Christian Herzog

Olhar icônico

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Campeche, em Florianópolis (SC), pelas lente de Christian Herzog.

 

Não é difícil saber onde encontrar Christian Herzog em Floripa. Surfista e fotógrafo dedicado, ele bate ponto quase que diariamente entre o Campeche e o Riozinho, onde, ao longo dos últimos anos, vem colecionando muitos tubos e belos registros das ondas e das paisagens destes picos icônicos do surfe na ilha de Santa Catarina.

 

Há tempos, admiro a qualidade dos registros de Herzog, seja em sua busca pela luz mágica dos primeiros raios de sol nas fotos aquáticas, ou na combinação do visual das ondas com os demais elementos da paisagem, onde o surfe se une à cultura da pesca e formação rochosa da ilha do Campeche.

Na entrevista abaixo, o fotógrafo conta um pouco das suas motivações e impressões ligadas ao surfe e fotografia:

Como começou o seu envolvimento com o surfe e com a fotografia e em que momento eles se uniram?

 

Minha primeira prancha foi uma Gordon Smith com monoquilha removível, que ganhei de presente de minha mãe em 1986, aos 10 anos de idade. Meu primeiro surfe com ela foi na praia dos Ingleses, no verão de 86/87. Depois disso, foi “amor à primeira vista”. Como eu já andava de skate, o surfe foi o esporte que eu praticava nas férias de verão quando eu vinha para Florianópolis, para ficar na casa de minha vó, no Campeche. Eu sempre gostei de fotografia, e fotografava uma vez que outra de dentro e fora da água com a Kodak Sport, uma câmera descartável de filme.

 

Quando me mudei para Florianópolis, em 2001, meu pai me deu uma Canon T50 de lente intercambiável, o que mudou minha visão da fotografia e me fez avançar para o caminho da fotografia profissional, que na época ainda era com utilização de filmes diapositivos, também conhecidos como Cromos. Como eu vim para Florianópolis para mudar meu estilo de vida e surfar o máximo que podia, comecei a registrar alguns lineups e surfistas sempre que eu não estava surfando.

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Fotos de Herzog unem surfe à cultura da pesca, comuns em Floripa. Foto: Christian Herzog.

 

Você faz um trabalho constante de documentação das ondas e paisagens da praia do Campeche. O que mais te atrai neste pico e o que te motiva a seguir produzindo variações do mesmo tema?

 

O que me atrai no Campeche é a ligação que tenho com esta praia desde os anos 80, quando vim para cá pela primeira vez. Eu já conhecia as outras praias de Florianópolis, mas sempre gostei da quietude e mar bravio daqui. A ilha do Campeche é outro elemento que atrai, pois não é qualquer lugar do mundo que você tem uma ilha a uma distância relativamente perto (1.800m mais ou menos) e com natureza tão exuberante. Aqui, cada dia é um dia, então é difícil enjoar, já que um novo dia pode significar a melhor foto de sua vida.

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Florianópolis (SC) vista do alto. Foto: Christian Herzog.

 

Quais as suas lembranças mais marcantes de sessões de fotos e de surfe no Campeche? Num dia clássico, como você lida com o dilema de querer surfar e fotografar ao mesmo tempo?

 

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Christian Herzog em ação nas ondas da ilha. Foto: Guel Varalla.

As lembranças marcantes que tenho são com relação ao passado. Florianópolis, em si, era um lugar bem isolado, com poucos habitantes. E o sul da ilha era o lugar com menos pessoas, devido ao acesso ainda ser por estrada de chão batido. A única via asfaltada era a Av. Pequeno Principe. Nos anos 90, entre 1996 e 1998, lembro de ondas excelentes devido a uma combinação de bancada, direção de ondulação e vento. Depois disso, em 2005 e 2006, lembro também que deu outra combinação fantástica de direção de swell e vento, com um dia mais clássico que o outro.

O dilema de surfar x fotografar sempre existe, e logo que comecei a fotografar eu fazia o seguinte: acordava muito cedo para ser o primeiro a entrar na água. Depois da sessão de surfe, que durava no máximo uma hora e meia, eu saía da água e ia fotografar. Hoje em dia, depois de alguns anos de fotografia, já fico mais tranquilo em relação a isso. Eu sempre fui bem “fissurado” no surfe e, atualmente, estou mais surfando que fotografando, mas tento não perder os registros daqueles dias grandes e perfeitos, os dias épicos e históricos.

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Christian Herzog em ação nas ondas da ilha. Foto: Arquivo pessoal.

 

Quais são as suas maiores inspirações no surfe e nas artes?

 

Eu tinha 10 anos em 1986, e uma das primeiras revistas que comprei foi a Fluir edição histórica com a capa de prata, com muitas fotos do Hang Loose que rolou na Joaquina. Eu cresci vendo surfistas brasileiros como Fabio Gouveia, Teco Padaratz, Tinguinha Lima, Daniel Friedmann, Taiu Bueno, Ricardo Bocão, Cauli Rodrigues, Roberto Valério, entre outros, e eles eram minha inspiração, assim como os gringos Tom Curren, Tom Carroll, Mark Occhilupo, Derek Ho, Shaun Tomson e toda a geração que sucedeu eles.

 

Eu sempre ficava vidrado no estilo e nas manobras desse pessoal. Era muito inspirador para um adolescente skatista e surfista como eu. Nas artes, eu não tenho ninguém especifico, mas sempre me chamou atenção nos trabalhos feitos com o coração, que se destacam pela persistência de atingir algum resultado satisfatório para o autor, o que acaba refletindo e resultando em algo deslumbrante aos olhos do espectador, seja ele o autor ou não.

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Em seus trabalhos, Herzog traz diferenciais, como essa luz mágica dos primeiros raios de sol nas fotos aquáticas. Foto: Christian Herzog.

 

Se você tivesse uma verba ilimitada para produzir algum trabalho artístico ligado ao surfe, o que você faria?

 

Boa pergunta, nunca parei para pensar nisso. Talvez levar pessoas carentes ou que moram longe da costa para poder curtir um dia inteiro na praia e tentar conscientizar todos da importância que os oceanos exercem na vida da terra. Todos somos um, e todos dependem de um planeta livre de poluição, principalmente os micro plásticos que se transformam do lixo e acabam sendo ingerido pela vida marinha a acabam afetando toda a cadeia de reprodução da vida.

Conheça aqui mais sobre o trabalho de Christian Herzog.

Fonte: Surf & Cult

 

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O sol se põe em Florianópolis (SC). Foto: Christian Herzog.