Depois de dez anos de parceria com a Associação Brasileira de Surf Profissional (Abrasp), a Abril anunciou uma nova estratégia para o ano de 2010.
Na próxima temporada, a empresa vai promover quatro provas válidas pelo World Qualifying Series (WQS), divisão de acesso do Circuito Mundial.
“Tivemos uma parceria de longa data com a Abrasp, 10 anos, uma parceria supervencedora. Agora faremos uma parceria e um acordo com a ASP”, conta Evandro Abreu, gerente de produto da Editora Abril e organizador do SuperSurf.
Em paralelo ao ranking WQS, o melhor surfista entre as quatro etapas do SuperSurf também receberá um prêmio extra pela
vitória no circuito. Os patrocinadores ainda não estão 100% definidos, mas a Volkswagen e Nova Schin, atuais patrocinadores do SuperSurf, terão prioridade nas negocicações.
“Acho que é um grande avanço para as competições de surf no Brasil. Fico um pouco triste por deixar o Circuito Brasileiro, mas o SuperSurf está passando por uma nova era e deixando de herança um campeonato que há 10 anos começou desacreditado e hoje tem uma baita credibilidade”, explica Evando Abreu
“Esta herança fica para que a Abrasp continue desenvolvendo o trabalho com um novo parceiro e esperamos que continue tendo um sucesso cada vez maior. Por outro lado, ganhamos quatro etapas de WQS aqui no Brasil. Os atletas brasileiros serão beneficiados com mais etapas para buscar uma vaga para o ASP World Tour. Esta mudança será muito positiva para o surf brasileiro”, ressalta Envandro Abreu
Os locais das disputas ainda estão sendo confirmados, mas tudo indica que as quatro estapas acontecem em Florianópolis (SC), Maresias (SP) ou Guarujá (SP), Ubatuba (SP) e Rio de Janeiro (RJ).
Circuito Brasileiro Profissional A Abrasp também apresenta um novo circuito a partir da próxima temporada. Em parceria com uma nova empresa, a entidade promove cinco etapas do circuito nacional com uma premiação maior.
“Foram 10 anos de SuperSurf, que aumentou o patamar do surf brasileiro e ajudou muito neste crescimento. Não houve divergências nesta nossa separação, mas ideias diferentes no que diz respeito ao evento. Era notório que o evento precisava de uma mudança em vários aspectos, principalmente para tentarmos dinamizar”, conta Marcelo Andrade diretor executivo da Abrasp.
Serão R$ 200 mil em prêmios – R$ 160 mil para a categoria masculina e R$ 40 mil para feminina. O período para realização de cada etapa volta a ser de cinco dias. “Eles decidiram que o WQS seria uma solução para eles e nós analisamos que já que iríamos para outro patrocinador seria bom começar uma coisa toda nova, levando em consideração todos os problemas dos últimos anos, como formato e tempo”, explica Andrade.
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Novo formato Em reunião realizada na última quarta-feira (28/10), ficou definido o novo formato para a divisão principal do Circuito Brasileiro de 2010, com 64 atletas na categoria Masculina divididos em três fases de oito baterias, com quatro competidores cada.
A primeira fase será formada por 32 atletas, sendo os top 10 do Brasil Tour 2010 (ranking dos eventos realizados até três semanas antes da etapa), mais oito convidados, mais sete classificados pelos rankings regionais, com mais sete últimos classificados pelo ranking do Brasil Tour de 2009.
Na segunda fase, entram os oito primeiros classificados pelo ranking Brasil Tour 2009 com os oito últimos classificados pela divisão principal do Brasileiro de 2009, estreando contra os 16 que passaram pela primeira fase da competição.
“Nossa idéia é que o formato novo seja mais rápido, mais ágil e ofereça uma janela maior, para colocarmos os atletas na água em condições melhores e o espetáculo ter uma motivação maior para todos”, explica Marcelo Andrade.
Já os Top 16 do ranking brasileiro de 2009 fazem parte da lista dos principais cabeças-de-chave que entram direto na terceira fase, para enfrentar os classificados da segunda rodada. Os top 16 serão definidos a cada etapa pela soma dos pontos no ranking unificado de 2009, mais os pontos adquiridos na temporada vigente.
