Uma obra que tinha por objetivo alargar a calha do rio que passa pelo Areião, vilarejo localizado no Sertão de Camburi, Costa Sul de São Sebastião (SP), provocou novo problema no local. Uma parte da mata ciliar – que protege as margens do rio – ficou comprometida e várias árvores foram derrubadas.
Depois de receber a denúncia feita pela Federação Pró Costa Atlântica para a Semam (Secretarias de Meio Ambiente) e Seop (Obras Públicas), o secretário Eduardo Hipólito do Rego, junto com a Defesa Civil e a Fiscalização Ambiental, esteve ontem no local para verificar de perto as reclamações.
As obras foram autorizadas pelo prefeito Ernane Primazzi depois de solicitação da Defesa Civil e como forma de melhorar o escoamento do rio e evitar novas enchentes como a registrada no feriado de Páscoa, quando a água subiu mais de dois metros e deixou dezenas de famílias desabrigadas.
“O trabalho de alargamento da calha do rio, com o objetivo de salvaguardar vidas, está excelente. Conversei com os moradores e eles contaram que havia lugar onde o rio era um lago e agora a água flui naturalmente”, explicou o secretário.
Mas o que teria chocado Eduardo Hipólito foi a supressão da vegetação nos locais onde foram depositados o material retirado do leito do rio, bem como a área onde a retro escavadeira foi apoiada para a execução do serviço.
“Ambientalmente falando, é estarrecedor o que se vê por aqui”, disse ele, acrescentando que vai pedir uma sindicância para apurar o ocorrido.
Conforme a denúncia da federação, em uma área de 900 metros lineares, aproximadamente mil árvores podem ter sido derrubadas, além da agressão à mata ciliar. Ontem, o comandante interino da Polícia Ambiental no litoral Norte paulista, tenente Fernando Druziani Gonçalves, explicou que havia uma autorização para mexer no leito do rio, a pedido da Defesa Civil, por conta de tratar-se de uma emergência.
Segundo ele, policiais ambientais estiveram no local e agora será feita a comparação entre a autorização dada e o que realmente foi executado no trecho.
Com relação à quantidade de árvores derrubadas, o secretário do Meio Ambiente de São Sebastião disse desconhecer o número. Mas afirma que durante a vistoria de ontem, observou que muitas teriam sido arrastadas pela forte correnteza proveniente da enchente ocorrida no feriado da Páscoa. “Estive nas casas dos moradores e vi até onde a água chegou. Foi muito grave o que aconteceu nesses bairros”.
Que o diga a doméstica Ana Lúcia Santana Nascimento, 29 anos, que há oito anos mora a pouco mais de cinco metros da margem do rio. Ela relatou que no dia da enchente teve que correr com seus familiares para a um abrigo. “Passei com água pelo pescoço para conseguir sair de casa”, comenta.
Recomposição Depois de sair do Areião, Eduardo Hipólito disse que foi pedido para que os trabalhos com a retro escavadeira sejam paralisados até o problema ser resolvido. Ele adiantou ainda que se reunirá com técnicos da Semam e engenheiros agrônomos para analisar a possibilidade de um projeto para a recuperação da mata ciliar atingida. “Quero ver quanto de muda existe no viveiro e o que é possível ser plantado no trecho”, antecipou.
Confira vídeo produzido por Leandro Saadi com imagens da área devastada antes e depois da obra.
Fonte Imprensa Livre
Foto de capa Aleko Stergiou