Leitura de Onda

O bravo Jadson

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Jadson André mostra que tudo é possível no circo da ASP, desde que se mostre vontade de vencer e evolução. Foto: Masurel / Aspeurope.com.

Potiguar é dono de uma abordagem criativa na onda. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

A fabulosa vitória de Jadson André em Carcavelos, que praticamente garante a sua volta ao WCT, traz de volta aos holofotes um importante representante do surfe brasileiro. Um campeão.

Jadson, faz pouco tempo, foi desvalorizado pelos critérios de julgamento da elite, sofreu a acusação de ser surfista de uma manobra só – o seu emblemático aéreo de rotação – e, por último, mas não menos importante, teve o estilo pouco convencional atacado até dentro de casa.

Jadson ainda tem ajustes a fazer, não há dúvida. Todos têm. Mas sua recuperação e retorno ao WCT são provas irrefutáveis de que tudo é possível no circo da ASP, desde que se mostre vontade de vencer e evolução.

O potiguar que volta à elite e 2014 não é um surfista de uma manobra só –  exemplo maior é a vitória de Carcavelos, conquistada com o velho e bom surfe na onda, com direito a tubo e tudo.

Sobre a estética de seus movimentos, concordo com um leitor do Waves, que outro dia postou no fórum que o estilo dele é pouco convencional, talvez ainda um pouco bruto, mas interessante de ser observado. Jadson tem uma abordagem criativa na onda, está sempre em busca de manobras surpreendentes e novas linhas.

Não é o bonito padrão que nos acostumamos a ver em Joel Parkinson, é outra coisa, e tem seu valor.

E as notas que lhe faltaram em seu último ano na elite? Jadson, de meu ponto de vista, foi julgado com excessivo rigor em algumas ocasiões. Fez alguns ajustes em seu surfe e, agora, volta ao mesmo lugar.

A ASP praticamente lhe deu o bilhete de acesso à elite ao julgá-lo vencedor de Carcavelos. Será esquizofrênico se, uma vez entre os melhores, a entidade voltar a achatar as notas do potiguar em nome de um padrão qualquer, que nem ela sabe mais qual é.

Mas, como gato escaldado, Jadson sabe que isso pode acontecer, e terá que lutar para seguir ajustando o seu surfe na linha desejada pela ASP. Afinal, os juízes tem demonstrado certa instabilidade na manutenção de critérios.

O provável retorno de Jadson se torna ainda mais emblemático diante do atual modelo de julgamento, que tem privilegiado o surfe convencional, limpo e sem arestas a aparar de atletas como Mick Fanning.

Estou curioso para saber como os estetas da elite receberão de volta o surfe vigoroso de Jadson.

A volta do potiguar é também uma lição para qualquer surfista brasileiro com obstáculos a transpor. Mirem-se no exemplo desse cara. Ele merece estar de volta à elite. Mais que isso: fez por merecer.

 

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".