Pedro Manga

Missão Jaws

Pedro "Manga" Aguiar, Jaws, Maui, Hawaii

Pedro “Manga” Aguiar passa temporada em Jaws para aprimorar o surf em ondas grandes na remada. Foto: Bruno Lemos / Liquid Eye.

O gaúcho Pedro “Manga” Aguiar já passou pelos melhores picos do mundo como Pipeline, Backdoor e Teahupoo. Mas surfar na remada as ondas de Jaws ainda era um desafio para o free surfer. 

 

Nascido em Porto Alegre, o atleta começou a realizar o sonho de viajar  atrás de ondas perfeitas. 


Manga já visitou México, Indonésia, Estados Unidos, Hawaii, Tahiti, Austrália, África do Sul e parte da Europa.


Mas nem tudo são flores. Em 2010, Manga sofreu um acidente de trânsito no Tahiti e acabou impedido de seguir seu trabalho na temporada havaiana de 2010 / 2011.


Ano retrasado, Manga deu a volta por cima com uma grande atuação no big swell que paralisou a etapa do World Tour em Teahupoo, Tahiti.


Manga e um dos foguetes para pilotar a onda de Jaws. Foto: Arquivo Pessoal.

Com duas ondas de responsa, ele entrou na briga pelo prêmio do Billabong XXL. De volta ao Hawaii no inverno do ano passado, ele levou uma vaca sinistra em Pipe e sofreu várias lesões nas vértebras e bacia.

 


Passado o susto, Manga treinou forte para encarar as gigantes ondas de Jaws e conta sobre esta preparação em entrevista exclusiva ao amigo Thiago Rausch.


Jaws é hoje a onda do momento quando se fala em big surf. Como foi sua preparação física e psicológica para enfrentar na remada a “mandíbula” havaiana?

 

Coloquei bastante energia nessa tarefa.  Tenho muito respeito por Jaws, é um dos lugares mais difíceis de conseguir pegar onda na remada. Geralmente tem muito vento e isso atrapalha bastante para entrar na onda.

 

Um monte de gente vai pra lá e não consegue pegar nada. Às vezes isso acontece até mesmo com os melhores caras do mundo. Fisicamente, tento manter um bom condicionamento, surfando bastante, fazendo treino funcional e yoga de vez em quando. De vez em quando faço treino de apneia. Mas tem também o aspecto mental, que considero tão ou mais importante quanto o físico. É essencial manter a calma nos momentos difíceis.

 

Por falar em equipamento, quais pranchas e acessórios de segurança foram necessários para dropar as bombas de Jaws?

 

Na maioria das minhas sessões usei uma 11`11 que fiz com Leroy Denice. Ela era bem reta (pouca envergadura) e tinha o bico largo. Alguns caras como Jamie Sterling, Nathan Fletcher, Kohl Christensen e mais alguns outros usam pranchas desse tipo, mas a maioria usa pranchas com o shape de uma gun normal, com mais envergadura e com o bico estreito.

 

Na minha ultima session em Jaws quebrei minha 11`11“ e, no dia seguinte, encomendei uma 11`2“, que saiu bem mais refinada. Acho que minha 11`11“ era um pouco volumosa demais para alguém com o meu peso. Não descarto fazer outra 12´0“ para Jaws, mas faria com menos volume.

 

Ainda estou tentando encontrar a prancha ideal para o pico. Também comprei alguns equipamentos de segurança – aquela roupa de borracha inflável e também um mini tubo de oxigênio que se prende ao peito. Ele rende algumas respiradas caso o caldo seja muito longo. Usei nas minhas sessões, mas não cheguei a acioná-los, pois queria ver até onde dava pra aguentar e acabou nem precisando. Tenho bem claro que até o momento não vi nada do potencial do lugar em termos de caldo.

 

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Um drop kamikaze em Jaws. Foto: Bidu.

E a chegada ao pico? Ouvi dizer que é sinistro. Como é a descida do cliff e a entrada na água?

 

 

 

Das cinco sessões que fiz em Jaws, nas três primeiras tive que descer o cliff e pular das pedras. Depois das sessions, saí pelas pedras e subi o cliff de volta. Além do stress de entrar e sair pelas pedras, também tem a descida e subida do próprio cliff, que é sinistra. Chove muito em Maui e o cliff é íngreme, de barro e muito escorregadio.

 

A galera vai meio que escorregando com as mãos no chão, segurando a prancha pelo leash. Tem umas partes do caminho que tem que ir segurando numas cordas que os locais amarraram nas árvores, sempre arrastando a prancha pelo leash. Bem do lado da trilha tem um penhasco vertical.

 

 

Atitude do gaúcho rende uma capa no site Surfline. Foto: Marcio Luiz.

Uma vez lá embaixo, é só pedra, você tem que se jogar contra um “quebra-coco” de 2 metros com a prancha daquele tamanho. É bizarro! A galera muitas vezes quebra a prancha na hora de pular das pedras. Daí, tem que sair da água e subir o cliff de novo para trocar.

 

 

Tive sorte nas vezes em que pulei das pedras. Tem que pular por cima de uma espuma, depois largar a prancha nadando por baixo do “quebra-coco”, sempre torcendo para não ser varrido de volta para as pedras e para prancha não quebrar muito.

