Espêice Fia

Nem tudo está perdido

Quando as ondas não estão perfeitas, Ian Gouveia testa novos equipamentos, como essa monoquilha 5'11.

 

Quando as ondas não estão perfeitas, Ian Gouveia testa novos equipamentos, como essa monoquilha 5’11. Foto: Fábio Gouveia.

“Não há nada mais importante na vida de uma pessoa do que diversificar seus interesses. E não há nada mais triste do que um surfista brochar porque as ondas não estão acontecendo”.

 

Li esta frase em uma entrevista do legend Tito Rosemberg e guardei. Não lembro agora qual era a procedência, mas lembrei dela ao observar recentemente uma foto do surfista Marco Polo em uma dia clássico em Floripa. A legenda dizia: “Como surfistas, somos geograficamente azarados. Nossos irmãos polinésios, americanos, europeus e australianos (o autor esqueceu dos indonésios) contam com uma variedade muito maior e mais constância de ondas de qualidade. E por isso, dias como o da foto são tão inesquecíveis para surfistas brasileiros”.

Feita a comparação, realmente fica difícil dizer que no Brasil dá “onda boa”. Os dias clássicos são poucos e, quando entra aquele swell mágico, é difícil durar muito. Mas, para aqueles mais fissurados e com tempo disponível, dá pra correr atrás de swell pela costa e fazer dos nossos 8 mil quilômetros uma boa jornada de prática. Mas isso seria um caso à parte, pois poucos poderiam buscar este objetivo (por diversos motivos).

Dentro do País, atualmente moro em um local de ondas boas. Santa Catarina tem diversidade de picos, embora muitas vezes (principalmente em Floripa) o swell passe por fora, batendo com mais força e volume nos litorais paulista e carioca.

Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará têm suas bancadas mágicas. Sergipe e os extremos do litoral paraibano também possuem boas ondas (ainda não conheço nosso litoral na região Norte).

Paraná e Rio Grande do Sul têm seus renomados picos e, se fizermos uma junção de todos os estados relatados, aqueles que fizerem uma busca pelo litoral podem dizer que temos ondas.

Mas, como disse, é pra poucos. E ia me esquecendo de Noronha, logo a nossa rainha, que, mesmo com suas fechadeiras em muitas ocasiões, quando fica do jeito, fica internacional. Aí eu já estou me empolgando, mas afinal, em minha vida “surfística”, já  peguei muita onda no País e não sou dos que reclamam. Esta semana preferi fazer um surf próximo à minha casa, aproveitando a presença de Ian, que não para mais de viajar.

E por isso também ele resolveu ficar surfando nas proximidades. A bancada estava se formando legal para a ondulação de leste que batia há alguns dias. E no começo da semana, em um dia ainda bem marola, fizemos um surf que almejamos um dia propício.

“Caramba, quando o mar subir, esta bancada vai ficar show. Ela vai dar altos tubos!”, pensamos. A previsão indicava ondulação de leste e vento norte / nordeste. Perfeito! Acordamos com barulho do mar, fomos direto ao pico, mas, quando chegamos, vento leste (lateral) e forte correnteza. Havia umas ondas, paredes de certa forma longas. De cara, vimos que o surf seria difícil A expectativa era maior do que a encomenda. Ian ficou meio desmotivado, afinal como viaja muito, pega poucos dias bons em casa. Pra levantar seu ânimo, disse pra encarar aquela caída como um treino físico também, pois a forte correnteza iria exigir nossa força. A real era que, se conseguíssemos encaixar o momento certo, estando no lugar certo na hora da série, poderíamos pegar algumas ondas boas.
 
Pegamos duas boas cada um. Surfamos por uma hora e meia, eu creio. Tirando o treino físico, o custo benefício foi pouco, apesar de as duas boas terem sido ondas longas, com mais que três manobras. Saímos do mar pensando que, se estivesse terral, poderia estar clássico. Mas, ô condição difícil! Endorfinas liberadas, estávamos de certa forma satisfeitos. E é claro que existem dias piores, aliás, dias bem ruins mesmo. Tem dia que tá grande e fechando e tem dia que tá muito pequeno e maral. Tentar uma motivação extra é uma coisa difícil em certas ocasiões, principalmente quando a expectativa é maior.

Mas existem variadas formas de curtir um dia de surf sem brochar. É claro que já reclamei muito das condições do mar em determinadas vezes, mas faz tempo também que venho procurando curtir o que tem no momento. Aliás, essa curtição é com a mudança de equipamento, seja uma fish biquilha, uma mono, um fun, um long, um SUP e até mesmo uma alaia.

Ainda não fiz o step off, o tow in e o tow out, mas sei da parcela de diversão e entram na lista. Surfar com pranchas diferentes requer um surf diferente. Não adianta querer fazer o que se faz em uma prancha de competição, por exemplo, em um long. A pisada é outra, a linha a se traçar é outra. Mas é claro também que existe a parcela de diversão caso o indivíduo busque o grau de dificuldade justamente em tentar fazer o surf de “pranchinha” em qualquer outro modelo que não caracterize este surf.

Depois de certa idade, muitos vão aumentando o tamanho e volume das pranchas. Hora pra se ter mais condições de surf e mais diversão. Mas muitos precisam de mais pra poder não brochar nas ondas ruins. Pela experiência que adquiri e venho adquirindo, o fator teste de diferentes equipamentos podem, sim, tirar este aspecto brochante, ou seja, a falta de uma boa condição de surf constante.

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