Surf nas Olimpíadas?

Muita onda ainda tem que rolar

ISA World Surfing Games 2006, Huntington Beach, Califórnia (EUA)

 

ISA World Surfing Games de 2006 em Huntington Beach. Festa do surf mundial na Califórnia (EUA). Foto: Covered Images / Rowland.

Os Jogos Olímpicos de Pequim começam nesta semana. Ao todo, 204 nações disputam as cobiçadas medalhas das 35 modalidades em jogo. Assim como aconteceu nos XV Jogos Pan-americanos Rio 2007, o questionamento da inclusão do surf acaba sendo o assunto entre aqueles que deslumbram com a possibilidade de assistir e torcer pelos seus surfistas preferidos nos Jogos.

 

Para saber como anda o caminho que levará ou não o surf às Olimpíadas, conversamos com o santista Marcos Bukão, um dos três integrantes do comitê técnico da ISA (International Surfing Association).

 

Autoridade no assunto, Bukão, 52 anos, revela o que já aconteceu para que o surf se torne um esporte olímpico. Apesar de alguns avanços, muitas arrebentações ainda precisam ser superadas.

 

Para percorrer essa longa estrada, a International Surfing Association tem feito seu papel, segundo Marcos Bukão. ?Em 1994, o surf, através da ISA, recebeu um reconhecimento provisório por parte do COI ? Comitê Olímpico Internacional. De acordo com as regras do Comitê, a modalidade é monitorada durante dois anos. Após este prazo, o reconhecimento passa a ser definitivo, o que aconteceu durante o ISA Games de 1996, em Huntington Beach, na Califórnia?.

 

Apesar do reconhecimento, o surf ainda precisa vencer outras etapas. ?Vale lembrar que o fato do esporte ser reconhecido pelo Comitê Olímpico, não implica em direito adquirido de participar dos Jogos. Para que isso aconteça, é preciso cumprir outras exigências?, esclarece o santista.

 

Entre elas está a organização da modalidade. ?O primeiro passo para que o surf entre na lista é cada país ter uma entidade nacional reconhecida legalmente como responsável pelo esporte. Em seguida, esta entidade ser filiada ao Comitê Olímpico de seu país. Atualmente, essa é a principal batalha da ISA. Ajudar os países a se organizarem e conseguirem sua filiação?, avisa Bukão, que faz parte do comitê técnico da ISA, ao lado de Alan Atkins, da Austrália, e de Robin de Kock, da África do Sul.

 

No Brasil, esse caminho já foi percorrido. ?Aqui, essa questão está muito bem resolvida. A Confederação Brasileira de Surf é reconhecida como entidade nacional pelo Ministério do Esporte, e está regularmente filiada ao Comitê Olímpico Brasileiro ? COB?, avisa. Prova disso, é o apoio que os atletas recebem do Governo Federal para participar do ISA Games.

 

?Nas últimas edições do ISA, a equipe teve auxílio de verbas federais para as viagens e desfilamos com a bandeira brasileira com os anéis olímpicos, cedida pelo COB, que é um símbolo extremamente controlado?.

Mesmo assim, Marcos Bukão diz que o sonho do surf se tornar olímpico está distante.

 

?O caminho a ser percorrido ainda é longo. O surf não tem nem a metade do número de países com filiação aos seus respectivos comitês olímpicos nacionais, exigido pelo COI. E para piorar, muitos não tem uma organização que lhes dê condições para tal?, adverte sem perder as esperanças.

 

?Quando a ISA entrou com a aplicação junto ao COI para seu reconhecimento, disseram que seria impossível. Hoje, se você entrar no site do comitê, o nome do surf está lá. Porém, todos nós sabemos que é uma meta muito difícil a ser alcançada?.

 

Os motivos são variados. Vão desde a representatividade em números de filiados como os lugares para a execução das provas. ?A parte institucional é um dos entraves, mas há também a questão de adaptar o atual formato de competição de acordo com as provas olímpicas?, comenta Bukão, que participa do ISA Games desde 1994. Para ele, ondas artificiais seriam um caminho.

 

?Os puristas vão achar isso uma heresia, mas eu aposto minhas fichas que, se um dia o surf entrar nos jogos olímpicos, será em piscina?, profetiza.

 

?Já existem projetos de ondas incríveis em piscina. Além do que, praticamente seria impossível realizar dentro do atual formato, já que dependemos tanto da localização como da natureza e ainda estamos longe do ideal para transmissão ao vivo pela TV?, continua sem esquecer da primeira meta.

