Nicarágua de bandeja

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Popoyo é um dos tesouros da Nicarágua. Foto: Lucas Valentim.

As dúvidas logo surgiram quando comecei a mentalizar o destino. Onde eu encontraria ondas boas, sem crowd, no mês de abril?

 

Desta vez queria algo único, diferente de tudo e no fundo todos nós sabemos que mesmo em pleno ano de 2005 ainda existem muitas ondas a serem exploradas em todos os continentes.

 

Em um debate sobre os diversos picos ainda pouco explorados no planeta, surgiu a idéia de explorar o litoral da Nicarágua, país que faz fronteira ao Norte com El Salvador e ao Sul com a Costa Rica.

 

Os amigos Murilo, Lucas e Gabriel se divertem nas águas da América Central. Foto: Lucas Valentim.
Logo de cara imaginei que o potencial poderia ser grande e deste modo comecei a planejar com mais dois amigos a investida.

 

Entre e-mails, telefonemas e muita informação trocada com a STC (agência especializada em trips de surf), acabei descobrindo um surf camp que conta com guias de surf, barcos e caminhonetes 4×4 para levar os fissurados aos melhores picos na hora certa.

 

Logo o dia chegou e desembarcando na cidade de Manágua pude perceber o estrago que a guerra e o terremoto fizeram com a cidade, que apesar de tudo ainda mantém pessoas muito alegres quase sempre com um sorriso estampado no rosto.

 

Depois de uma viagem de três horas de carro chegávamos ao surf camp, exaustos, porém já sabendo por um dos guias que o swell estava na região e que para o dia seguinte boas ondas nos aguardavam.

 

Às seis horas da manhã fomos acordados por um dos guias e após um servido café da manhã seguimos de carro direto ao point break  próximo ao camping. O visual era incrível, as esquerdas bombavam em séries de 5 pés, abrindo bastante até o inside com o vento terral lapidando ainda mais as paredes e apenas três surfistas dividindo o line up.

 

Surfamos durante duas horas e ficamos bem satisfeitos com o potencial da onda que tinha seções bem definidas e abria bastante, proporcionando um ótimo treino inicial que de cara nos deixou boa impressão.

 

Orientados pelos guias decidimos seguir para o beach break de Santana, pois a maré estava subindo. O beach break de Santana é o mais popular nesta região da Nicarágua chamada Las Salinas.

 

Crianças e adolescentes dividiam as ondas em grande harmonia e logo de cara caímos no mar de 4 pés perfeitos com esquerdas e direitas quebrando perto da praia com fundo de pequenas pedras arredondadas. O surfe estava rendendo bem e o vento terral continuava soprando nos trazendo muito ânimo para a viagem que estava apenas começando.

 

Foi no dia seguinte que começamos a sentir o real potencial do surf na Nicarágua. Logo pela manhã sentindo novamente que o vento era terral fomos levados a um pequeno porto de pescadores de onde sairia o barco que passaríamos o dia.

 

Os guias prepararam todos os artigos a serem levados: macarrão, biscoitos, sucos, frutas e muita água para que pudéssemos passar o dia inteiro atrás das ondas. Depois de 40 minutos navegando chegamos ao primeiro pico chamado Colorado, um beach break que me lembrou muito Maresias em um dia clássico.

 

Esquerdas e direitas de 5 pés quebravam com ótimos tubos abrindo bastante e na água apenas os hóspedes do surf camp que naquela hora eram cinco, ou seja, estávamos surfando altas ondas, água quente, vento terral e apenas cinco pessoas na água. Naquele momento não poderia reclamar de nada, estávamos sendo abençoados por todos estes fatores que somados nos levavam ao êxtase.

 

Navegando lentamente para o próximo pico, comemos, pescamos, descansamos e trocamos muitas idéias sobre a caída matinal que tinha rendido um bom treino, mas ainda não era suficiente e apesar do forte sol e calor queríamos mais e estávamos prontos para mais um pico novo.

 

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Playgrounds, mesmo com vento, é um parque de diversões. Foto: Lucas Valentim.

