Neymara Carvalho, uma das maiores atletas do bodyboarding mundial de todos os tempos, pode marcar ainda mais seu nome na história do esporte.
A capixaba corre atrás do quinto título de campeã mundial e pode tornar-se a primeira bodyboarder a atingir tal feito. Com uma carreira de sucesso dentro e fora d´água Neymara conta como está a disputa pelo título mundial de 2009 e também revela projetos futuros.
Quais são as maiores qualidades de suas adversárias ao título?
Eu acho que a qualidade da Jéssica é a segurança que ela tem nas decisões. Ela mostrou isso muito bem no ano passado e a atual fase que vem passando de bons resultados motiva qualquer um.
Com a Eunate acho que o conhecimento do pico lá em Confital a deixa em uma posição confortável e de muita confiança. As duas surfam muito bem.
Como está a cabeça para a competição?
Pensando todos os dias na decisão. Acordo e lembro-me de alguma coisa, vou treinar e penso na onda, no clima, em algumas baterias do ano passado. Estou muito contente com essa adrenalina que estou vivendo, ano a ano. Descubro grandes diferenças entre os anos que disputei. Isso faz com que eu me estimule a cada ano.
Como tem sido a rotina de treinamentos? Você treina algo especifico para a onda de Confital ou segue a mesma rotina de treinos?
Sigo o que faço sempre quando sobram alguns meses livres, academia e surfe. Estou nesse final de ano fazendo alguns treinos com o Gordinho e os treinos estão maravilhosos. Estou com pranchas ótimas e isso também é um ponto a mais para minha motivação.
Se o título vier, o que podemos esperar de você para 2010?
Tenho alguns projetos que quero realizar caso o título venha. Prefiro pensar em um passo de cada vez. Talvez eu me dedique à produção do meu filme e a alguns eventos especiais em 2010.
Conte-nos um pouco mais do seu filme. Você já está trabalhando nele a tanto tempo. Como está esse projeto? Vai ser um vídeo comercial? Vai ser um documentário? Qual o conceito do filme?
A crise afetou um pouco a produção do longa, mas acredito que para o ano de 2010 retornaremos em grande estilo. Temos no projeto uma viagem para a Indonésia com algumas campeãs mundiais e estamos em busca do patrocínio para realização dessa viagem.
O filme já tem o aval da ANCINE (Agência Nacional do Cinema) e estamos aptos a receber verba de grandes empresas. Confio na equipe liderada pelo produtor e amigo Mario Nakamura. O filme vai retratar algumas fases da minha carreira, assim como as dificuldades e as alegrias de poder viver e se realizar no esporte que escolhi como profissão.
Tenho orgulho de minha trajetória e quero que a história sirva de exemplo de perseverança para quem assitir ao filme.
Você está empatada com a Stephanie Pettersen (campeã em 1990, 1993, 1994 e 2002) em número de títulos mundiais. Se tornar a maior vencedora da modalidade é uma motivação a mais ou você nem pensa nisso?
Essa é a minha grande motivação esse ano, não por bater a Stephanie ou a Glenda Koslovksy (ela computa dois mundiais disputados em Sandy Beach na época que o esporte era amador e a IBA não reconhece esses títulos), mas sempre tenho que pensar em algo para ressurgir dentro de mim. Definitivamente quero esse título, primeiro porque acho que tenho condições e estou aqui por isso e segundo sim, para poder ser a primeira mulher na história a ser penta.
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Qual foi a melhor etapa do tour deste ano?
Acho que o circuito está muito bom esse ano, principalmente em condições de ondas. Não dá pra citar uma etapa somente, mas quero falar que gostei do formato do Grand Slam acho que está dando muito certo.
Um retrospecto. Abrimos com altas ondas no Hawaii, ter visto o tubo da Lolly (nota 10) foi lindo, depois Katherine Melo no Sul, mar difícil, mas a minha primeira vitória no tour. Esse evento é super emotivo pra mim, foi uma conquista emocionante.
Na Bahia, vitória da Eunate e ela entra de fato na briga. Em Sintra, Portugal, ver a Catarina vencer e realizar o sonho foi estimulante para todas as meninas, inesquecível! Miss Sumol, não é um evento Grand Slam, mas tem tudo pra ser. Esse ano foi tudo 10. Mais uma vitória sem repetição. Dá lhe, Natasha!
Peniche, Portugal, repeti uma vitória que me colocou de volta na liderança. Búzios uma etapa perfeita em todos os sentidos, segunda vitória da Jéssica incontestável! Com segurança, pode ser uma etapa Grand Slam para o próximo ano. Venezuela e Sopelana são etapas, em minha opinião boas, mas que tem que melhorar para voltarem a ter as melhores bodyboarders do mundo em suas praias. No geral um dos melhores anos no tour.
O esporte vive um bom momento de novo? Comente a fase atual do bodyboard.
Fico contente com essa nova fase, novas gerencias fazendo o esporte e espero que continue assim por muitos anos. Aqui no Brasil, tivemos três grandes etapas, que podem melhorar muito para o próximo ano. Isso mostra o crescimento do esporte. Várias escolinhas estão surgindo e com isso uma grande procura pelo esporte.
Quero poder ajudar aqui no meu país para que possamos ter novas meninas preparadas para o circuito mundial. Nova geração vem ai, a Kyrtis Montenegro, por exemplo, é um talento nato que se bem preparada vai se dar bem! Torço muito por ela.
Você tem no Brasil o INC – Instituto Neymara Carvalho. A quanto tempo existe o instituto e qual o foco dele? Já é possível fazer algumas avaliações?
O INC existe desde 2003. A idéia era poder profissionalizar e dar um maior suporte a Escolinha do Gordinho que faz um trabalho lindo com crianças e adolescentes carentes, aqui na Barra do Jucú (ES), onde moro.
Temos um projeto que é o Aulão de Bodyboarding, promovido por mim e atletas profissionais e amadores convidados que são instrutores e monitores. Nesse Aulão, os alunos passam por uma sessão de alongamento, aquecimento, técnicas na areia, para enfim experimentarem o gosto e a adrenalina das ondas.
Também são oferecidos café da manhã, uniformes, equipamentos, protetor solar, lanche da tarde e toda a segurança necessária. Entre os intervalos de aula, baterias de apresentação com os atletas que me ajudam e brincadeiras com distribuição de brindes, animam os alunos e o público em geral. Tudo isso com a inscrição de somente duas latas de leite em pó que são distribuídas para entidades carentes que também participam como convidadas.
Estamos programando o retorno do Aulão para Janeiro, em Marataízes, Sul do Estado do Espírito Santo. O meu grande sonho é fazer ele em todo o Brasil um dia.
Tenho um grande orgulho de poder transmitir minha experiência de forma educativa, fazendo de minha trajetória como campeã, referência para essas crianças. Acredito que é esse o trabalho, que elas tenham sonhos e, principalmente, auto-estima para prosseguirem nessa meta de conquista.
Sei, pessoalmente, que o esporte transforma cidadãos, quero ver grandes homens e mulheres sendo formados no Instituto para encararem a vida, batalhando pelos seus sonhos, buscando de seus ideais.
