Temos sempre que estar abertos ao novo. Mas, não somos obrigados a bater palma quando não gostamos do show.
Não podemos dizer que Joel Parkinson não mereceu ganhar o título, mas é fato que era um veterano que sempre bateu na trave. Seu surf polido, de arcos bonitos, ultracompetitivo, mostrou a frieza de um samurai, mas está bem longe de ter a serenidade e o sorriso fraterno de um monge.
Levou com ele mais uma prova de que os surfistas locais da Gold Coast sempre se sobressairão em ondas buraco, principalmente para a direita, onde mostram que se projetam ao mesmo tempo com muita velocidade e colocação perfeita nos canudos.
Creio que, por tanto bater na trave, tenha tido menos pressão, pois já estava habituado a carregar o estigma de vice, assim como Taj Burrow.
A diferença é que para Taj dava para torcer com mais empolgação, mas para Parko, não. Já faz algum tempo, mas quem se lembra do episódio no qual Parko autografou no corpo de uma brasileira a frase “Lick my balls”?
Em minha opinião, foi ali que a máscara dele caiu de vez. Desde então, comecei a analisar de perto as pitadas de arrogância e brincadeiras de mau gosto disparadas pelo surfista aussie.
Contudo, aqui não estamos para analisar se o cara é mala ou não. O que Parko faz na água precisa, sim, ser admirado. Nem sempre ganha o mais legal, nem sempre ganha o mocinho, e se Andy Irons não gostava de ser rotulado como vilão pela mídia, que insistia em deixar Kelly Slater como o mocinho e ele como o malvado, quem sabe mais adiante Parko também nos mostra que não era bem assim.
O ano foi meio conturbado. Começamos com muitas dúvidas sobre o número de etapas, alguns surfistas renomados sem patrocinador principal, passamos por várias polêmicas nos julgamentos e todos esses fatores pesaram um pouco para que este ano o World Tour não tivesse tanto brilho e perdesse um pouco do glamour.
Considero esse título de Joel Parkinson só a chave-de-ouro (de tolo) para repensarmos um pouco no rumo do esporte nos próximos anos.
Acredito que Adriano de Souza tenha mandado super bem durante todo ano, mas deu mole em não ter ido ao Hawaii com antecedência para treinar. Mesmo que tenha sido por motivos particulares e compromisso com novos patrocinadores, sabemos que as ondas do arquipélago havaiano requerem uma forma de surfar diferente das demais durante o ano todo.
Chegar do avião para a bateria é sentença de eliminação na maioria dos casos. O Pipe Masters não pode mais ser considerado etapa para cumprir tabela de quem já está garantido para o ano seguinte.
Medina começou o ano devagar, parecia que não ia engrenar. Talvez tenha caído a ficha de que chegar é uma coisa, mas passar é outra. Pena que demorou um pouco para que seu surf de brigar pelo título pudesse aparecer.
Espancando a marolinha de meio metro, até entubando em tubos de 2,5 metros em Pipe, mostrou que é mais do que um surfista completo. É finalmente o surfista brasileiro mais completo dos últimos tempos, talvez de toda a história.
Muitos disseram que sua evolução poderia ser limitada e sairia das graças dos juízes, mas, tirando o episódio de Portugal, se algum juiz não considerar o surf do garoto como fora de série, só pode estar maluco.
Precisa aprimorar o controle emocional e as táticas de bateria. Se mantiver o surf e acertar esses dois pontos, pode sim ser campeão mundial muito antes do que se imagina. Um dos maiores problemas do WCT é o WQS, pois a qualidade das ondas entre um e outro circuito é relativamente grande, então o WQS não acaba triando os melhores para disputar o WCT.
No WCT, para ganhar o cara precisa ser muito bom em ondas de boas para excelentes, mas, no WQS precisa ser bom em ondas regulares para boas. Aí, o que acontece é que surfistas muito bons em manobras, mas fracos em estilo e tubo, entram no WCT e acabam mais como coadjuvantes.
Se as ondas do WQS fossem do mesmo nível do WCT, talvez Ricardo dos Santos fosse um nome forte. Era só aprimorar um pouco mais as manobras de backside que o Brasil teria mais um grande reforço.
Suposições à parte, o resto da troupe teve um ano apenas regular, com os famosos lampejos de genialidade e pouca constância. Não levamos nenhuma etapa e ainda chegamos mais uma vez ao Hawaii na reza braba para que as combinações de resultados nos salvassem.
De expressivo mesmo, só a consistência de Mineiro e a campanha de Medina a partir do vice, em Fiji. Alejo, quarto, e Medina, vice da Tríplice Coroa Havaiana, também são feitos gloriosos e não são para qualquer um. Mandaram muito bem. O resto da galera ficou no pelotão intermediário ou na rabeira da tabela. Precisamos melhorar se não quisermos amargar um 2013 meia-boca.
Não é demérito, mas não é fácil para ninguém. Agora é hora de repensarmos em que lado da gangorra acabamos o ano. Quem está lá em cima, que se cuide para manter. E quem está na parte inferior, que coloque força para subir. Afinal, se Parko fechou o ano ganhando o Pipe Masters, por que não podemos começar o ano que vem carimbando a faixa dele na Gold Coast? Só me resta dar os parabéns, mas sem aplauso.