Juliana Freitas

Paixão taitiana

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Mais uma temporada no Taiti que se encerra. Esta foi a minha quarta passagem e confesso que para iniciar este artigo dei uma enrolada, pois é bem difícil voltar daquele paraíso e querer pensar em trabalho. Regressei ao Havaí há pouco tempo e somente agora criei coragem para pegar o ritmo. Agora posso dizer que já estou com as turbinas ligadas novamente e pronta para o trabalho.

O Taiti vai ser e sempre será para mim o lugar onde vou para me purificar. E como este lugar tem este poder… A todos que um dia sentirem que precisam dar aquela direcionada na vida em todos os sentidos, vão para lá. Deve ser por isso que tantos casais escolhem este lugar para a lua de mel, para já iniciarem com o pé direito (risos)! Sei que parece fácil fazer este convite, sendo que se trata de um dos lugares mais caros do mundo para se visitar. Mas vale cada centavo economizado, eu garanto.

Bom, vamos ao que importa. Vou ao Taiti desde 2006 e tenho a grande sorte de ter uma família que considero como a minha própria família. O amor e carinho que tenho por essas pessoas são gigantes, trato como família mesmo. Chamo o pai da casa de pai, a mãe de mãe e as minhas irmãs de irmãs. E sinto que o amor que tenho vindo deles é o mesmo. Só senti algo igual vindo dos meus próprios familiares. Eu me sinto quase uma taitiana quando estou com eles. Em dois meses na casa, o convívio foi tanto que o meu francês evoluiu muito e até um pouco de taitiano já sei.

Me enchi de tatuagens. Acredito que se eu morasse lá não teria espaço no corpo para mais, porque eu amo, e lá é cultural. Quase todos têm alguma tatuagem e praticamente todas têm um significado, o que é o meu caso quando me tatuo. Não faço por querer estar no estilo ou na modinha, para mim se trata de arte e tem todo um significado.

Comi muita comida taitiana e aproveitei para ler sobre tudo o que eu comia, inclusive prestei muita atenção na forma como eles comem, aproveitando para melhorar ainda mais a minha forma de me alimentar. Todos acham que os taitianos são super saudáveis, né? Por terem um porte grande e aparentarem uma saúde de ferro. Bom, a maioria se engana. A maioria das famílias de Teahupoo, que foi onde eu fiquei, não se alimenta nada bem. Eles dão prioridade a comidas industrializadas, muitos carboidratos, quase nada de frutas e vegetais, muito açúcar e refrigerante.

Eu cuidei muito da minha alimentação lá, pois se eu continuasse me alimentando como eles provavelmente voltaria realmente da mesma forma. Eles contam com uma grande variedade de frutas e vegetais prontinhas para serem colhidas ao seu redor, mas amam ir ao “Magasin” (mercadinho que tem a 1,5km de Teahupoo), e como amam.

Notei que os peixes lá diminuíram um pouco, e o pai inclusive me disse que antigamente era muito mais farto. Ele trabalhava pescando peixes, hoje em dia está aposentado por problemas de saúde. Hoje ele tem diabetes, uma doença que afeta grande parte das pessoas no mundo todo. A mãe tem problemas cardíacos. Tentei alertá-los sobre a alimentação e que o pai e a mãe iriam piorar caso não mudassem a alimentação, mas eles amam comer e quando se trata de ter uma dieta específica são poucos realmente que conseguem seguir com foco, principalmente por serem famílias humildes.

Os taitianos são bastante abençoados com dois dos melhores alimentos no mundo todo – o côco e o noni. Para quem não conhece os benefícios destes dois alimentos, peço para que deem uma pesquisada e saibam as maravilhas que eles fazem, e foi exatamente usando esses dois alimentos que eu iniciei o meu processo de limpeza no Taiti.

Cheguei na ilha com um ombro bem lesionado de um tombo que sofri em dezembro do ano passado, fazendo snowboarding, e já estava desesperada por não curar nunca. Acreditem, eu estava fazendo e usando tudo que o vocês possam imaginar, mas nada melhorava. Usando esses dois alimentos e comendo o máximo que pude saudavelmente, posso dizer que me curei. O meu ombro não dói mais, meu organismo está tinindo e de brinde fiquei com os cabelos e pele que estão uma beleza.

É uma pena eles não usarem tanto esses alimentos. Acredito que não usem tanto por terem enjoado de comer sempre coco. E o noni, que na realidade pode ser considerado mais como um medicamento do que alimento, apesar de ser uma fruta – o gosto é bem ruim. E tomava noni todos os dias e não era fácil, pois o cheiro é horrível e o gosto também, mas quando se trata de conseguir algo que quero muito eu sou focada. No caso, queria meu ombro bom para aguentar as bombas de Teahupoo, que são muito pesadas. Quem já surfou lá sabe bem do que eu estou falando.

