A 17ª Molokai to Oahu foi possivelmente a mais surpreendente de todas as edições e uma das mais difíceis. Desde as condições climáticas inesperdas à campanha arrasadora da Australia, colocando seus atletas no topo das principais categrias em disputa: o SUP e o paddleboard, a M2O 2013 fica marcada como a prova das surpresas.
Enquanto as apostas eram dirigidas às estrelas locais, sendo as escolhas mais óbvias Kai Lenny e Connor Baxter, entre os homens, e Andrea Moller (brasileira mas considerada “local” por viver há muitos anos em Maui), entre as mulheres, foram dois australianos que subiram no lugar mais alto do pódio: Travis Grant e Terrene Black.
A M2O é uma prova dura, extremamente desgastante e que exige muito conhecimeto de mar, ventos, correntes oceânicas, além de, evidentemente, preparo físico e pisicológico. Afinal, são cerca de 50Km de remada em mar aberto enfrentando ventos, ondas e correntes, onde os competidores só conseguem enxergar a zona de chegada quando mais da metade da prova já foi percorrida.
Tendo em vista este cenário, fica evidente que o conhecimento local é fundamental para o êxito na competição. No entanto, a prova de domingo foi disputada em condições atipicas. Primeiro, devido aos ventos que teimavam em soprar com baixa intensidade durante o início da disputa, depois, já no meio do canal, surgiam em fortes rajadas, muitas vezes contrárias aos competidores, bem como as ondulações, que pareciam estar alí para tornar mais àrdua cada remada em direção à ilha de Oahu, empurrando os desafiantes para todas as direções imagináveis. Uma verdadeira briga de Sansão e Golias.
E, como todos sabem, brigar contra os elementos da natureza pode ser fatal até mesmo para os remadores mais tarimbados. Assim, ainda que nenhuma informação oficial tenha sido passada, essa deve ter sido a edição com o maior número de desistências, sendo a mais ilustre a californiano Danny Ching, um dos favoritos ao título, que abandonou a competição após brigar muito contra as ondas e contra fortes dores nas costas e uma lesão no ombro.
Nestas condições, o mar se transforma num imenso tabuleiro azul de xadrez e os competidores, orientados por seus barcos de apoio, são obrigados a fazer escolhas para tentar aproveitar ao máximo as condições naturais ao invés de brigar contra elas o tempo todo.
Dessa forma, Kai Lenny e Connor Baxter, que brigavam pela primeira colocação até o momento, devidamente orientados por seus barcos de apoio, seguiram uma direção mais ao sul, que parecia ser o caminho mais rápido. Kai, inclusive, contava com ninguém menos do que Dave Kalama em seu barco de apoio, possívelmente o remador de SUP mais experiênte nesta travessia.
A estratégia de ambos, porém, não foi frutífera. Enquanto os experientes havainos apostavam no sul, o australiano Travis Grant, que fez sua primeira M2O, adotou uma abordagem cada vez mais à direta, a medida em em Oahu se aproximava. Scott Gamble, do Havaí, que vinha logo atrás de Grant, optou por seguir a estratégia, que por fim, se mostrou a mais eficiente. Travis Grant venceu a Molokai 2 Oahu completando sua jornada em um tempo de 4h50m17s e Gamble, Segundo colocado, cruzou a linha em 5h00m53s.
No feminino, outra remadora da “terra dos cangurus” recebeu o primeiro premio. Depois de terminar em terceiro em 2012, Terrene Black tornou-se a primeira mulher australiana a vencer a categoria, com o tempo de 5h40m40s.
Jenny Kalmbach, 30, local da ilha havaiana de Kona foi a segunda colocada com o tempo de 5h45m22s. Jenny foi a vencedora da M2O em 2009 e segunda colocada em 2010, prova esta vencida pela brasileira Andrea Moller.
Andrea, que teve uma ótima largada e liderou a prova por quase todo o percurso, no entanto, assim como ocorreu com Baxter e Lenny, não foi feliz no approach final, concluindo a prova na quarta colocação.
Outro brasileiro radicado no Havaí era apontado como um dos favoritos. Livio Menelau, quarto colocado em 2012, estava muito focado e vinha embalado após o terceiro lugar na Maui Paddle, mas assim como ocorreu com vários locais, não escolheu a estratégia certa e terminou a prova na 15 colocação.
Já o bicampeão brasileiro de SUP race, Luiz Carlos Guida, o “Animal” fez bonito e foi o sexto remador de SUP a cruzar a linha de chegada e primeiro brasileiro. Animal apostou na hidratação constante que lhe ajudou a manter o ritmo forte durante toda a prova, que exigiu muita força física por parte dos competidores.
Vinnicius Martins, local de Búzios, participou pela primeira vez da M2O e obteve uma ótima décima terceira colocação, um resultado que poderia ter sido ainda melhor se as condições climáticas não fossem tão atípicas. Sua escolha por uma prancha mais pesada, ideal para condições de downwind, quando o vento sopra a favor do remador, acabou não sendo a ideal, uma vez que os ventos, quando se intensificavam, sopravam contra os remadores na maior parte da prova.
Gustavo Ratones, do Rio de Janeiro, foi outro Brasileiro que representou muito bem as cores verde-amarela na competição finalizado na 33ª colocação geral assim como seu conterrâneo, Bob de Araujo, terminando a prova na 41ª colocação. Outra boa colocação com gostinho de brasil foi o décimo lugar na geral de Mo Freitas, 16 anos, que apesar de nascido no Havaí, é filho do brasileiro Tony Freitas e fala português fluente.
Os brasileiros, como sempre, mostraram muita garra e o mais importante, evolução. É certo ainda que estamos dentro de um período de desenvolvimento, mas muitos passos já foram dados na direção certa, sobretudo na cultura de competições que vem sendo criada através do circuito brasileiro de SUP race, sem sombra de dúvidas, o melhor circuito nacional do mundo. Precisamos seguir nessa direção, valorizando as categorias de base e a preparação dos remadores profissionais, como é o caso dos australianos.
E por falar em Austrália, os Aussies tomaram de assalto a M2O 2013. Assim como ocorreu com as categorias individuais de SUP, o paddleboard teve dois campeões australianos: Brad Gaul e Jordan Mercer, ambos vencedores da categoria em 2012, com folga defenderam seus títulos este ano, mas não sem usar toda a energia que tinham ao longo do “Canal dos Ossos”. Mercer estava visivelmente esgotada e recebeu cuidados especiais ao terminar a prova. A alegria por conquistar sua terceira vitória consecutiva, porém, era maior do que qualquer estafa.
RESULTADOS OFICIAIS – TOP 10 GERAL + BRASILEIROS
1º Travis Grant (4:50:17)
2º Scott Gamble (5:00:53)
3º Connor Baxter (5:02:02)
4º Kai Lenny (5:07:57)
5º Kaeo Abbey (5:11:48)
6º Luiz Guida (5:17:29)
7ºTravis Baptiste (5:22:59)
8º Eric Terrien (5:24:36)
9º Kody Kerbx (5:26:21)
10º Mo Freitas (5:27:43)
13º Vinnicius Martins (5:34:14)
15º Livio Menelau (5:39:32)
33º Gustavo “Ratones” (6:17:23)
41º Bob de Araujo (6:46:09)
RESULTADOS OFICIAIS TOP 4 FEMININO
1ªTerrene Black (5:40:40)
2ªJenny Kalmbach (5:45:22)
3ªSonni Honscheid (5:52:07)
4ªAndrea Moller (5:52:24)