Swell punk

Páscoa salgada na Paúba

Paúba, São Sebastião (SP)

Acordei na última sexta-feira e antes de qualquer coisa fui ao computador. Estava ansioso para saber como havia se comportado a ondulação que vinha na direção do Sudeste do país. E ela estava lá, imponente e majestosa. Viria no sábado, gigante, com sol e previsão de vento ameno. Não sabia o que fazer. Fotografar o swell em Ubatuba ou aceitar o convite de uma amiga cinegrafista e ir para São Sebastião fazer o circuito Maresias-Paúba. Decidi ir. Afinal, Ubatuba não segura ondulações desse porte e eu teria que fotografar em picos alternativos.

Queria registrar ondas grandes de verdade. Saímos de Ubatuba umas 10 da noite, meia noite e meia chegamos. Dormir foi quase impossível e na primeira hora eu já estava na praça de Maresias. E lá estavam elas. Na frente da praça, 3 metros de onda, ninguém na água. Do meio para o Moreira, ficou difícil medir o tamanho das ondas. De face, no mínimo, 5 metros, esse era o consenso. Algumas duplas faziam tow-in nas bombas deixando pasmos os interioranos e haoles de toda sorte, que boquiabertos e desacostumados com tamanho espetáculo, soltavam suspiros a cada série. Maresias figurava como protagonista, em plena Páscoa, de um dos mais belos eventos da natureza e suas areias eram como arquibancadas. E eu fotografava tudo.

De repente, uma voz me acordou: e aí, brother, bora pra Paúba ou vai ficar ai parado olhando o mar feito os caipiras? Bora, respondi. As notícias eram de que dois surfistas de Camburi estavam remando em direção à laje que existe entre Paúba e Maresias. Realmente eu havia visto essas ondas do deck da praça, mas duvidei de que alguém fosse lá pegá-las, ainda mais na remada. Cheguei a Paúba, um deles estava no inside, sozinho, o outro ainda remava e já estava a mais de um quilômetro da areia. Esse cara, que até agora não sei quem é, me impressionou.

Para fotografar a laje, subi no morro do lado direito da praia. Eu queria tirar foto de onda grande, mas não imaginava o que iria ver. As rainhas tinham 5 metros e nenhuma piedade. Vinham varrendo tudo, mas estavam surfáveis. E o cara lá, bem no line up. Faltava equipamento, sobrava disposição e coragem. Ele remava em bombas inacreditáveis e só não entrava por falta de prancha. Fiquei lá em cima por uma hora e a cada série ele virava e não conseguia velocidade para entrar. Saiu lá em Maresias, no canto direito e até agora ninguém sabe exatamente quem era. No fim da tarde, duas duplas de tow-in apareceram no pico e pegaram algumas das ondas mais perigosas que já vi alguém surfar. O cara no inside da Paúba era o Ronaldinho de Camburi. Ele pegou uma só, bem na hora em que eu estava fotografando a laje. Um tubo seco para a direita, lá de cima, ouvi só a gritaria e os assovios. No final do dia, o Leste entrou forte e os bodyboarders da área mostraram disposição e conhecimento para encarar as ondas da Paúba.   

Eu avisei Era sexta-feira da paixão e a minha editora – trabalho para o único jornal diário do Litoral Norte de São Paulo – ligou para saber qual seria a reportagem do dia. Respondi que notícia com parecer de órgão oficial ia ser difícil. Em nosso país, qualquer ponto facultativo é motivo para o “Poder Público” ficar em casa de chinelo. Mas disse que uma ressaca de grandes proporções iria atingir o litoral paulista e que seria de grande valia informar e alertar a população e os turistas. A previsão era de tempo bom e mar storm, uma combinação muito perigosa quando associada aos feriados.

Para falar a verdade, não me levaram muito a sério, mas o texto ia entrar. Falei com o Corpo de Bombeiros da região, que me atendeu de forma impecável enviando uma nota oficial, assim como a defesa civil de Ubatuba, que disse, assim como os bombeiros, estar em estado de alerta. Enfim, como estive em Ubatuba durante a sexta-feira e fui à Maresias no sábado de madrugada, pude verificar a irresponsabilidade e a falta de respeito de dezenas de pessoas em relação ao mar revolto.

Assim como em cidades litorâneas do exterior, as praias brasileiras expostas às grandes ondulações, deveriam ficar fechadas para o banho nos dias de ressaca, com detenção de quem desrespeitar. Acredito que dessa forma, iremos evitar as centenas de afogamentos e dezenas de mortes que foram noticiadas nos últimos dias.

 

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