Adriano de Souza ou Mineirinho. Este ano ele foi nosso grande herói no surf. Fez bonito no ASP World Tour e terminou na sétima posição do ranking. Surfou bem em Teahupoo, treinou antes do evento e perdeu para o campeão da etapa Bruno Santos.
Outro bicho-papão do tour, Pipeline não foi grande obstáculo, mas interromperam sua trajetória antes que pudesse ir mais longe. Digo de cadeira, pois vi sua bateria. Mas deixando o torcedor de lado, vamos ao que interessa.
Mineirinho, que está na Califórnia resolvendo alguns assuntos pessoais, tirou um tempo com muita paciência e em plena folga mostrou muito respeito aos fãs brasileiros, ao conceder entrevista exclusiva para a galera do Waves. Confira abaixo.
Este resultado final no ASP World Tour já era algo planejado ou suas preocupações se limitam a cada evento?
A disputa do título mundial faz parte do meu plano de carreira e a busca por melhores posições no ranking faz parte dele. É claro que para buscar um resultado e posicionamento consistente no ranking, você deve traçar sua estratégia evento a evento também, pois cada etapa tem suas caracteristicas específicas.
Estou trabalhando e treinando muito, pois não é facil. Você deve buscar cada vez mais experiência, já que o nível técnico do tour é muito elevado. Tanto a conquista como a perda de um título como este são decididas nos detalhes. Por isto meu foco é buscar sempre a evolução técnica e psicológica, para tentar ser o primeiro campeão mundial brasileiro.
Você surfou muito à vontade e demonstrou grande conhecimento em Pipeline. Vejo que você dispensa muito tempo por lá. Como você se vê daqui a alguns anos?
Esta foi minha décima temporada no Hawaii. Nos útlimos anos, meu foco de treino foi em Pipeline, Backdoor e Off The Wall, mas mesmo assim ainda continuo com dificuldades de surfar esta onda da mesma maneira que o Kelly Slater e o Andy Irons surfam.
Eles surfam lá com a mesma desenvoltura que surfam Snapper Rocks com meio metro. O crowd é uma das partes mais difíceis de Pipe. Por isto acredito que só com muito treino e dedicação posso chegar ao mesmo nível dos dois.
Sua ida para a Califórnia ajuda a melhorar sua imagem ou você acha que os juízes e mídia internacional já aceitam um brasileiro chegando nas cabeças?
Esta é uma pergunta que sempre irá existir. Todos sempre tocarão neste assunto. Isto porque no surf existem juízes e o critério é subjetivo, fato que às vezes pode gerar polêmica e discussões. Meu objetivo em ter uma base na Califórnia envolve vários aspectos, como estar mais próximo da mídia internacional, das ondas do México e Hawaii. Por fim, acredito que será positivo para meus treinos, evolução profissional e pessoal.
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Você pensa em fazer tow-in ou sua concentração e motivação estão voltadas 100% para as competições?
Quem sabe um dia!
Vocês viajam muito pelo mundo. Existe tempo para realmente conhecer os lugares e surfar em outros picos?
Realmente é muito louco. Apesar de viajarmos muito, nossas viagens são corridas e estamos sempre pensando no próximo evento e no próximo compromisso. Para você ter uma idéia, eu já fui oito vezes à França e não consegui ficar um dia em Paris para conhecer a Torre Eiffel (risos).
O que você pensa sobre uma possível aposentadoria de alguns astros do tour?
Acho bom, pois dará maior ânimo para outros atletas buscarem o título.
Você acha que a mudança no formato do Circuito Mundial será benéfica. Com mais viagens, o desgaste será maior?
Sem dúvidas. Estas mudanças farão com que tenhamos que ir a mais eventos e conseqüentemente viajar mais, o que gera um grande desgaste. Mas acho que devemos esperar que tudo seja confirmado antes de realmente acreditar.
Há algum tempo, saiu uma matéria no Waves que lembrava seu batismo nas águas do Hawaii. Você tem alguma religião? Qual é o seu relacionamento com Deus.
Eu gosto muito da religião cristã, mas não tenho nenhum tipo de preconceito com nenhuma religião, acho que cada um deve buscar sua espiritualidade dentro do que acredita. A única coisa que levo comigo é a certeza que quem faz o bem recebe o dobro em troca.
Se te oferecessem o mesmo salário e bônus, você preferiria ser free surfer ou competidor do World Tour?
É claro que prefiro o World Tour. Para você ser um top de fato, precisa vencer vários obstáculos e desafios. Quem não lembra do meu primeiro ano em Teahupoo? Quando eu somei apenas 2.00 pontos! Tive que ouvir os tops dizerem: “Esse cara é o melhor do Brasil?”.
Este ano eu fui e somei 19.53 de 20 possíveis. Isto é vencer um desafio. Eu acreditei que podia, me dediquei e treinei muito para evoluir. Pois eu sempre acreditei que posso ser um top como qualquer outro. Neste evento eu fui lá muito focado, confiante e mostrei não só para todas as pessoas, mas também para mim mesmo que isto é possivel sim!
Por tudo isto e mais algumas coisas, eu sou muito feliz e orgulhoso de ser um surfista do Asp World Tour. Esta é a imagem que eu quero passar para a nova geração. A imagem que para ser um surfista top do circuito tem que ser muito profissional, se dedicar e trabalhar muito, para sempre evoluir com consistência e costância.
Agradeço a toda equipe que está por trás do meu trabalho, me ajudou a chegar neste nível e me ajudará a conquistar todos meus objetivos: Pinga, Projeto Mar Azul, meu preparador físico Galvão, minha psicóloga Maria Gabriela Carreiro e claro os meus patrocinadores Oakley, Red Bull, FCS e Gorilla Grip, além da minha família.
Para conferir mais fotos de Adriano de Souza em ação no Billabong Pipe Masters 2008 acesse o The Blog.