Na sequência, acontecem as oitavas-de-final já em baterias homem-a-homem, sistema de
disputa que prossegue até a grande final. Em algumas etapas, o representante do conselho executivo, o gerente do circuito, o juiz chefe e o diretor de prova podem optar por transformar o evento no formato homem-a-homem a partir da terceira fase.
Em caso de condições extremas do mar durante o evento, os representantes podem alterar o tempo das baterias entre 20 e 40 minutos, utilizando o formato de confrontos de quatro atletas até o final do evento.
“A questão de aumentar o número de atletas no masculino parece um contrasenso em relação ao que acontece no mundo, mas nossa realidade é totalmente diferente. O circuito WQS é muito forte, mas nós já não temos uma divisão de acesso tão forte. Hoje o atleta que está na elite do surf brasileiro passa um ano em uma situação muito mais confortável do que aquele que não está”, garante Marcelo Andrade.
Para a Divisão Principal do Circuito Brasileiro de 2011 serão classificados os 30 primeiros colocados no ranking de 2010, mais nove campeões regionais de 2010, 13 classificados pelo ranking Brasil Tour 2010, seis convidados e seis classificados pelo ranking Brasil Tour de 2011.
“Para aquele atleta que não está na elite a motivação será dada com 10 vagas nas provas, que irão dinamizar e trazer outros nomes empolgados pela possibilidade de ser campeão brasileiro. Agora não ficaremos só na elite dos 46. A possibilidade está ao alcance de qualquer um. Tanto a molecada mais nova do Pro Júnior como os atletas que estão retornando do ASP World Tour terão oportunidade. Com certeza o título terá muito mais valor, pois a prova será mais competitiva e reunirá os melhores do surf brasileiro. Nossa divisão de acesso crescerá ainda mais com esta mudança, pois as etapas regionais valerão como acesso”, diz Marcelo Andrade.
“Teremos oito convidados a cada prova. Dois recebem vaga pela federação local e três pela Abrasp, que sempre beneficia os contundidos e convida o campeão Pro Junior. Para a outra vaga ainda será decidido se entra o campeão brasileiro da CBS ou o vice do Pro Junior. As outras três vagas de convidado são do patrocinador”, complementa ele.
Categoria Feminina A nova elite será formada por 16 surfistas, divididas em quatro baterias de quatro atletas na primeira fase. Na segunda fase serão quatro baterias mulher-a-mulher, seguida da semifinal e final.
Em algumas etapas, a representante do conselho, o gerente do circuito, o Juiz Chefe e o Diretor de Prova podem optar por transformar o evento no formato mulher-a-mulher a partir da semifinal, com uma segunda fase formada por duas baterias de quatro atletas.
Para a Divisão Principal do Feminino de 2011, serão mantidas as oito primeiras colocadas do ranking brasileiro de 2010, com mais seis classificadas pelo ranking Brasil Tour 2010 e duas convidadas – uma pela Abrasp e uma pelos organizadores locais da etapa.
Na divisão de acesso, tanto no Masculino, quanto no Feminino, o formato também muda. A partir de 2010, os eventos regionais e estaduais terão os rankings unificados com o do Brasil Tour, determinando diferentes níveis de premiação e pontuação. Nesse formato, serão computados no ranking da divisão de acesso os seis melhores resultados de cada atleta.
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O lado dos atletas Representante do Brasil durante vários anos na elite mundial do ASP World Tour, Renan Rocha é membro do conselho executivo da Abrasp. Em uma conversa com nossa equipe de reportagem, ele contou o que estas mudanças causam de impacto para os atletas e o que muda no atual cenário do surf brasileiro.
“Por enquanto ainda é difícil avaliar o que será positivo e o que será negativo com estas mudanças, pois só na prática saberemos o resultado. Alguns atletas com certeza não gostaram, mas a maioria achou o fato positivo”, diz Renan Rocha.
