Octaviano”Taiu” Bueno -Surf mental

Otaviano Taiu Bueno

#Considerado um dos melhores big riders por ter consagrado o nome do Brasil no cenário do surf mundial, Octaviano Augusto de Campos Bueno, o “Taiu” – apelido dado pelo irmão mais velho, Totó – está emocionando muita gente com o livro “Alma Guerreira”, autobiografia que relata pensamentos e mensagens de esperança. O surfista ficou tetraplégico fazendo o que mais gostava. Mesmo assim, suas atividades são muitas e estão sempre ligadas ao surf. Taiu escreve, cria páginas na Internet, é presidente de uma associação de surfistas e já foi até candidato a vereador. Mora em um apartamento no Guarujá com a esposa Caroline, e a rothweiller Aloha, a “filha” do casal. Teve a oportunidade de conhecer boa parte dos paraísos do mundo enquanto exercia sua profissão: Hawaii, Peru, Austrália, África, Indonésia, Europa, Fernando de Noronha, Ilha de Trindade, Ilhas Reunião, Califórnia e tantos outros lugares que tiveram em suas areias, as marcas das pegadas deste eterno atleta.

Destino certo
Tudo começou na praia de Pitangueiras, Guarujá. Taiu tinha apenas 11 anos quando surfou a primeira onda em pé, ainda em prancha de isopor. A paixão pelo esporte foi instantânea e intensa, envolvendo-o para sempre.
Antes disso, o surfista conta que passava os finais de semana jogando pólo a cavalo com o pai na fazenda da família em Araraquara. “Era um bicho do mato, subia em árvores, nadava e jogava futebol”, conta. Aos 13 viajou com o avô para o Hawaii. “Foi uma experiência maravilhosa. Peguei ondas no South Shore, nos corais. Aí, eu pensei: Agora sou surfista”, lembra.
Aos poucos, Taiu foi se desvinculando da vida paulistana. Depois de estudar em um colégio semi-interno, entrou no curso de Direito da PUC, mas não conseguiu terminar. Sentia que o seu futuro estava diretamente ligado ao surf e precisava se dedicar ao esporte, viver perto do mar.
Ao completar 20 anos foi morar em Waikiki, no Hawaii, onde passou por uma triagem para competir profissionalmente. Conseguiu bons patrocínios e não parou mais. O surfista adquiriu grandes conquistas, prêmios e experiências. Após conquistar o 7º lugar no “Pro Class Trials”, em Sunset Beach, em 83, voltou para o Brasil e venceu o Campeonato Brasileiro em 84 e o título da etapa paulista em Ubatuba, em 86.
Em 91, já competia pela décima vez no Circuito Mundial, quando um acontecimento inesperado mudou completamente seus planos…

Valentia à toda prova
Exatamente um mês antes de completar 29 anos, no dia 1 de novembro de 91, Taiu sofreu um grave acidente que mudou radicalmente sua vida. Da onda mal completada na praia de Paúba, litoral norte de SP, o surfista que estava em sua melhor forma, só lembra do breu, da sensação de anestesia e da voz do amigo gritando seu nome. Taiu havia fraturado a quarta vértebra cervical e traumatizado a medula óssea.
Conseqüência: paralisia motora do ombro para baixo.
“Fiquei entre a vida e a morte na UTI do hospital, fiz cirurgias e fui submetido a uma traqueotomia para continuar respirando”, explica.
Foi um período de grandes dificuldades para um jovem que vivia se exercitando, totalmente independente e livre. Depois de um bom tempo hospitalizado, voltou para a casa dos pais. “A recepção foi ótima, muitos amigos me ajudaram e aos poucos fui me acostumando com a minha nova situação”, conta.
Com o passar do tempo, Taiu começou a sair de casa, passear e viajar, sempre acompanhado de muitos amigos. Em uma viagem para Florianópolis conheceu Caroline, com quem se casou. “É uma grande companheira. No momento ela está de férias”, diz. Junto com os amigos, Caroline auxilia Taiu no que ele precisa. “Mesmo com as adaptações pela casa, sou muito dependente”.
Todos os dias, Taiu faz fisioterapia em pé numa prancha ertostática.

O tempo não pára
Taiu continua trabalhando com o surf. Tem uma página sobre o esporte na Internet – www.taiusurf.com.br -, que informa as condições para a prática do esporte no Guarujá e no resto do mundo. É subeditor da revista Inside/Now e já escreveu para as revistas Fluir e Hardcore. O disk-surf não foi muito longe. “A idéia era ótima, mas por ser 0900 e não ter muita propaganda, não deu certo”, explica.
De acordo com o surfista, muitas vezes o dinheiro é curto. “Estou numa situação de luta pela vida, com muitas despesas e custos extras bem diferentes do padrão das pessoas em geral. A minha sorte é o fato de não estar sozinho”. Graças aos patrocínios da Hang Loose, Reef, Spy, Sthill e Bad Boy/No Fear, Taiu consegue realizar muitos projetos, como o livro “Alma Guerreira”, lançado pela editora CLR Balieiro. “É um trabalho realizado de coração e com muita emoção”. Ele conta que escreveu tecla por tecla no computador por meio de um palitinho na boca chamado “mouthstick”.
Taiu é o presidente do SMF – Surfistas Marchando para Frente -, movimento que tem o objetivo de unir dentro e fora d’água os surfistas brasileiros. “Essa iniciativa contribui para que os competidores brasileiros formem um espírito de time, no qual a camaradagem e o patriotismo mova-os para frente. O Brasil tem muitos surfistas bons. Se todos formarem um exército, o mundo ficará pequeno”, conta. Na diretoria, estão nada mais nada menos que os surfistas profissionais Fábio Gouveia, Renan Rocha, Peterson Rosa e Tadeu Pereira, além da participação mirim de Marcondes Rocha, um alagoano de apenas 15 anos. “Esse é o futuro do Brasil”, orgulha-se. Apesar da fatalidade, Taiu continuou sendo uma pessoa doce e interessada em aproveitar sua vida da melhor maneira possível, produzindo, trabalhando e, ainda, surfando. “Pratico o surf mental diariamente. O mais importante, além dos nossos cinco sentidos, é a fé que temos que ter”, afirma.
“O surf, até hoje, me passa uma energia alegre e positiva. Mesmo depois de ter me acidentado, não culpo o mar, nem a prancha, nem o esporte, nem Deus ou a vida pelo que aconteceu. Ao contrário, ainda amo a todos e continuo firme, surfando no meu oceano interior…”, finaliza.

Alma Guerreira: R$ 23, à venda nas surf shops e grande livrarias
ou pelo telefone 287-9857.

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