Bateria a ser lembrada

Ou para ser esquecida?

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Coisa boa é ser lembrado por algum feito, recorde etc. Quando Romário fez seu gol 1000, a marca ficou lá e será lembrada pra sempre. Magrão, o goleiro do time que sou torcedor, Sport Recife, era quem estava lá para também ser lembrado para sempre como o cara que levou o milésimo do “baixinho”.

 

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Guardando totais proporções e feitos diferentes, relato aqui o dia em que o americano Shane Beschen bateu no surf o maior recorde de notas e somatórias. Foram três 10 em uma bateria, quando a somatória ainda eram as três maiores notas. O cara será sempre lembrado quando assuntos deste tipo vierem ao ar no meio do surf. E se o adversário dele em questão for lembrado, vou estar lá, tentando escapar de fininho da surra.

 

Foi assim que saí daquela bateria em Kirra, em 1996, por trás do backstage. Kirra reinava na Gold Coast. Suas ondas ainda vinham aleatórias próximas à curva, onde iniciava-se a baía. Não existia o aterramento que deu origem ao Superbank.

 

A plateia então ficava ali, bem próxima, em cima do calçadão e no morro onde fica a águia metálica com suas asas abertas. A cena chegava a ser cômica, coisa de baterias. Beschen, exímio tube rider da época, esteve conectado durante toda a disputa.

 

O cara sentava no outside com a prioridade. A onda vinha emparedava e seguia tubular por metros a frente. Com categoria, Beschen se colocava bem e ia passando sessões encoberto pelo rápido lip de Kirra. É preocupante quando se ouve um 10 de seu adeversário na primeira onda.

 

Mas em se tratando do pico, pode ser mais fácil para o oponente obter a mesma nota e voltar para a disputa. Esse era o caso de Kirra e, naquele momento, só penssei em esperar e também obter um tubo de nota máxima. Com certa demora nas séries, entro na primeira da série seguinte.

 

Escolha errada. O tubo não abre e logo depois Beschen acha seu segundo 10. Aí, ficou difícil, pois um 10 pode ser pouco, dois já é complicado. E depois viria um terceiro 10, o que seria demais. Não teve jeito, o cara ficou totalmente conectado.

 

E por mais que esperasse uma boa onda, ela não queria vir para mim. Nem mesmo no último momento para que eu tivesse, por exemplo, ‘um gol de honra’, pois numa série maior que entrou, o tubo não rodou. E Beshen ainda faria uma quarta nota alta, uns 9 e cacetada.

 

O feito do cara foi tão grande que nem deu espaço para zoação, pois fiquei na surdina e poucas vezes o adversário da surra foi lembrado, exceto pelos brasileiros que trabalhavam na própria ASP, Renato Hickel, Xandi Fontes, Robson Machado e Mano Ziul, que não perdoavam certas oportunidades de zoar, pois também eram constantemente zoados, como mostrado aqui no Waves no útimo vídeo (Xandi Fontes dando chazão em Hickel).

 

Minha prancha na época não estava boa. O bico era muito estreito e se eu me posicionasse à frente para o tubo ela não corria, afundava. Analisei isso depois da derrota, uma das piores que já tive, e rapidamente encostei o material.

 

Há males que vêm para bem e um entendimento do que estava usando melhorou. A prancha era até boa para beach break, pois eu tinha avançado a bateria anterior em Duranbah, execultando manobras rápidas, base lip elétrico, fruto de bico estreito, em boa parte do início dos anos 90 chamados de “needde nose”. Na época, o bico media menos que 11 polegadas. Hoje, por exemplo, uso 12. O que em prancha pequena, para tubos, é ótima para aceleração. Mas isso é outro capítulo… até a próxima.

 

 

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.