de Yôga. Já trabalhamos muito este aspecto da pressão. Até hoje eu nunca sofri nenhum tipo de pressão, minha obrigação é terminar os estudos, aprender inglês e surfar ondas de qualidade, para quando entrar de cabeça no tour estar preparado para fazer um bom trabalho e representar bem nosso país.

 

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Apesar da pouca idade, Mineirinho já tem personalidade forte dentro e fora da água. Foto: Ricardo Macario.
Como você encara o fato de grandes nomes do WCT terem sido campeões do Mundial Pro Júnior, como Andy Irons e Joel Parkinson? A conquista deste título dá mais confiança para partir com tudo em busca de uma vaga para o WCT?

 

Realmente este título aumenta minha auto-confiança, pois eu competi com os melhores do mundo abaixo de 21 anos e consegui vencer. Mas temos de pensar em etapas. Ou seja, vencer e passar cada uma delas, sempre uma de cada vez. E as mais difíceis sempre estão por vir e cabe a  mim estar sempre atento para evoluir e desenvolver o melhor possível.

 

Como repercutiu a sua vitória aí na Austrália?

 

O surfe aqui é muito popular. Repercutiu muito bem, ainda é exibida toda hora na TV, as pessoas vêm falar comigo. Os surfistas australianos, como o Occy, Luke Egan, Nathan Hedge, Dean Morisson e o Mark Bannister estão me tratando superbem. A mulher da escola que eu estou fazendo o intercâmbio não acreditou que eu era o brasileiro que estava vindo fazer o curso. Está sendo realmente muito legal. Eu só tenho a agradecer pelo momento que estou vivendo.

 

Adriano de Souza, à direita, comemora o vice-campeonato em Oceanside, nos EUA. Foto: Bob Ghysels / Surfography.com.
Quais os planos para a temporada?

 

Eu vou ficar aqui por mais sete semanas fazendo um curso intensivo de inglês na Gold Coast. Hoje, peguei altas ondas no pico depois da aula. Depois, vou para o Hawaii, onde devo ficar por uns 20, 25 dias, pegando o spring time. Estamos em contato direto e, pelo que dizem, vai dar boas ondas lá nesta época, já que as ondas estão começando a aparecer agora. Depois talvez eu tenha de dar uma passada na Califórnia para uns compromissos com meu patrocinador, a Oakley.

 

E as competições, o que pretende para esta temporada?

 

Nossa idéia, pelo menos por enquanto, é manter o plano de estudar e pegar boas ondas, fazer umas sete ou oito viagens para picos como Tahiti, Fiji e G-Land. Mas, com a pré-classificação no WQS, o Pinga está vendo se encaixa algumas etapas 5 e 6 estrelas no plano, para que eu tenha um bom seeding (classificação) no ano que vem. Também vou competir no Brasil, no SuperSurf e em algumas etapas do Brasil Tour. Mas não irei correr todos os campeonatos que vieram pela frente. Esperamos ter o plano do ano modificado já em março, para a partir daí, trabalhar em cima dele.

 

Os aéreos são umas das especialidades do surfista. Foto: Ivan Storti / FMA.
Deixe um recado para a galera.

 

Para finalizar, gostaria de agradecer a todos que torcem e torceram por mim neste evento, bem como a todos que trabalham para que tudo dê certo, e à minha família, que sempre me deu apoio, ao Pinga, que esta comigo há sete anos, ao meu shaper Ricardo Martins (a 5,8 squash está mágica), ao Fábio e o Irineu da Central Surf e a galera da Oakley (Cuan, Pat, Parisi e todos os outros), meu patrocinador exclusivo. E para a galera do Guarujá: preparem-se, pois o churrasco vai ser o bicho quando eu chegar em casa!!! Que todos fiquem com Deus, valeu!

 

Ficha Técnica
 
Nome: Adriano de Souza
Apelido: “Mineirinho”
Data de Nascimento: 13/ 02/ 87
Local: Guarujá / São Paulo
Patrocínio: Oakley Inc.
Co-patrocínio: Central Surf Shop
Shaper: Ricardo Martins
Posicionamento/base: Regular
Quiver: 5,7 Swalow; 2 x 5,8; 5,9; 6,0; 6,3; 6,5.
Começou a surfar em: 1995
Começou a competir em: 1998

Mineirinho comemora o título de campeão da seletiva que o levaria a integrar a equipe brasileira no mundial. Foto: Ricardo Macario.
Picos preferidos: Praias do Guarujá, Ubatuba e Fernando de Noronha (Brasil), Haleiwa (Hawaii), Ilhas Maldivas e J-Bay (África do Sul).
Manager/Técnico: Luiz Henrique Pinga
Comida favorita: Arroz, feijão, bife e salada
Bebida: Suco de laranja
Música: Rap (Dr. Dree/ Snoopy Dog Dog), Ben Harper, Jack Johnson e Racionais MC
Escolaridade: 1º ano colegial
Melhor Viagem: Ilhas Maldivas
Melhores Surfistas: Danilo Costa, Beto Fernandes, Joel Parkison, Mick Fanning, Dean Morisson e Kelly Slater
Quando não surf, gosta de: ouvir música e andar de bicicleta
Outro esporte, além do surf: skate e futebol

 

Principais conquistas

 

Campeão Mundial Profissional Junior – Austrália – 2004
3° Lugar Sorriso Cup – campeonato profissional para convidados – 2003
Vice-campeão Sul americano Pro Júnior – 2003
Vice-campeão circuito Super Trials profissional – 2003
Campeão da 2ª etapa Billabong Pro Junior Brasil – 2003
Campeão do Go Surf Pro – Super Trials – 2003
Top Super Surf – 2002
Campeão Free Surf Surf Pro – Super Trials 2002 – Atleta mais jovem a vencer uma etapa do circuito brasileiro de surf profissional.
Campeão Junior East Virgina – Estados Unidos – 2002
3° Lugar Pro Junior East Virgina – Estados Unidos – 2002
Vice-campeão do East Virginia Surf Pro/ Virgina – Estados Unidos – 2002
3° Lugar Junior no ISA World Surfing Games; Durban (África do Sul) – 2002
Bicampeão Brasileiro Iniciantes – 2001
Campeão Paulista Mirim – 2001
Campeão Brasileiro Iniciantes – 2000
Campeão Paulista Mirim – 2000
Campeão Paulista Iniciantes – 1999
Campeão Paulista Estreantes – 1999

 

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