O Hawaii é mesmo o paraíso?

O campeão mundial 2000, Paulo barcellos, procura a sombra do tubo em Pipe

O campeão mundial 2000, Paulo barcellos, procura a sombra do tubo em Pipe. Foto: Duda.
Recebo tantos emails da galera, falando que está guardando uma grana para vir surfar aqui no Hawaii, que as vezes me preocupo. Acho este lugar demais, mas também acho que já foi melhor. Depois de instaurada a lei “casa dos locais”, muito mudou. O clima na água não é mais o mesmo. O localismo mudou, cenas de barbárie e humilhações são comuns. Tudo bem que algumas vezes, os caras mereciam, e localismo existe em todo lugar.

 

Eu mesmo, já dei umas apavoradas no crowd do meu pico de origem, minha saudosa Pauba, onde surfei a primeira vez em 1988, mas isto é outra história.


Vejo a molecada vindo pra cá, caindo em Pipe e pegando as sobras, enquanto lugares como Bali, México e Chile, sobram ondas boas. Esta é a minha quinta temporada e vejo uma mudança tão grande, em tão pouco tempo, que imagino daqui há mais cinco anos, ser preciso entrar na água com uma espada.

 

Roberto Bruno e seu segundo inverno havaiano, encara um Pipe de responsa. Foto: Duda.

Parar com a preguica e voltar para o jiu jitsu, pegar a faixa preta? Não sei, as vezes, conto 50, 60 cabeças em Pipeline e imagino quantas ondas perfeitas, estão sozinhas naquele mesmo momento, em Bali. Se você não almeja a competição, ser profissional, seguir o mundial, acho que o Hawaii não é a melhor opção.

 

Primeiro, por ser uma onda que pede experiência, sua forca é absurda. Segundo porque o crowd, não te deixa surfar, a não ser que você tenha um mínimo de moral. E isso só se conquista com o tempo e muito sangue derramado.

 

Vejo muitos, que por aqui passam, e ficam mais assistindo de dentro da água, do que surfando. Não por falta de coragem, mas por não sobrar nenhuma onda mesmo. Se tiver oito locais na água, não é fácil pegar as boas. Depois dos locais, vem os profissionais, depois deles, tem os ratos do pico e depois você. Assim fica difícil…


Hardy Botinho dropa no limite, Pipeline, Hawaii 2004. Foto: Duda.
Já vi, em Pipe, ondas disputadas por cinco locais ao mesmo tempo. Já contei 78 pessoas no mar, um recorde. Sei que muitos falarão não existir nada igual a pegar um tubão de 10 pés em Pipeline… E eu digo: Acordem!!!

 

Vou falar que é bem difícil. Não sei se estou sendo pessimista, mas gastar toda essa grana – aproximadamente US$ 1000 por mês – para pegar umas três ondas realmente boas, não sei se vale a pena. Por este mesmo preço, dá para ficar meses no México, por exemplo. E se estiver na disposição, vai pegar uma de 10 pés por lá também.

 

Como disse antes, esta é a minha quinta temporada havaiana. Não reclamo das ondas que já peguei, sinto até que dei sorte. Já peguei altas. Mas tem alguns bodyboarders, que me escrevem, pedindo informação. Sempre que posso, dou este toque, que talvez seja melhor ir para outro pico. Muitos não terão dnheiro para outra surf trip, logo, vir para cá e ficar na vontade, não sei se é um bom negócio.


Hermano Castro é um dos brasileiros mais experientes no Hawaii. Foto: Duda.
Mas sei que é um sonho de todos estar aqui. Talvez, depois deste tempo todo aqui, eu esteja enxergando a coisa com outros olhos. Pode ser que melhore, piore ou fique do jeito que está.

 

Espero que vocês encarem isso tudo como uma opção. Talvez, em algum lugar, isto sirva para alguém que esta guardando seu dinheirinho suado para fazer a trip dos sonhos. Veja bem o que voce quer: Surfar muito ou pegar só “a sua”?

 

O Hawaii, sempre será o maior desafio, junto com o Tahiti.

 

O Hawaii é também o lugar onde você estará se provando. É um lugar onde a criança chora e a mãe não ouve. Um abraço a todos e boas ondas.

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