Leitura de Onda

Novo verbete (ou xeque-mate)

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John John Florence redefine a história do surfe de borda em ondas potentes. Foto: © WSL / Dunbar.

 

Romário, naquele jogo do Uruguai de 93, o último das eliminatórias.

John Peck, o surfista californiano, ao entubar com a mão na borda pela primeira vez na história, no inverno de 62/63.

Senna, o de 84, da Toleman, na chuva e em Mônaco, à caça de Prost.

Shaun Tomson, em 75, num movimento que ficou conhecido como “backside attack”, ao se tornar campeão do Pipeline Masters.

Bob Kurland, na primeira enterrada, a marra no tímido basquete dos anos 50.

Mark Richards, aos 18, estreando no arquipélago havaiano com vitórias no Smirnoff Pro-Am em Waimea e na Copa do Mundo de Sunset, em 75.

Federer, no 105º ponto seguido sem cometer sequer um erro forçado, em partida contra o gigante John Isner.

Tom Curren, em 90, ao deixar um ano sabático para alcançar o recorde de sete vitórias numa temporada e conquistar seu terceiro e último título mundial.

Bolt, na raia de Berlim em 16 de agosto de 2009, quando fez 100 metros em 9’58’’.

Tom Carroll, no inesquecível Pipe Masters de 1991, ao rasgar a parede de um monstro de 15 pés como se estivesse numa onda de meio metro.

Nadia Comaneci, a romena, no primeiro 10 da história olímpica, em Montreal 76.

Kelly Slater, em muitas oportunidades, como em suas três baterias perfeitas de 20 pontos, no Taiti (2005), em Fiji (2013) e novamente no Taiti (2016)

Mike Tyson, um monstro atarracado, em sua primeira luta profissional, em 85, ao derrubar Hector Mercedes em 1min14, após golpes avassaladores no fígado e no baço.

Andy Irons, na final do Pipe Master de 2006, ao virar a bateria com uma nota 10 nos instantes finais da disputa, saindo de uma combinação imposta por Kelly Slater.

Justin Rose, o golfista inglês, na Rio 2016, no primeiro hole-in-one da história olímpica.

Gabriel Medina, aos 17 anos, em 2011, quando venceu duas das quatro primeiras provas que disputou já na elite, oprimindo nomes como Slater e Joel Parkinson.   

Bob Burnquist, um desconhecido skatista, ao chocar o mundo de switch stance e vencer, com a nota mais alta da história do vertical, o Slam City Jam, em 95.

A etapa de Margaret River deste ano, uma das melhores provas da história recente da WSL, com direito a ondas de 15 pés e ameaça de tubarão, registrou um novo verbete na interminável lista de momentos transformadores do esporte:

John John Florence, o surfista havaiano, ao redefinir a história do surfe de borda em ondas potentes, na etapa de 2017 de Margaret River.  

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O havaiano encontrou um novo jeito de surfar ondas power como a do Oeste da Austrália. Foto: WSL / Ed Sloane.

 
Resumo: O havaiano encontrou um novo jeito de surfar ondas power como a do Oeste da Austrália. Mais veloz, mais fluído, mais potente, com uma extensão inimaginável do limite do uso da borda na parede da onda. Encontrou outra linha, uma espécie de lado “b” do surfe, uma nova abordagem. Desconectou-se da convencional técnica de seus adversários, fez com que eles parecessem amadores. Desafiou seus adversários a fazer, nas próximas etapas, o que nunca fizeram na vida. Xeque-mate.

PS1: Não há mais nada a escrever sobre o evento. Não foi exatamente uma disputa, foi um espetáculo solo de um surfista mágico e seus coadjuvantes. Talvez o único assistente digno de nota seja Kolohe Andino, que modificou completamente a linha de seu surfe e ofereceu ao público alguns momentos brilhantes. O resto fez figuração.  

PS2: Peço perdão ao site e aos leitores da coluna pelo atraso na publicação. Eu estava a trabalho no Pará quando a sirene iniciou o dia final da etapa de Margaret River.

PS3: A lista é realmente interminável, para quem quiser contribuir.  

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".