 

?De qualquer maneira, esse problema não é o mais urgente. O que precisa agora é de um número maior de países com filiação em seus comitês olímpicos nacionais?.

 

Diante de tudo isso, o surf, de fato, não pôde estar no Pan-americano, que rolou no Rio de Janeiro, como foi questionado na ocasião. ?O surf no Pan seria uma bela vitrine para as Olimpíadas, no entanto, não resolveria o maior obstáculo, que é o número de países necessários para tal?, lamenta Bukão.

 

?A não participação, não é culpa da organização ou regras dos Jogos, mas do próprio surf que ainda está desorganizado em vários países. O Carlos Nuzman, do COB, sempre manteve as portas abertas para o esporte e quando a CBS entrou com a papelada em ordem, a filiação saiu imediatamente?.

 

Com toda a sua trajetória no surf, Marcos Bukão é um dos que torce para que esse sonho se torne realidade. ?A inclusão do surf nas Olimpíadas será a melhor coisa que poderá acontecer para o esporte, depois da onda criada por Deus (brinca). O simples fato de fazer parte dos Jogos Olímpicos já implicaria no recebimento de verbas, apoio e suporte tanto dos governos federais como dos estaduais, independente das propostas políticas, como acontece hoje em dia?.

 

E o surf tem tudo para fazer a torcida brasileira vibrar ainda mais. ?Para se ter uma idéia, se os últimos ISA Games, desde 1998, fossem os Jogos Olímpicos, o surf teria trazido para o Brasil mais medalhas que qualquer outro esporte em toda a sua história?, garante.

 

O acesso O papel da ISA para a inclusão do surf no Comitê Olímpico Internacional foi fundamental. Através do ISA World Surfing Games, mais conhecido como ISA Games, que o esporte recebeu o reconhecimento definitivo, durante a edição de 1996, em Huntington Beach, Califórnia.

 

A competição, considerada a olimpíada do surf, reúne a cada dois anos, diversos países. Nos modelos atuais, os surfistas são divididos nas categorias Open, Feminino, Longboard e Bodyboard (masculino e feminino), além das disputas em equipes.

 

Nas provas individuas, o Brasil é detentor de várias medalhas de ouro. A estréia do pódio como campeão se deu em 1988, com a vitória de Fábio Gouveia, na categoria Open, em Porto Rico. Seis anos depois, foi a vez de Alessandra Vieira, de Saquarema, marcar presença vencendo entre as meninas, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, assim como o bodyboarder Jefferson Anute. Na edição seguinte, em 1996, na Califórnia, os bodyboards Guilherme Tâmega e Daniela Freitas trouxeram a medalha de ouro para o Brasil.

 

Em Portugal, o santista Picuruta Salazar e a potiguar Alcione Silva foram os campeões de 98, nas categorias Longboard e Feminino, respectivamente. Já em Pernambuco, em 2000, os brasileiros dominaram seis das sete categorias, com os cearenses Fábio Silva (Open) e Tita Tavares (Feminino); os cariocas Marcelo Freitas (Longboard), Sergio Peixe (Kneeboard), Guilherme Tâmega e Karla Costa (ambos Bodyboard).

 

Em 2002, na África do Sul, a capixaba Neymara Carvalho levou mais uma para o bodyboard e Marcelo Freitas se tornou bicampeão, repetindo o feito na edição seguinte, no Equador, pela terceira vez.

Já entre as equipes, o Brasil comemorou o título de campeão na edição de 2000, em Porto de Galinhas, Pernambuco, com a esmagadora vitória de seis atletas. Antes disso, a equipe brasileira ocupou a vice-liderança por quatro anos seguidos em 1992 (na França), 1994 (Rio de Janeiro), 1996 (EUA) e 1998 (Portugal). Esse resultado se repetiu em 2004 em Salinas, Equador.

 

Nas famosas ondas de Huntington Beach, na Califórnia (EUA), a equipe brasileira mais uma vez levou a medalha de prata, ocupando a segunda colocação. A próxima edição do ISA Games acontece entre os dias 11 e 19 de outubro, na Costa de Caparica, em Portugal, que reunirá atletas de 30 países. A formação da equipe que representa o País é definida através das etapas do Circuito Brasileiro de Surf, realizadas anualmente pela Confederação Brasileira de Surf (CBS).

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