 

A maioria das pessoas acha que sair da água é mais difícil. Concordo. Em todas as saídas da água quebrei quilhas ou a prancha, geralmente os dois. Na última session, quase me

Oficina da Index Crown prepara o equipamento para o surf em ondas gigantes. Foto: Arquivo Pessoal.

machuquei feio ao sair da água. Depois disso não entrei mais por ali.

 

 

Minha perna ficou presa entre duas pedras e as ondas me puxando para os lados, por pouco não quebrei a canela. Para minhas últimas duas sessões, pedi para um amigo me levar de jet até o pico, que é o que a maioria dos locais fazem. No fim das contas, não chega a ser muito mais caro, considerando o prejuízo de quilhas e pranchas quebradas a cada pulo das pedras. 

 

Como foi a “adrena” de dropar essas morras e enfrentar o maior desafio do surfe de ondas grandes na remada da atualidade?

 

Sei lá, às vezes acho que é mais tenso na noite anterior e no caminho para o pico. Na hora fico mais concentrado na tarefa do que pensando no que pode dar errado. Eu sempre tentava ser paciente e esperar até que viesse a minha onda.

 

São tantos os riscos envolvidos que você não quer tomar uma decisão errada. Isso pode significar o fim da session. Se remar na onda errada ou não conseguir pegar ela e for varrido pela próxima, provavelmente vai perder a prancha. Aí, ela vai ir direto para as pedras. Isso se você não for varrido para as pedras junto com ela…

 

Quais foram os seus melhores momentos na temporada?

 

O swell de ano novo foi legal – foi no dia em que saí na capa do Surfline – e também o swell em que peguei minha maior onda no início de fevereiro. Nesses dois mares estava bem crowd, com  alguns dos melhores surfistas de ondas grandes do mundo. Foi legal conseguir pegar algumas ondas no meio desses caras.

 

E a vibe entre os big riders num mar destes, é um cuidando do outro ou é cada um por si e Deus por todos? 

 

É uma vibe bem tranquila, todo mundo concentrado nas ondas. Se você esperar a sua vez provavelmente não será rabeado. Os locais são tranquilos se você não atrapalhar ninguém, é claro. 

 

Quem foi o melhor ou os melhores surfistas da temporada em Jaws, gringo e brazuca?

 

Acho que os melhores surfistas nesses tipos de mares são os que conseguem escolher as melhores ondas. Shane Dorian e Greg Long pegaram as melhores ondas em Jaws neste inverno, no swell de outubro, quando eu não estava presente. Entre os brasileiros,  ninguém conseguiu pegar um tubão ainda, o que creio ser o objetivo da maioria. 

 

E os picos do North Shore, sobrou tempo para Pipeline e cia, ou era só Jaws mesmo?

 

Fiquei a maior parte do tempo em Maui, daí quase não surfei em Pipe. Nas poucas sessions que fiz por lá, não peguei nenhuma onda memorável. Enquanto estava em Maui surfando Jaws, acompanhava as sessões que rolavam em Oahu.

 

Foi um pouco doloroso ver os Pipes que eu estava perdendo, mas acho que também foi importante dedicar esse tempo a Jaws, para conhecer bem o lugar e estar pronto quando entrasse um swell realmente épico. Para a temporada que vem, pretendo ir para Jaws só quando vier um swell realmente gigante e sem vento.

 

O que essa temporada havaiana acrescentou em sua evolução como ser humano e big rider?

 

Como surfista abriu um novo horizonte. Creio que  irá me trazer coisas boas, que é justamente Jaws. Ainda não cheguei nem perto de pegar a onda que quero pegar lá, mas minha última onda foi um pouco mais a cara do que busco.

 

Neste caso ela correu demais e tive que colocar reto. Como ser humano, acho que evoluí um pouquinho também. Em Maui, tive contato com um pessoal que vive em comunidades muito bacanas, gente que vive da terra, cultivando alimentos orgânicos e com um estilo de vida auto-sustentável. Creio que este seja o futuro.

 

Como você vê a evolução do surf na remada em ondas gigantes, tendo em vista que a cada ano novos limites são explorados? Onde isso vai parar?

 

Acho que este é um processo que ainda está longe de chegar ao ápice. A onda do Shane Dorian foi provavelmente a melhor onda na remada até hoje, mas depois daquele swell de outubro não rolou nenhum outro daquele tamanho. Mas o fato é que há anos não rola um mega swell em Jaws, daqueles de 25 metros que o Laird faz tow-in. Quando rolar, certamente vai ter gente tentando remar.

 

Surfar essas ondas requer muito investimento e dedicação, quem está contigo nessa missão toda?

 

Com certeza requer investimento. A Freesurf me ajuda a fazer isso tudo acontecer e, mais recentemente, o pessoal da Index Crown apoia com as pranchas. Também conto com apoio da Equipe Villeroy de Treinamento, que me prepara fisicamente quando estou no Brasil.

 

Para finalizar, deixe um recado para a galera.

 

Surfar sempre que puderem e olhar para dentro de si, pois a felicidade já está lá.

 

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