Torcedor Fanático

Mineiro Kasparov

Adriano de Souza

 

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“Mineiro é nosso Kasparov”, compara Alexandre Piza. Foto: Ryan Miller/Red Bull Content Pool

 

Para quem não sabe ou não se lembra, Garry Kasparov é considerado o melhor enxadrista de todos os tempos. Todos sabemos que jogo de xadrez se ganha na estratégia, na calma, na paciência, no ataque, na defesa e esperando o erro dos adversários.

Pois bem, Mineiro é nosso Kasparov. Pode não ser o mais talentoso, pode não ter o surf mais vistoso, pode não ser o queridinho da mídia e dos fãs mais exaltados, mas com certeza é o mais meticuloso e astuto atleta brasileiro do circuito mundial.

Como estamos falando de um esporte de ação, onde a mesa do jogo é feita de água em movimento, sua técnica e sua agressividade nas ondas também são admiráveis.

Taj, mesmo ao sair da água na semi, declarou que Adriano entra para competir e ele, Taj, pra surfar. É mais ou menos assim que as baterias do brasileiro funcionam. Se ele não bate 100% pelo surf, sua estratégia e garra se sobressaem sobre seus adversários.

Slater que o diga, pois os brasileiros e, especialmente Mineiro, têm sido seu karma nos últimos tempos. Estamos tirando o sossego do rei e de todos que acompanham o esporte.

Na bancada de transmissão em inglês, era unanimidade que a final seria entre Taj e John John. Taj, por ser um excelente surfista e local do pico. John John, por ser a maior promessa e talento do tour na atualidade.

Adoro quando esses gringos erram e ficam de queixo caído com a nossa volta por cima e a nossa atual supremacia evidente e crescente. Esses golpes devem estar doendo muito nesses caras que comandaram o surf competição desde a sua criação.

Sempre que falamos de John John, acabamos naquele estigma: será que ele vinga e levanta o caneco, ou será que passará como promessa e só beliscará posições de destaque esporádicas? Ninguém duvida que hoje ele é o melhor surfista, mas ainda falta mostrar isso com um título mundial. Torço contra, claro, pois se o alemãozinho sentir o gosto, é capaz de não sair do topo tão cedo.

Mineiro surfou muito mal na segunda repescagem, contra Julian e Taj. Prancha estranha, fina, quicando, sem pressão. Nas baterias com 3 atletas é mais difícil usar seu tipo de estratégia e, talvez, esse tenha sido aquele momento do “opa, se eu não mudar isso agora, estarei fora!”. E foi o que aconteceu. Mineiro voltou forte contra Josh Kerr, depois contra Slater, derrubou Taj e por final o havaiano Florence.

Incontestável, soube anular seus adversários, surfou seu feijão com arroz de borda, finalizou suas ondas com extrema radicalidade e essas finalizações com certeza foram diferenciais na hora de puxar pra cima os scores.

Na final, o 9 de John John foi sim a melhor onda surfada da bateria. Ainda bem que não houve nenhuma outra performance dele nesse nível e isso graças àquela bolha da pedra que forma no fim da onda do Main Break.

Já que tocamos no assunto do pico… De verdade? Não gosto do campeonato em The Box. Não é porque a maioria dos brasileiros se dá mal ali não, é em virtude das fechadeiras, das baterias com poucas ondas, séries demoradas e parede da onda mutante. Vimos ali momentos sublimes, mas quantos? Por que não perguntar aos atletas da bateria que vai entrar na água “em que pico vocês preferem cair?”. Se a resposta for divergente, define pelo melhor ranqueado ou por um sorteio. Sei lá, mas nos posts de diversos atletas e pessoas bem próximas à eles, fica nítida a insatisfação em relação ao local de disputa das baterias.

Comparar The Box a Teahupoo pra direita, é tipo comparar o kartódromo perto de casa ao autódromo de Singapura. Vai ter mais perigo do que emoção.

Enfim, é só uma reflexão.

O resto do esquadrão canarinho ficou pelo caminho no round 3 ou antes. Melhor esquecer essa etapa? Não, talvez não, pois quem ficou para treinar, com certeza colherá bons frutos no ano que vem. Foi treinando no Hawaii com mais afinco que Adriano mostrou que evolução, conhecimento, coragem e atitude são sim elementos que podem ser lapidados, assim como as investidas de Jadson em Teahupoo, por exemplo.

Atleta de surf têm que priorizar o surf se quiserem evoluir, e em suas cláusulas e compromissos contratuais esse tipo de “regra” deve se sobrepor, ou, ao menos, ser melhor balanceada. Um atleta sem boa performance terá vida curta diante dos holofotes, isso é muito simples de ser entendido, então teria que ser simples de ser respeitado. Pena que muitos empresários não pensam dessa forma e muitos atletas acabam não pensando por esse prisma. Assinam seus contratos pensando no hoje e se esquecem do amanhã.

Terceiro em Snapper, segundo em Bells e campeão em Margies. O guerreiro do Guarujá está de volta ao topo e, como sempre, vai lutar muito para se manter nessa posição. Nosso Mineiro Kasparov virá ao Rio vestindo a lycra dourada e não a venderá nem a peso de ouro.

Vamos fazer valer a vantagem de “jogar” em casa, com nossa torcida, e mostrar que em nossos balançados beach breaks, quem manda somos nós.

Welcome to the Brazilian Storm!

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