Espêice Fia

Muita onda, destruição e pouca tainha

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Visual alucinante na descida da praia da Joaquina. Foto: Fábio Gouveia.

Felicidade para uns e preocupação para outros. Seria bem melhor que o ambiente estivesse equilibrado. Nas últimas semanas muitos swells entraram na costa catarinense e, em algumas praias de Floripa, a força do mar derrubou e vem derrubando casas na faixa litorânea.

 

Barra da Lagoa, Campeche e Armação são as mais atingidas. Na ilha, por onde tenho surfado, as ondas bombaram quase sem parar e as séries na Joaquina chegaram até 3 metros. Checando direto a previsão no “Uêivis”, estão sempre “manchinhas coloridas” e, no amanhecer da última segunda-feira, ao descer a ladeira da Joaquina, o visual estava magnífico.

 

Linhas e mais linhas no horizonte marchavam sem parar. Pilhado pelo “surfe reporte” do Guga Arruda na Rádio Atlantida Fm às 8 da manhã, que relatava condições perfeitas, porém grandes e com dificuldades para varar a arrebentação, fui me certificar com o local Fabrício Machado se dava pra pular do costão. A resposta foi: ”tá difícil,mas com sorte, dá”…

 

Botei o long rapidinho, pois a friaca tá ficando rigorosa no Sul e, depois de alongamentos, me juntei a uma galera que já esperava o momento certo de entrar há quase meia hora. Um deles era o goofy footer Ícaro Ronchi, que já impaciente reclamava: ”pô Fabinho, já faz um tempão que estou aqui esperando e as séries não param”. De fato eram muitas linhas e, mesmo quando menores, vinham seguidamente sem trégua.

 

Esperei cerca de 20 minutos e já estava passando mal de calor, pois o long 3×2 mm debaixo do sol que esquentava tava me dando era moleza. Em um momento depois de uma série grande decidi me jogar, porém um outro surfista que estava mais ao alto do costão alertou que mais ondas viriam.

 

Acabei abortando o “jump” e quando subi novamente vi que aquela tinha sido a hora. Tarde demais, pois depois não deu mais tempo de descer para as pedras novamente e as séries não pararam mais. A impaciência bateu depois de meia hora esperando e disse pra galera: “vamos nessa, pois não vai parar e pelo menos se não vararmos aqui no costão, varamos lá no meio”.

 

Esperei por um momento que achei propício, mas pura ilusão, quando pulei junto com mais quatro caras fomos todos bater no meio da praia. Lá também não foi possível varar e a alternativa foi retornar ao costão para uma nova investida.

 

A essas alturas, umas cinco duplas de tow in faziam a mala no meio da praia. Eram tubos e mais tubos em pé. Nessa hora foi que vi que falta fazia um jet pra momentos como esses. De repente um dia compro um… (risos)

 

Voltando ao costão, mais meia hora esperando e chega Guga Arruda. “E aí raça, tá difícil? O coral foi: “tááá…”. Esperamos que uma série grande passasse e decidimos pular um a um. Guga e Ícaro foram na frente e eu fui um segundo atrás. Os caras passaram e quando faltava uma espuminha pra que eu conseguisse, essa me pegou e não teve jeito, não consegui varar e fui bater no meio da praia novamente.

 

Uma hora e meia na função de tentar surfar e não conseguir, já tava desistindo. Foi nessa que ao caminhar para ir pra casa, chegaram a dupla Formiga e Dudú Shultz. Só assim consegui uma carona para entrar e mesmo de jet deu certo trabalho, pelo menos na hora em que fui rebocado ao fundo.

 

Em minha primeira onda o terral forte bateu, dropei atrasado e sem enxergar nada, foi só no susto. A onda era grande e mesmo indo reto já tinha valido a pena. O problema foi que parei na zona de impacto e quem disse que dava pra voltar?

 

Fui caminhando pela areia e por sorte peguei carona com outra dupla (obrigado mais uma vez). Ao chegar novamente no outside, vi duas esquerdas grandes e drops bonitos do Guga Arruda e Fabrício Machado, ambos indo até o topo com belas rasgadas.

 

Ao meu lado e mais para o inside estava Guilherme Ferreira, que a toda hora esperava achar a onda certa para tentar pegar um tubo. O visual de dentro d’água era lindo, com umas paredes longas e sem crowd algum. Fui com uma 6’6″ com bastante flutuação e remei com tudo para pegar minha saídeira, pois essa parecia que ia rodar e não queria perdê-la, nem dropar atrasado.

 

Desci esperando que a parede armasse e quando cheguei à base, formou uma bela placa. Passei por dentro e fui ficando muito deep, porém na hora em que estava saindo meu pé da frente deu uma escorregada e acabei me desequilibrando.

 

Saí da session com apenas essas duas ondas surfadas, pois tinha que pegar minha filha na escola, mas mesmo assim valeu a pena e agradeço aos amigos que me rebocaram, pois caso contrário seria uma manhã inteira de remada. O visual do line up enquanto caminhava para o estacionamento era magnífico. Mais uma vez as duplas de tow in dando show.


O mês contu com importantes competições na cidade. Teve final clássica do Brasileiro Pro Junior na praia do Riozinho, onde o paulista Caio Ibeli venceu o baiano Marcos Fernandez. Molecada dando show nas ondas, bonito de ver. Pedra Dornelles também mandou muito bem no WQS da praia Mole, pena que na final o “jaburú” Aritz tava conectado.

 

Em época de tainha e praias fechadas, poucos peixes nas praias ao Leste da ilha. Logo, pescadores meio estressados e segue aquela velha encrenca. Surfistas fissurados na melhor época do ano. Alguns conflitos isolados, mas nada de grave, pois quando passa de 1 metro a turma das embarcações a remo acaba liberando pro pessoal, mas pra felicidade de todos, oremos pra que os peixes apareçam, pois aí tudo fica mais tranquilo dentro dessa cultura nativa da ilha e aí é felicidade pra todos.

 

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.