Adriano de Souza

Nascido para vencer

Adriano de Souza , Billabong Pipe Masters 2015, Pipeline, Hawaii.

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Adriano de Souza ergue a taça de campeão mundial depois de muitos anos de dedicação. Foto: © WSL / Kirstin.

O dia 17 de dezembro marcou a consagração de um dos maiores atletas da história do surf brasileiro. Dono de uma carreira exemplar, marcada por muitas conquistas desde a infância, Adriano de Souza roubou a cena em Pipeline e entrou para a galeria de campeões da etapa e do Tour depois de vencer batalhas dramáticas no North Shore de Oahu.

De origem humilde, o atleta de 28 anos é filho de potiguares, mas nasceu no Guarujá (SP), onde cresceu em um bairro pobre na periferia da cidade. Seu irmão, Ângelo, hoje com 40 anos, foi apelidado de Mineiro por ser uma pessoa de poucas palavras. No embalo, os amigos de Ângelo passaram a chamar Adriano de Mineirinho.

Em seu emocionante discurso logo depois de garantir o título mundial, Adriano destacou a importância do irmão em sua vida. “Ele comprou a minha primeira prancha de surf por 30 reais e agora estou no topo do mundo. Na época eu sei que era muito dinheiro para ele. Amo muito a minha família e não vejo a hora de ver todos vocês com esse troféu gigante em minhas mãos”, disse o campeão, às lágrimas.

Desde pequeno, Mineirinho já chamava a atenção nas ondas da praia do Maluf, se destacando também na escolinha de surf de Alcino “Pirata”. Em 1997, aos 9 anos, passou a ser acompanhado por Luiz Henrique Saboia, o “Pinga”, um dos principais incentivadores da sua carreira. O trabalho durou até 2012.

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Desde pequeno, Adriano já mostrava uma ritmo competitivo impressionante. Foto: Ivan Storti / FMA Notícias.

Seu primeiro patrocinador principal foi a Hang Loose, em 97. No mesmo ano, fez parte das equipes da Reef e Oakley. Em seguida, passou a ter a Oakley no bico da prancha. Adriano permanece na empresa até hoje, agora como co-patrocínio. No início de 2013, o atleta fechou com a marca Pena, e no ano seguinte passou para a HD – Hawaiian Dreams.

O primeiro shaper do novo campeão mundial foi Isaac Souza Vaz. Em seguida, desenvolveu um longo trabalho com Ricardo Martins, fazendo ainda parcerias com a fábrica espanhola Pukas e os shapers DHD (Darren Handley), Tokoro e Timmy Patterson. Conquistou bons resultados também com pranchas produzidas por Peter Daniels. Atualmente faz parte da empresa californiana Channel Islands, do shaper Al Merrick.

Garoto promissor Apontado como uma grande promessa do surfe brasileiro, Mineirinho começou a chocar o cenário nacional em 2002, quando venceu uma etapa válida pelo Circuito Brasileiro Profissional com apenas 14 anos, na praia do Grussaí, em São João da Barra, litoral norte do Rio.

Na ocasião, o atleta conquistou uma nota 10 unânime na final e ganhou uma moto de 125cc. Como era muito novo e não podia aproveitar o prêmio, vendeu a moto para engordar a sua conta bancária.

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Em 2002, com apenas 14 anos, Mineirinho roubou a cena em um evento profissional na praia do Grussaí (RJ) e desbancou diversos atletas de peso do surfe brasileiro. Foto: Marketing FreeSurf.

Dois anos depois, aos 16, venceu o Mundial Pro Junior em North Narrabeen, Austrália, tornando-se o mais jovem atleta a conquistar o cobiçado título. A vitória foi contra o aussie Shaun Cansdell, que ficou precisando de 9.27 pontos para virar.

Rumo ao Tour Em 2005, dominou a divisão de acesso do Circuito Mundial e terminou o ano disparado na liderança, garantindo seu acesso ao Dream Tour e batendo o recorde de pontos no Qualifying Series.

A temporada de estreia na elite começou com um ótimo terceiro lugar em Gold Coast, Austrália, mas a partir daí ele amargou fracos resultados, à exceção da quinta posição em Jeffreys Bay, África do Sul, e do nono lugar em Mundaka, Espanha. Com os resultados, terminou em vigésimo no ranking.

