Espêice Fia

Mineiro e seu sonho

Adriano de Souza , Billabong Pipe Masters 2015, Pipeline, Hawaii.

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Adriano de Souza chega ao topo do surfe mundial de maneira espetacular. Foto: Bruno Lemos / Liquid Eye.

 

Adrenalina danada, torcida da “bixiga”! No primeiro semestre do ano passado havia escrito um texto pro Waves em que um parágrafo dizia: “Mas, se não bastasse o inédito título de Medina, começamos com tudo o ano de 2015 e agora Mineiro assume a liderança do ranking. Liderança que lhe dá mais bagagem e raça proveniente de uma enorme força de vontade. Vai ser difícil nego mudar a história neste ano. Mas claro, nem tudo é simples e o surf também é uma caixa de surpresas…”. 

Bom, o próprio ano e o desfecho em Pipeline mostraram isso. Depois da Austrália, Adriano deu uma estiada, mas alguns fatores iam credenciando sua áurea de campeão. Sabe aquela coisa de tudo conspirar a favor? Teve até prova suspensa devido ao episódio do tubarão. Confesso que depois dali o circuito começou a ficar tumultuado. Fanning voltou ao seu modo matador, Medina começou a se encontrar, enfim, o negócio ia embolando.

Apesar de Fanning  ter vencido em Trestles  e assumido a ponta, Adriano voltou a se encontrar com o vice-campeonato. Continuava a torcer por Adriano, mas ao final da temporada, com 6 atletas na disputa pelo título e incluindo três brasileiros, tendo Filipinho arrebentado em Portugal, estava difícil arriscar palpite. Talvez, se o mar não estivesse tão cabuloso, Filipinho pudesse ser o campeão. As experiências adquiridas no evento no ano passado e durante o ano de disputas já lhe davam mais bagagem.

Fanning ja é calejado em Pipe, e, embora não tenha as mesmas performances dos seus rivais Slater e o já falecido Irons, por exemplo, já teve ótimos momentos. Venceu título ali, ou seja, não dava pra subestimar. Mas a torcida falava mais alto, pensava que Medina pudesse se sair muito bem, pois a cada marzão que passa, principalmente pra esquerda – leia-se Tahiti e Fiji -, o cara vem mostrando a que veio. 

Não vi nada falando de Owen e Wilson e nem créditos para Mineiro em seu possível título (não sou leitor assíduo na internet). Seu próprio desabafo, depois de punhos erguidos e dedos hasteados ao extremo celeste, falou mais alto. Não lembro direito das palavras, mas Mineiro questionou que ninguém o mencionava, nem mesmo seus rivais. Este provou que foi mais um combustível para a sua vitória, e que vitória.

Fanning pegou adversários com mais cacife, mas pouco importa, destino é destino. E mesmo que o destino por algumas horas pareça estar a seu favor, nos instantes finais daquela semi, Gabriel mudou toda a trajetória com uma manóbra e muitos questionamentos. Como ouvimos nas transmissões, os próprios comentaristas relataram que não queriam estar na pele dos juízes naquele momento, pois em um evento de tubos (que estavam escassos naquele momento), como não soltar a nota para aquele full “rotêichion”? Claro que, de repente, para muitos naquele momento, caso a manobra tivesse uma aterrisagem perfeita, o avanço seria certo, mas o buxixo rolou. Ao analisar com calma, e, principalmente no slow “môchion”, via-se que o grau de dificuldade da aterrisagem havia sido mais elevado, ou seja, tudo justo. 

Mas de nada adiantaria se Mineiro não vencesse Mason Ho, filho do ilustre Michael e sobrinho de Derek Ho, ambos legends Pipe Masters. Mason era uma incógnita, o que lhe faltava de concentração técnica ali poderia sobrar em improviso, coelho da cartola. Valeu ali a áurea e justamente o modo concentração de Mineiro, afinal aquele havia sido todo o seu triunfo durante o ano, mesmo nos momentos mais difíceis, quando os resultados estavam desaparecidos.

A história se repetia com mais um título para o surfe brasileiro. A galera  com água  literalmente nos pescoços resgatava Mineirinho campeão. Vendo a trasmissão, era uma comédia! Mix de euforia e comédia, corrente puxando, celulares se afogando e assim era carregado o novo campeão mundial. Infelizmente ainda não embarquei para esta temporada, só agora em janeiro. Se pela internet e TV já foi emocionante, imagino ao vivo. Com certeza a alta do dólar deve ter pesado, mesmo assim dava pra constatar muitos brasileiros nas areias de Pipeline. Que festa!

Mais merecimento ainda estava por vir. Finalíssima verde-amarela! Medina vice, mas alguém duvida que esse não vai vir a ser um exímio Pipe Master e com condecorações? Não tenha dúvida! Magnífico o seu título na Triple Crown, inédito! E se no ano passado o título também da prova escafedeu-se pelo destino, fazendo a frase ficar incompleta, Adriano desta vez foi supremo, pois saiu da barbearia todo “bunitinho”, com barba, cabelo e bigode, todo arrumado com vestimenta de atleta profissional e perfumado com água salgada benzida pela praia chamada de Pipeline, para depois do empurra-empurra ser agarrado por sua amada Patricia, tascando-lhes beijos. Pense num momento mágico! 

Seu discurso nos encheu de orgulho e também de lágrimas, aliás, a toda a comunidade do surf mundial, que estava sentida por vários episódios durante aquele evento (nossos pêsames ao guerreiro Mick e família).

Parabéns é pouco para Adriano de Souza! Tiramos o chapéu! A comunidade do surf mundial tira o chapéu! Aproveito para parabenizar a todos na lista de campeões abaixo. Que ano êsplendido! Isso continua sendo excelente para o surf mundial, Brasil mais uma vez no topo!

Com todo o respeito a todas as nações do surfe, vai ser um momento mágico, como já foi no palanque do Pipe Masters, com a passagem do troféu de campeão mundial das mãos de Gabriel Medina para Adriano de Souza.

Parabéns a “Mineiro” e a toda a todos os brasileiros que brilharam em 2015!

Adriano de Souza, campeão mundial de surf 2015 e campeão do Pipeline Masters 2015
Gabriel Medina, campeão da Tríplice Coroa Havaiana
Ítalo Ferreira, estreante do ano
Caio Ibelli, campeão do QS
Caio Ibelli, Alex Ribeiro e Alejo Muniz, classificados para a elite de 2016
Samuel Pupo, campeão internacional do Rip Curl Grom Search
Caio Vaz, campeão mundial de SUP Wave

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