Tive a oportunidade de assistir a uma etapa do campeonato mundial de bodyboarding, meu esporte amado, e ver todos atletas mandarem super bem, mas meus olhos ficaram no atleta Cedrik Estall, taitiano que estava até pouco tempo sem prancha e sem surfar por falta de incentivo e patrocinadores. Fiquei sabendo que um outro amigo meu, o Tahurai, que também 

é atleta, alguns dias antes do campeonato emprestou uma prancha a Cedrik. Eles conseguiram o valor da inscrição dando seus pulos lá e cá, e fizeram com que ele competisse, chegando à final. Depois disso ele conseguiu fechar com alguns outros patrocinadores e irá competir algumas etapas do Mundial, mas ainda falta mais ajuda para fazer o Tour completo. Inclusive farei outra matéria falando somente sobre ele.

Aproveitei também para aprender a cozinhar outros pratos típicos de lá, pois amo a comida taitiana e gosto de comer quando estou em casa também. Contemplei muito a natureza e os animais, aliás, alguns (risos), brigando algumas vezes com os galos que cantavam em minha janela todos os dias. Tadinho deles, nada contra, mas era uma sinfonia entre irmãos, ali havia ao menos uma família de cinco que parecia se comunicar. Esse papo começava às 3 da manhã e algumas vezes ia até 10. Em certos dias em que estavam querendo conversar mais, iam até duas da tarde (risos). Cheguei a desejar um estilingue algumas vezes (risos)! Tadinho dos galinhos, mas descobri que gosto mais dos patinhos, que eu ficava dando um pouco de coco quando comia enquanto eu olhava as ondas. Fiz muito exercícios e surfei. Aliás, esse foi o motivo principal da viagem, né? Já estava até parecendo aqueles artigos de revista feminina (risos)!

Bom, vamos ao que interessa! TEAHUPOOOOOO…. A minha onda favorita em todo o mundo, algumas vezes fico na dúvida se ela é a número 1 ou Pipeline. Resumindo, as duas são de dar medo em qualquer um e super perigosas, mas Teahupoo considero a rainha, por ter todo aquele glamour ao redor, com aquelas montanhas maravilhosas como se fossem seus fiéis súditos contemplando ela quebrar.

Como Teahupoo é linda e como ela dá medo também… A onda é tão fotogênica que, mesmo se você não souber surfar igual a um surfista profissional, você ainda terá possivelmente a foto da sua vida se conseguir registrar o momento.

Este ano considero que não foi um dos melhores de onda em Teahupoo. Acredito que o El Niño não ajudou muito, pois choveu bastante e ventou também. Considero que fiquei mais tempo dentro de casa do que fora surfando, o que foi muito bom para mim também, pois com meu ombro lesionado isso ajudou também na recuperação. Quando surfo muito, dói. O tombo que tive machucou, mas acredito que todos estes anos surfando de bodyboarding me deram algumas lesões que só estão aparecendo agora.

Falando em tempo, essa foi a primeira vez em que eu passei o meu aniversário em Teahupoo. Todas as vezes eu ia para lá na mesma época e voltava antes do meu aniversário, pois sempre tentava passar com os amigos. Este ano pensei diferente. Não rolou de voltar ao Brasil a tempo e eu gostaria de passar com pessoas que amo de verdade. Pronto! Fiquei um pouquinho a mais no Taiti e passei com pessoas que são a minha segunda família.

Estou feliz com isso e vou completar 30 e pouquinhas velinhas (risos)! Agora entendo por que a minha mãe sempre escondeu a idade. Nós, mulheres vaidosas, começamos a sentir quando a idade vem chegando. Brincadeira, eu nunca escondi a minha idade, pois sinto que idade são somente números e não me sinto velha em nenhum sentido. Vejo que estou em uma de minhas melhores formas e gosto muito mais de mim agora, com 34 anos, do que quando tinha 18.

Teahupoo é o meu paraíso e eu irei sempre voltar. Se me perguntarem qual o seu lugar favorito no mundo todo para surfar eu direi Teahupoo. Agora, se me perguntarem qual e é o mais bonito e melhor para se conhecer, vou te responder: não tem um lugar mais bonito ou melhor, cada lugar tem a sua beleza e cabe a você saber apreciar com os seus olhos e admirar o que cada lugar tem para te oferecer. E acredite, todos os lugares são mágicos e têm algo maravilhoso a te oferecer. Quem faz o lugar é você. Maruru!