O ano seguinte também foi marcado por muito aprendizado. Seu melhor resultado veio em J-Bay, onde novamente foi quinto. No ranking final, Adriano ficou em 28o.

Evolução Em 2008, Adriano começou a mostrar sua evolução em ondas mais tubulares, ficando em terceiro lugar em Fiji. No fim do ano, obteve o mesmo resultado na França e terminou o ano em sétimo.

A temporada seguinte foi ainda melhor. Logo na primeira etapa, Adriano chegou pela primeira vez à final no CT e perdeu para Joel Parkinson nos tubos de Kirra, Austrália.

Mineirinho repetiu a dose em Imbituba (SC), onde foi superado na final por Kelly Slater. A primeira vitória no Tour viria em outubro daquele ano, quando venceu o australiano Chris Davidson na decisão em Sopelana, País Basco. Os excelentes resultados fizeram o brasileiro terminar em quinto lugar no Tour.

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Adriano Mineirinho em seu primeiro título internacional, o Mundial Pro Junior de 2004. Foto: WSL  /Robertson.

No ano de 2010, Mineirinho caiu de produção e teve como melhor resultado o quinto lugar em Trestles, Califórnia (EUA), finalizando sua campanha em décimo lugar.

Porém, em 2011 ele voltou a mostrar a sua força e arrebentou em três eventos. Foi terceiro em Bells Beach e venceu as etapas no Rio de Janeiro (RJ) e em Supertubos, Portugal, batendo nas finais o australiano Taj Burrow e o norte-americano Kelly Slater, respectivamente. Com a campanha, Adriano terminou o ano em quinto.

O mesmo aconteceu em 2012, quando começou o ano perdendo para Taj Burrow numa final polêmica em Gold Coast. A terceira posição em Trestles (EUA) e Supertubos ajudaram o brasileiro a manter-se em quinto no Tour.

Em 2013, Adriano fez história em Bells Beach, tornando-se o primeiro brasileiro a vencer a categoria masculina da etapa. Em seguida, foi vice-campeão na Barra da Tijuca (RJ), onde foi superado pelo sul-africano Jordy Smith. A partir daí, teve poucos resultados importantes e acabou em 13o.

Contusões O ano de 2014 foi marcado por altos e baixos. Adriano começou a temporada muito forte, fazendo três finais no QS (quarto em Pipeline, campeão em Sydney e terceiro em Newcastle). Também na Austrália, foi terceiro colocado na abertura do CT em Gold Coast, mas não foi muito bem em Margaret River e obteve o nono lugar. Na sequência, foi quinto em Bells Beach. Repetiu a posição em Fiji, J-Bay, Trestles e Portugal, onde teve o ligamento do joelho rompido.

No meio da temporada, Adriano já havia se contundido durante um treino em Keramas, Indonésia, sofrendo uma fratura no nariz. Ele passou por duas cirurgias e quase ficou fora da etapa em Jeffreys. Também se acidentou treinando no Rio de Janeiro. O bico da sua prancha atingiu o seu quadril e houve o rompimento de um vaso sanguíneo.

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Sua primeira vitória na elite mundial veio em 2009, em Sopelana, no País Basco. Foto: WSL / Cestari.

 

Ano da consagração Depois de uma temporada marcada por muitas contusões, Adriano voltou com tudo em 2015, o ano da consagração. Muito inspirado, fez uma perna australiana incrível. Foi terceiro lugar em Gold Coast, depois chegou à final em Bells e perdeu para Mick Fanning no critério de desempate. Na sequência, foi um gigante em Margaret River e venceu a prova de forma brilhante. O 13o lugar no Rio de Janeiro e em Fiji esfriaram o ritmo do atleta, que logo depois foi quinto em J-Bay e 13o no Tahiti.

A recuperação veio com o vice-campeonato em Trestles, perdendo para Mick Fanning numa final eletrizante. Na França, ficou em terceiro lugar e ganhou força na luta pelo título.

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Adriano de Souza emocionado com a sua primeira vitória no Brasil: Barra da Tijuca (RJ), 2011. Foto: © WSL / Kirstin.

