Presença constante no Hawaii há mais de 20 anos, o paulista Fabinho ”Littleman” desembarca para mais uma temporada no arquipélago.
Reconhecido pela Surfing Magazine como o menor surfista do mundo em atividade, Fabinho aproveita o inverno com cara de verão no Hawaii e investe no SUP como modalidade.
Direto do North Shore, Littleman conversou com Bruno Lemos, correspondente do Waves e conta as novidades do movimentado North Shore de Oahu.
Quando foi a primeira vez que você veio ao Hawaii? O North Shore mudou muito desde aquela época?
Minha primeira vez no Hawaii foi em 1989, depois de passar dez meses em Venice Beach, Califórnia (EUA). Nos últimos 20 anos o North Shore mudou bastante, com o progresso e o desenvolvimento de Haleiwa.
O número de restaurantes e lojas aumentou. As casas transformaram-se em construções de alto padrão e diminuíram bastante as casas mais baratas para alugar durante o inverno. Além disso, o número de pessoas sempre aumenta.
No Hawaii tive a oportunidade de vivenciar muitas coisas, como as melhores ondas do mundo. Mas não só isso, a cultura e a beleza natural das ilhas que completam o cenário. Outra coisa que poderia dizer que mudou é o crowd. Tem cada vez mais gente na água! Enfim, houve muitas mudanças desde aquela época, apesar de a crise estar mais visível este ano.
Como você descreve os últimos dias que passou no Hawaii? Tem visto algo de bom?
Cheguei ao Hawaii há 15 dias. Este início de temporada de inverno em Oahu está mais para verão. As ondas estão com até 1 metro e muito vento. Durante o HIC, campeonato do circuito havaiano, um garoto de Big Island, filho de brasileiro (Ian Gentil), teve uma atitude nada gentil com as ondas durante as baterias.
Com seu surf moderno e veloz, ele foi muito elogiado. Fiquei orgulhoso desta molecada, que representa no surf e em outros esportes. Por exemplo, Keale Lemos e Konan Oliveira faturaram todas as espadas de samurai, o troféu do campeonato de jiu-jitsu local e, apesar da pouca idade, quebram no surf também.
Aproveito esses dias para surfar de SUP, pescar, e percorrer caminhos secretos à procura de ondas ou pesca. Sem usar muito o computador e sem sair nas baladas. Até agora participei de atividades e eventos locais, como o que teve no último final de semana no resort Turtle Bay. O Beach Clean up é realizado por um famoso clube de surf do North Shore e tem o apoio das maiores marcas.
Realizado há sete anos, o evento teve muita comida e música. Dezenas de toneladas de lixo foram retiradas das praias. Os organizadores vão mais além e já preparam-se para a chegada de uma grande quantidade de lixo dos destroços do tsunami no Japão. Eles estão vindo em direção ao Hawaii e devem chegar nos próximos dois anos. Já imaginou? É por isso que valorizo o povo havaiano. A pergunta é: quanto tempo duraria o Hawaii sem esse tipo de preocupação? Eles realmente tentam proteger o que eles têm, para que as gerações futuras possam desfrutar deste paraíso e nos também.
Você tem surfado muito de SUP, o que te fez aderir a essa modalidade?
Minha primeira vez no stand up paddle foi em 2004, no Bufallo Big Board Classic, em Makaha. Foi muito legal. Mas não consegui passar do primeiro round, pois neste evento não se usa cordinha. Acabei me saindo melhor no Longboard Internacional, onde cheguei até a semifinal.
No começo era mais uma forma de surfar, reviver a cultura dos antigos beach boys de Waikiki e completar para o currículo de Waterman. Mas hoje é minha prancha principal, tenho surfado com o apoio da GZero Tech, com o shape de Neco Carbone, muito elogiado neste ano no mundial em Maresias (SP). Já a laminação é The Krip, não tem como dar errado.
Você conseguiu uma vaga na triagem do mundial de SUP na Big Island?
Ainda não, o circuito mundial já tem Kai Lenny como campeão, então acho que se eu correr atrás não deve ser difícil. O que está pegando um pouco é a data, que vai do dia 26 deste mês ao dia 4 de dezembro. E o meu voo de volta para o Brasil é no dia 30 de novembro, então ainda vou ver se vale a pena. Seria bom fazer uma apresentação na Big Island.
Como anda o surf adaptado no Brasil? Você está envolvido em algum projeto deste tipo?
No Brasil tem muita gente focada no surf adaptado e temos o maior dos exemplos que é o Taiu Bueno, que voltou a surfar depois de 19 anos. Outro amigo também, o Careca, que sofreu um acidente de carro, ajudei a proteger uma de suas pranchas e agora ele ajuda os outros a chegarem no mar com segurança.
Esse é o principal objetivo do surf adaptado, terapia. Aqui no Hawaii, tive contato com a Acess Surf, que trabalha com crianças com síndrome de down, e uma outra entidade chamada Surfers Healing, que tem o mesmo objetivo.
No seu caso, quais são as principais dificuldades que você tem para surfar?
Há três meses sofri um acidente de moto em Santos (SP), não quebrei nenhum osso, mas fiquei com as articulações prejudicadas. Esta viagem serve bastante para minha recuperação e devo retornar bem melhor, acredito. Fora isso, normalmente tenho problemas com a velocidade para surfar de pranchinha, então o stand up tem servido muito bem.
Há um tempo você estava quase sendo reconhecido pelo Guiness Book como o menor surfista do mundo. Eles chegaram a te reconhecer oficialmente?
Por alguns anos eu corri atrás disso e teve uma época que baseei minha carreira nisso, entrar para o Guiness Book. Mas a impressão que tive é que tem tanta gente aplicando e querendo ser reconhecido, que o processo é extremamente complicado e uma grande burocracia. Hoje deixei isso um pouco de lado, porque para mim o recorde já foi reconhecido pela Surfing Magazine em 2004 e isso já basta pra mim.
Quais são os seus planos para o futuro?
É engraçado, pois nunca achei que isso poderia vir a acontecer na minha vida, mas em Santos fui convidado para ser pré-candidato a vereador pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), com o professor Fabio Nunes para prefeito.
Acho que eu como surfista, santista, e como já sou funcionário da Prefeitura de Santos, talvez essa possa vir a ser uma boa oportunidade. Quem sabe posso vir a ajudar em algumas questões que às vezes só quem está fora da política pode enxergar.
Deixe um recado para aqueles quem têm alguma deficiência física e gostariam de começar a surfar.
Acho que nada deve impedir nossos sonhos, principalmente aqueles que nos ajudam a ser felizes. O surf pode ajudar e muito, se precisarem podem contar com meu apoio. Também aproveito a oportunidade para agradecer a todos que um dia me apoiaram. Muito obrigado.