Renata Porcaro

No caminho do Ben

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Minha vida sempre foi guiada pelo oceano. Sou oceanógrafa e pego onda de longboard. Desde a infância quis morar perto do mar e, em 2015, vim morar em Ubatuba. A felicidade foi tamanha que com ela veio um presente do amor. Descobri que estava grávida e a mistura de emoções envolveu alegria e incertezas: será que eu conseguiria continuar a surfar?

 

A gestação e a maternidade envolvem muitas questões. Em um mundo moderno, no qual é cada vez mais difícil ser natural e no qual o direito da mulher de parir lhe é negado, enfrentei uma jornada para conseguir ter meus direitos garantidos e proporcionar um nascimento digno ao meu filho. Nessa jornada, tive o prazer de conhecer pessoas incríveis que me ajudaram com muito conhecimento e na tomada das decisões.

 

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Renata Porcaro fala das mudanças na sua rotina de surfe durante a gestação de seu primeiro filho. Foto: Patricia Cuyumjian.

O tempo foi passando, e a primeira etapa dessa jornada seria encontrar um obstetra. Tive duas tentativas frustradas com médicos do convênio: a primeira me disse que eu deveria parar imediatamente minhas atividades (surfe e bike), e eu estava apenas no terceiro mês.

A segunda médica parecia uma pessoa muito legal, mas toda vez que eu perguntava sobre o parto ela mudava de assunto. Até o dia que cheguei atrasada na consulta e ouvi a secretária agendando as cesáreas em uma manhã. Nesse dia nem entrei no consultório. Eu tinha pavor em pensar que meu filho poderia ser retirado apenas por conveniência médica e ter seu tempo de nascimento desrespeitado.

 

Continuei a busca e resolvi inverter o caminho. Fui atrás de uma doula, que nada mais é que uma assistente de parto, que orienta e conforta a mulher antes e durante o trabalho de parto. Em uma primeira conversa com Andrea já fiquei encantada. Ela me ajudou na escolha da médica, Dra. Fabiana, e da obstetriz, Bianca. A equipe estava formada e fiquei muito confiante que tudo correria da melhor forma.

 

Com a aprovação da médica, continuei surfando e com o passar dos meses meu centro de gravidade foi se alterando, o que chegou a ser engraçado. Selecionava o mar que iria cair, pois não podia oferecer riscos de machucar ou bater a barriga, e a cada dia eu passava mais tempo no mar e pegava menos ondas. A remada também foi uma dificuldade. Comecei a remar de joelhos e deitava na prancha apenas no momento de entrar na onda. Até que um dia não consegui mais e surfei só com a nadadeira e um handplane. Foi muito divertido e supria um pouco a necessidade de estar no mar e sentir a energia das ondas.

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Longboarder se manteve dentro da água durante todos os meses de gestação, primeiro com a prancha, depois com nadadeiras e um handplane. Foto: Patricia Cuyumjian.

  

Então finalmente chegou a hora de surfar a melhor onda da vida. O momento do sagrado feminino mostrar sua força e mudar minha vida de forma linda e definitiva. Conheci o verdadeiro significado do meu nome e renasci de uma forma que nunca imaginei que poderia acontecer.

Benjamim nasceu no dia 29 de junho de 2016, e exatamente um mês após ele vir ao mundo, eu estava de volta às ondas. A readaptação não é fácil, principalmente com relação ao tempo, pois bebês precisam de muita atenção e dedicação. Meus treinos agora são mais curtos e o tempo na água é cronometrado. Mas está sendo uma experiência maravilhosa e que só agrega coisas boas na vida. Agora eu e Bruno temos o melhor companheiro de praia e nos revezamos na função de cuidar desse serzinho tão incrível e naturalmente sábio.

 

Agradecimentos: Benjamim Porcaro Vasconcellos. Dr. Ivan Maroso Alves. Andrea Steiof (Doula). Dra. Fabiana Oliveira Garcia (Obstetra). Bianca Rocha (obstetriz). 

Produção: Mr. Log

Edição: Bruno Sene Vasconcellos

Imagens: Bruno Sene Vasconcellos / Cleiton Nunes

Trilha sonora: O Caminho do Bem – Tim Maia /Follow the Sun – Xavier Rudd / Roll Over – Uniform Motion

Foto de Capa: Patricia Cuyumjian