 
O resultado em Portugal foi abaixo do esperado (13o), mas o brasileiro não desistiu da caça ao título e partiu determinado ao Havaí.

Começou a etapa perdendo para Michel Bourez por muito pouco. Em seguida, teve muito trabalho para vencer o jovem Jack Robinson na repescagem, em uma bateria dramática.

Na terceira fase, fez a sua parte e eliminou Glenn Hall. Cresceu de produção no round 4 e levou a melhor sobre Josh Kerr numa disputa acirrada que terminou com Adam Melling em terceiro.

Nas quartas, voltou a enfrentar Josh Kerr e venceu pelo placar apertado de 5.50 a 4.43 em uma batalha com pouquíssimas ondas e vencida nos minutos finais.

Depois de ver o australiano Mick Fanning ser derrotado por Gabriel Medina nos minutos finais, Mineirinho foi para a água precisando derrotar o local Mason Ho para comemorar seu primeiro título mundial.

Em outro duelo tenso, conseguiu superar Mason com notas 4.00 e 2.83, contra 0.87 e 3.83 do adversário, que ainda cometeu uma interferência na última onda.

A festa tomou conta das areias de Pipeline e Mineiro foi às lágrimas. Depois de comemorar com os amigos e os fãs, teve de voltar para a água para encarar seu compatriota Gabriel Medina em uma final brasileira inédita no Pipe Masters.

Já aliviado com a conquista da taça, Adriano teve muita tranquilidade para pegar os tubos do Backdoor e derrotar Medina numa final também marcada por poucas ondas.

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Em 2013, Mineirinho tornou-se o primeiro brasileiro a vencer a categoria masculina em Bells Beach, Austrália. Foto: © WSL / Kirstin.

Rivalidade com Slater A carreira de Adriano de Souza foi marcada também por uma grande rivalidade com o fenômeno Kelly Slater. Até julho de 2009, ele nunca havia derrotado o norte-americano. Só na elite mundial eram 9 derrotas, a última delas na decisão da etapa na praia da Vila, em Imbituba (SC).

O tabu foi quebrado durante uma etapa do QS em Huntington Beach, Califórnia. Em seguida, Mineirinho venceu novamente Slater na semifinal do CT no País Basco, e depois amargou duas derrotas para o norte-americano em Porto Rico. Na primeira delas, válida pela quarta fase, Adriano vencia a disputa com uma ótima atuação, mas cometeu uma interferência no norte-americano, que ficou muito irritado com a disputa pelas ondas.

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Kelly Slater e Adriano de Souza: história marcada por muita rivalidade. Foto: Harleyson Almeida.

Eles se reencontraram nas quartas-de-final e Slater deu um show nos tubos de Middles, conquistando o seu décimo título mundial. Em entrevista, o norte-americano comparou Adriano a Andy Irons, falecido dias antes. “Tivemos uma discussão ontem porque disputamos algumas ondas e ele acabou cometendo interferência. Ele me lembrou muito da época em que competia com o Andy, pela forma como me olhava e pela disposição na água. Adriano é um grande competidor, ele conseguiu até me tirar do ritmo na bateria que tivemos na sexta-feira”, comentou. “Isso é bom para o esporte. Tenho certeza de que toda vez que alguém souber que vai ter uma bateria entre Slater e Adriano, já vai imaginar que um vai pular no pescoço do outro”, completou Slater.

A partir dali, Mineirinho não deu trégua a Kelly Slater. Foram 10 duelos disputados e somente uma derrota. O único revés foi em 2014, quando Slater completou um tubo espetacular em condições muito difíceis na Barra da Tijuca e complicou a situação do brasileiro com uma nota 10 logo na primeira onda. Apesar da grande hegemonia nos últimos anos, Mineirinho ainda está atrás no placar contra o norte-americano em baterias no Tour. São 12 vitórias de Slater, contra 10 de Adriano.

Os números de Mineiro na elite mundial

Temporadas no Tour 10

Finais disputadas 12

Etapas vencidas 6

Posições no ranking

2015 1o
2014 8o
2013 13o
2012 5o
2011 5o
2010 10o
2009 5o
2008 7o
2007 28o
2006 20o

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