“Pra ser sincero, eu, Renan Rocha como pessoa, sempre fui contra o que está acontecendo, mas o que importa é a
opinião da maioria dos atletas e do conselho. Eu achava que
deveriam participar 32 atletas no máximo para pode ter mais dinheiro em jogo e estes atletas terem mais força na mídia, mas toda galera achou melhor que não, pois assim temos a possibilidade de que um atleta Pro Júnior, por exemplo, possa fazer um estrago danado no Circuito Brasileiro, ou até mesmo um novo nordestino que não seja conhecido pela mídia, que pode chegar e derrubar grandes os atuais grandes nomes do surf brasileiro”, explica ele.
“Então, esta abertura também ajuda para que haja uma renovação e motivação, já que o ranking será dinâmico. Isto faz com que ninguém fique ali só cumprindo tabela. Perdeu, dançou. Não tem mais como se acomodar. Mesmo existindo os backs e tops, isto irá mudar a cada etapa”.
“Acho tudo isso superválido. O ano que vem será uma grande mudança no cenário do surf brasileiro, por ter uma nova empresa apoiando, novos patrocinadores e novas pessoas envolvidas. Cada novo campeonato que ganhamos só é positivo para o surf brasileiro. Será muito interessante e tomara que todas etapas tenham altas ondas para que tudo dê certo”, deseja Renan Rocha.
“Por um lado, teremos muitos campeonatos, mas eles não decidirão muito a vida dos atletas que querem ingressar no ASP World Tour, pois eles terão que viajar para competir as etapas prime contra os gringos. Por outro lado vai ser bom, porque a molecada começa a competir já em formato dentro do cenário da ASP. É sempre assim, com qualquer mudança ganha-se em algumas coisas e perde-se em outras, mas o importante é o cenário do surf brasileiro hoje na parte de infra-estrutura empresarial. Os empresários vêm o esporte hoje como lucrativo, vendável e que tem que ser praticado. Isto nos ajuda bastante”, avalia.
“Dentro desssas novas mudanças, a única pergunta que fica no ar é em relação às marcas de surf. Será que elas terão dinheiro para patrocinar os atletas em todas estas etapas? Eu vejo atletas desesperados para sobreviver. Nesta etapa aqui da Barra eu vi pessoas que nunca imaginava implorarem em São Paulo para arrumar um patrocínio. A galera está com medo de não ter dinheiro pra comer em fevereiro. Estou vendo pessoas sem patrocínio e as que têm estão ganhando muito mal. Estes atletas moram sozinhos e têm famílias”, explica.
“São várias etapas a ser percorridas e estou vendo que no próximo ano serão somente uns cinco ou seis que terão verba para acompanhar estes campeonatos. O maior medo hoje não é na organização do evento, mas sim nas marcas mandarem os atletas para estes eventos. Tomara que com a mudança de ano a mente também mude. Alguns dizem que investem, mas é necessário investir com a quantia correta”, finaliza Renan Rocha.
Mais prêmios em jogo Assessor de imprensa da ASP South America e da Abrasp há 15 anos, João Carvalho está presente em todos os campeonatos das entidades e acompanha sempre de perto as competições profissionais de surf no Brasil, além de ser um grande especialista nas estatísticas que costróem a história do esporte.
“Esta mudanças só engrandecem o surf brasileiro. O SuperSurf atinge agora uma esfera internacional e os surfistas saem ganhando, pois haverá um volume de prêmios maior a ser disputado. O Circuito Brasileiro também ganha um upgrade, pois a agência nova que entra no lugar da editora Abril chega com todo gás para fazer um produto melhor ainda do que é hoje o SuperSurf, se é que isto é
possível. O surf brasileiro é quem sai ganhando com toda esta mudança”, diz João Carvalho.
“Os surfistas são beneficiados diretamente com o maior volume de prêmios a ser disputados, porque além destas cinco etapas do Circuito Brasileiro Profissional que serão mantidas, teremos quatro novas etapas do WQS, fora todas outras etapa que já estão agendadas para o ano que vem pela ASP South America. Deste jeito os atletas poderão viver até sem patrocínio, só disputando premiação”, brinca João Carvalho.