O nome era Playgrounds, perdido em uma praia inabitada, pois se trata de uma reserva ecológica. Mais uma vez ficamos paralisados com o visual do point break de esquerdas de 5 a 6 pés, rolando com boa formação e desta vez não eram os tubos e sim as grandes paredes bem manobráveis que se formavam após um drop tranqüilo sob um fundo de pedras pontudas.

 

Após este dia estávamos certos que tínhamos acertado em cheio sobre o destino, as ondas, o lugar, as pessoas, a comida e o crowd, que em alguns picos era zero, além do vento terral constante faziam com que o dia fosse bem intenso e depois do jantar servido não restava muito a não ser dormir cedo.

 

De tão perfeitas, as longas paredes do beach break de Santana são ideais para aperfeiçoar manobras. Foto: Lucas Valentim.
Acordamos às 7 horas na manhã do dia seguinte e seguimos de carro com o dono do surf camp para um point break de direitas que quebra no outside de uma praia que também é reserva ecológica e poucas pessoas têm acesso. Bingo! Mais um surf garantido sem crowd,  direitas com boas seções de tubos e manobras mais para o inside que de cara nos deixaram com os braços doloridos.

 

Após esta session almoçamos no camp e na parte da tarde decidimos surfar o beach break de Santana que estava com boa formação e apesar do pequeno crowd muitas ondas quebravam sozinhas. Surfando no pico percebemos o quão amigáveis são os locais na Nicarágua, muitos deles puxavam conversa, queriam saber de onde éramos, o que fazíamos em nossos países e tudo o mais.

 

E quando entrava a série muitos deles diziam para irmos nas ondas, queriam nos ver surfando, queriam nos ver contentes em seu país, muito contrário do que acontece na maioria dos picos onde acontece a famosa disputa de remada. Fiquei impressionado com a humildade dos locais.

 

No resto dos dias o surf rolou solto, não creio que foi sorte, pois todos os dias o vento foi terral variando de fraco a moderado durante o dia e a constância dos swells também nos garantiram surfar de duas a três vezes por dia em diversos picos espalhados pelo litoral durante os sete dias. De barco ou de carro e acompanhados pelos guias não existia muito com o que se preocupar, somente com qual prancha cair, pois o resto era oferecido literalmente de bandeja.

 

A equipe do camping sempre muito atenciosa nos deixava à vontade e nós é que escolhíamos a hora de acordar, a hora de surfar, se estávamos com fome poderíamos voltar ao camp fazer uma refeição e surfar novamente em algum outro pico, tínhamos flexibilidade e sempre tinha um carro disponível com um guia para nos levar a qualquer lugar.

 

Nas saídas de barco, três durante a semana, os guias tomavam conta de tudo, comida, bebidas e pranchas, tudo era organizado para oferecer comodidade e isso não tem preço, uma vez que você está investindo em um pico pouco explorado, o conhecimento deles é essencial. Em nosso último dia de hospedagem ainda surfamos pela manhã o point break,  com boas ondas de 6 pés e vento terral.

 

Na parte da tarde resolvemos visitar o vulcão Mombacho que fica próximo a cidade histórica de Granada e a visita valeu a pena, pois a cidade é uma das mais antigas das Américas onde ainda estão prédios bem antigos e costumes que praticamente pararam no tempo e atraem nossa curiosidade, além de contar com bons restaurantes de comidas típicas.

 

No mesmo dia na subida ao vulcão nos deparamos com o chamado arborismo, uma tirolesa em árvores de 10 metros garantindo que a adrenalina não baixasse mesmo quando estávamos fora da água.

 

No final da semana chegamos mesmo a conclusão que a investida não só valeu a pena como surpreendeu nossas expectativas, deixando claro que a busca é mesmo interminável.

 

Ainda faltou comentar e citar nomes de muitas outras ondas que surfamos com apenas cinco pessoas na água, isso serve também para estimular você a sempre acreditar que o pico que de seus sonhos existe e pode estar bem mais próximo do que imagina.

 

Agradecimento especial a The Surf Travel Co que tornou o sonho possível, valeu galera!

 

Para obter mais informações, entre em contato pelo email  surftravel@surftravel.com.br .